Apesar dos oscarizáveis, o Romance de Sérgio permanece
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de abril de 1988
Nas duas primeiras semanas, mais de 20 mil espectadores já foram assistir "O Último Imperador". Também "O Império do Sol" está com renda máxima nos Cines Astor / Cinema I e tanto "Atração Fatal" (Lido I) como "Feitiço da Lua" (Condor) continuam com faturamento ao redor de Cz$ 1 milhão por semana.
Os ingressos subiram para Cz$ 200,00 mas nem por isto as filas diminuem. Ou seja: filmes atraentes, bem promovidos, têm público. Como a pirataria está meio assustada, nenhuma locadora-canalha se arriscou até agora a alugar cópias piratas destes filmes. As distribuidoras montaram um esquema preventivo que dará cadeia para os gananciosos e hipócritas exploradores de locadoras de vídeo que se atreverem a operar com os filmes "oscarizáveis". Aliás, há meia dúzia deles - alguns bastante conhecidos, que estão na mira do Concine e da Política Federal, pois insistem em trabalhar com as chamadas "cópias alternativas".
Mas é na tela ampla, na magia do cinema como convém, que os filmes de Bertolucci, Spielberg, Jewinson e Lynne faturam bastante. São filmes importantes, bem realizados e que merecem sucesso.
No ano passado, a Fucucu encheu as burras de dinheiro quando "Platoon", de Oliver Stone - o filme de maior bilheteria de 87 - saiu de cartaz do Plaza e passou para o Ritz, onde permaneceu por três meses. A 20th Century Fox pretendia fazer o mesmo este ano: como a renda de "Nos Bastidores da Notícia", de James L. Brooks, nas três primeiras semanas não justificava que o mesmo permanecesse no cinema da praça Osório, a opção natural seria passar para o Ritz. "Broadcasting News" ainda tem um público numeroso e poderia ficar até mais um mês no Ritz - o que enriqueceria, sem dúvida, a Fucucu que aliás, já tem sólidos lucros com os três cinemas que explora.
Entretanto, por uma estupidez difícil de se entender, a Embrafilme decidiu "desovar" o filme de Sérgio Bianchi no Cine Ritz, ali estreando "Romance", na quinta-feira, 13, em plena temporada de Oscars. Claro que a bilheteria está sendo fraquíssima. "Romance" é um filme brilhante, criativo - em nosso entender um dos melhores do ano. Mas assim como "Maldita Coincidência", do mesmo diretor (e que há alguns anos inaugurou o Cine Groff) trata-se de um cult movie destinado a platéias especiais e não para ser "queimado" numa temporada em que o público quer é ver os filmes nominados e premiados com o Oscar.
"Romance" só não saiu de cartaz (continua em exibição, 5 sessões por dia) porque Serjão, no alto de seus 1,90 metros, não é de brincadeira. Já disse que, se anteriormente, a Fucucu protegeu outros filmes nacionais, mesmo com rendas negativas, exige tratamento igual. E "Romance" continuará sendo projetado, com chance inclusive de subir, pois a propaganda boca-a-boca, chegando a uma platéia liberal e inteligente, pode resultar na ascensão de bilheteria. E a Fucucu não tem desculpa nenhuma para retirar o filme de cartaz: a sua finalidade não é apenas o lucro. Sérgio Bianchi é paranaense de Ponta Grossa, viveu em Curitiba e veio rodar "Romance" em nossa cidade. Merece prestigiamento. Se os burocratas da Fucucu se atreverem a interromper a exibição de "Romance", Serjão tem todo o direito de esbravejar, gritar e brigar. Cobertura não lhe faltará.
"O Pequeno Príncipe" - Publicado em 1943, "Le Petit Prince", de Antoine de Saint Exupery (1900-1944), é um dos mais conhecidos livros do mundo. Promovido a "leitura oficial de Miss" - no tempo em que os concursos de beleza tinham maior projeção, a lírica e profunda parábola de Saint Exupery é, realmente, uma obra fascinante. Em 1974, Stanley Donen encomendou a Alan Jay Lerner e Frederick Loewe uma versão musical da história do piloto que encontra o pequeno príncipe num deserto e, com ele, estabelece um fascinante relacionamento.
Com coreografia de Ronn Forella e Bob Fosse - também intérprete do personagem "A Cobra", fotografia de Christopher Chalis, "The Little Prince", com Richard Kiley como o piloto e o garoto Steven Warner (que não fez carreira) como o personagem título, mais Gene Wilder (a raposa) e Joss Ackland (o rei) foi um filme belíssimo. Infelizmente nunca teve reprise (foi lançado no Condor em dezembro de 1975) e espera-se sua apresentação pela televisão (para copiar em vídeo) ou mesmo o lançamento em vídeo selado.
Entretanto, há 4 anos, um cineasta francês, Jean Louis Ghuilhermou também fez uma versão da mesma história. Com atores desconhecidos - Joy Gervis, Daniel Royan e Alexander Werner - "Le Petit Prince" francês já foi importado para o Brasil por Álvaro Pacheco, então na euforia da Artenova Filmes (havia ganho bilhões de cruzeiros com "O Império dos Sentidos" e "O Dia Seguinte"), que trouxe vários filmes ao Brasil. Pacheco acabou desativando a Artenova e esta versão de "O Pequeno Príncipe" nem teve lançamento. Assim, de repente, Chico Alves - que vem tentando desovar os filmes daquela empresa, conseguiu a cópia e a está exibindo, desde ontem, no Luz.
Reprises - No Groff, é reprisado "Primeiras Carícias", um filme de fotografia belíssima, realizado por David Hamilton, mestre inglês das imagens enfeitadas por filtros e que com "Billits" (inédito no Brasil) fez escola, em termos de fotografia. Com uma história erótica - o despertar do sexo entre jovens numa fazenda, na França, em 1939 - e muita ternura, "Primeiras Carícias" é agradável e bonito, que merece ser revisto.
Outra reprise que tem sempre público: "Blade Runner - Caçador de Andróides", de Riddley Scott. Cult movie, com belíssima fotografia de Jordan Cronenweth e efeitos especiais de Douglas Trumbull, música de Vangelis (editada no Brasil pela WEA), é fascinante. Com Harrison Ford, o holandês Rutger Hauer (que fez carreira nos EUA) e a bela Sean Yong (vista recentemente em "Sem Saída"), "Blade Runner" merece ser revisto em tela ampla - embora já haja o vídeo selado. A propósito, também lançado, em vídeo selado, o primeiro filme dirigido por Riddley Scott, o praticamente inédito "Os Duelistas" (foi exibido apenas uma semana, no Cinema I, há quase 10 anos). "Blade Runner" voltou em exibição no São João.
No mais, sem mudanças maiores nos cinemas (embora o filme do Lido II possa trocar, inesperadamente, amanhã), mantendo-se os que estão faturando bem, inclusive os terroríficos "Criação Monstruosa" (Plaza) e "A Hora do Pesadelo 3" (Itália).
No Groff, amanhã à meia-noite e domingo, às 10:30 horas, volta "Ran", de Akira Kurosawa. A propósito: quando é que o Chico Alves vai cumprir a promessa e relançar normalmente "Vidas sem Rumo", de Coppola e "O Exército Inútil", de Robert Altman, que, semanas passadas, sacrificou nas incômodas sessões extras do Groff?
Última Hora - Já fechamos esta página, quando o atencioso Lúcio, gerente do Palace Itália, comunicava uma substituição inesperada: "Seduzida ao Extremo" (Extremities", de Robert Young, com Farrah "Pantera" Fawcett, James Russo, Diana Scarwid e Aldred Woodar. Sem maior referências, a conferir, pois!.
LEGENDA FOTO - Harrison Ford em "Blade Runner": um cult movie sempre com público fiel. Em reprise no São João.
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