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Aramis

Artigo em 26.01.1982

xxx João Maranhão apareceu nos últimos dois anos, tentando uma brecha nos festivais de televisão e propondo composições próprias. Lutador, mesmo ainda sem ter conseguido um espaço maior, fez agora na Copacabana um elepe-amostragem, com 10 músicas próprias – quase todas em parceria com Amaral Maia. É difícil julgar, por este primeiro disco, o seu trabalho. Como todo compositor estreante, Jota Maranhão mostra uma vontade de provar a sua criatividade, numa enxurrada de músicas que se confundem algumas vezes. Entretanto merece ser anotado para conferir no futuro, pois se tiver garra para resistir nesta selva que é a luta pelo espaço na MPB, Jota Maranhão terá condições de se definir por novos rumos. Entre as dez músicas deste primeiro lp, destacam-se “Agras Passadas”e “A Beira do Sol”.   xxx   O Nosso Samba, grupo de sambistas carocas, anda desaparecido, Os Originais mantém o seu público- mesmo sem a participação do hoje trapalhão Mussum (e fazendo discos-solo, destinados às crianças, enquanto o Exporta Samba não soube capitalizar o sucesso que fez no MPB-Shell-80. Portanto, o grupo Fundo de Quintal, surgido do bloco carnavalesco Cacidque de Ramos, pode tentar também entrar na raia. Teve ajuda de Beth Carvalho e em pouco tempo, já fez dois elepes, - “Samba é no fundo do quintal”(RGE, 308.6014(; cujo segundo volume traz, por exemplo, um “Sonho de Valsa” da excelente dupla Wilson Moreira/Nei Lopes, onde como música incidental aparece o enternecedor “Boa Noite, Amor”(José Maria Abreu/Francisco Matoso). Outro bonito momento é o “Resignação” de dona Yvone Lara/Hélio dos Santos, enquanto Nei Lopes – deixando momentaneamente Wilson Moreira, divide com Zé Luiz a autoria de “Minha Arte de Amar”. Igualmente deve se prestar atenção em “Doce Refúgio”(Luiz Carlos da Vila) e “Ser Poeta” (Zere/Rivelino/Ibraim). O disco é completado com “Bebeto Loreria”(Tião Pelado), “Amarguras” (Zeca Pagodinho/Cláudio dos Santos), “Sá Janaína”(Almir Guineto/Luverci/Wilder), “Melhor para Dois” (Arlindo Cruz), “Suborno”(Sereno/Sombrinha), “Vai Por Mim” (Sombrinha/Adilson Vitetor) e “Entre Confiante” (Paulo Negrão do Salgueiro).   xxx   Depois que o magnífico “Luíza”, uma das mais belas músicas de 81, na voz de seu autor – Antonio Carlos Jobim, entrou na abertura de “Brilhante”, ninguém mais pode reclamar da qualidade das trilhas sonoras da Globo. E também “Jogo da Vida”, novela de Silvio de Abreu, traz uma bem selecionada banda musical, com faixas extraídas dos lps de Zizi Possi (“Eu velejava sem você”), Ivas Lins (“Daquilo que eu sei”) e Roupa Nova (“Clarear”), contratados  da Polygram – etiqueta há 3 meses sem nenhuma promoção em Curitiba devido a incompetência de seu representante/divulgador local em tratar com a imprensa. Pelo menos graças a inclusão destas faixas na telenovela da Globo,  Ivan, Zizi e o Roupa Nova não sofrem o que está levando pro brejo os discos de dezenas de artistas da Polygram: a ausência de promoção dos mesmos nos veículos de divulgação. Na trilha sonora nacional de “Jogo da Vida”, lançada pela Sigla/Som Livre, há por exemplo a belíssima composição de Paulinho da Viola “Onde A Dor Não Tem Razão”, “A Tarde” e com Olívia  Hime, “Vida Vida” com Ney Matogrosso, “Alto Astral”com a Cor do Som – ao lado de duas faixas de produções independentes – “Lua de Cetim”(Leila) e “Grande Amor” (Denise Emmer). Há anos ausente do panorama fonográfico , o correto Silvio César está voltando a ser ouvido desde a sua “A Mais antiga profissão” também entrou na trilha de “Jogo da Vida”, onde se ouve ainda Biafra (“Vinho antigo”), Wando (“Coração Cigano”), Marina (“Gata Todo Dia”) e Junior e Mariana (“Café na Cama”).   xxx   Uma importante contribuição que Chanteclet/Continental vem prestando a cultura popular é o registro de cantores e repentistas do Nordeste. Artistas do povo, com impressionante capacidade de improvisar e versejar,  os cantadores que vêm gravando pela chantecler merecem ser ouvidos por quem sabe entender a importância deste tipo de manifestações populares. Se muitos cantadores históricos nunca tiveram oportunidade de gravar discos, felizmente agora – com a salutar presença da música não urbana dentro das programações das gravadoras, há possibilidade de se conhecer no Sul os repentes e improvisos que [encantam]  nossos irmãos do Norte.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Jornal da Música
26
26/01/1982

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