20 artistas no palco para 96 espectadores
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de agosto de 1985
Dez minutos após o show da quarta-feira última, Maria Nilce, administradora do Projeto Pixinguinha, adentrou o camarim da cantora Célia e comentau: Pronto! Já fiz minha parte: nunca fechei um borderaux tão rapidamente. Afinal, foram apenas 96 espectadores...
O cometário da experiente administradora de projetos musicais da Fundação Nacional das Artes, acostumada a ver sempre casas lotadas em todas as cidades às quais o Pixinguinha tem sido levado, não deixava de confirmar, melacolicamente, a triste realidade: Curitiba estará como o grande destaque no Pixinguinha-85, como a cidade em que o fracasso foi total.
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Convenhamos que realizar um show que mobiliza mais de 30 pessoas, entre artistas e estrutura, para entreter menos de 100 pessosas num teatro de 2.200 lugares, é dose pra leão. Um espetáculos que afinal reuniu bom grupo instrumental local, acompanhando o compositor, tecladista e violonista Chico Mello; o jovem compositor e cantor baiana Alcivando Luz; a ótima cantora Célia; e mais duas glórias da MPB tradicional - Nora Ney e Jamelão. Exatamente 94 espectadares, na sessão de quinta-feira do Projeto Pixinguinha o menor número desde que o projeto foi iniciado, dia do corrente, com o desastroso show de Elza Soares e João D'Aquino, no auditório da Reitoria.
Todos perdem com isso! Os artistas sentem-se, naturalmente, frustrados e humilhados, cantando para um teatro vazio. A Funarte, idealizadora e coordenadora do projeto, vê as estatísticas nacionais reduzidas prejudicando a justificativa da continidade do projeto junto à Petrobrás (que promociou a edição-85); e, naturalmente, os artistas locais, que poderiam contar com uma "janela" nesse projeto, mas que se apresentam para menos gente do que aquele público que, os costuma, fraternalmente, prestigiar, nas temporadas individuais, nos teatros da cidade.
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Inútil, sequer, insistir, nas razões do fracasso: falta de estrutura e de divulgação, e horário inconveniente (o projeto foi concebido para iniciar-se às 18,30 horas e não às 18 horas, como direção da Teatro Guaíra exigiu, alegando "comprometimento" do palco com os espetáculos das 21 horas. Muito melhor teria sido se a Funarte realizasse o programa em outra sala, com outro órgão co-patrocinador, em termos regionais (o Sesi, por exemplo, que dispõe de um bom teatro de 800 lugares, na Avenida Cândido de Abreu:, ou na própria Reitoria). Infelizmente, o parceiro da Funarte nesta trágica aventura foi a infeliz Secretaria de Estado da Cultura e Esporte. O que cxplica e justifica porque a o Projeto Pixinguinha, em Curitiba, deu no que deu: o maior fracasso do ano.
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