Artistas são usados em jogadas políticas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de agosto de 1985
Nada menos do que 12 respeitáveis nomes de vida artística do Paraná foram manipulados, política e demagogicamente, pela Secretaria de Estado da Cultura e do Esporte, que, assim, também desrespeitou toda a comunidade ligada a nada menos que quatro entidades de classe. Ao solicitar às entidades que fizessem indicações de listas tríplices para delas ser escolhida o nome que substituiria Oracy Gemba no cargo de diretor-superintendente da Fundação Teatro Guaíra, a Secretaria da Cultura (?) procurou esvaziar a revolta que as arbitrárias demissões, ocorridas em maio último, provocaram nos meios culturais do Estado. A brutal demissão de Iara Sarmento da Diretoria de arte e Programação, seguida da exoneração de Gemba, uma semana depois, revoltou os artistas e, para tapar o sol com a peneira, a Secretaria solicitou que a Associação dos Produtores em Artes Cênicas, o Sindicato dos artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões do Paraná, e a Federação Independente do Teatro Amador do Paraná encaminhassem listas tríplices com nomes que julgavam em condições para o cargo de superintendente, uma vez que para a vaga de Iara Sarmento, havia sido nomeada, sem qualquer consulta à categoria, a sra. Dudu Barreto Leite.
Passaram-se três meses e não houve escolha, permanecendo o cargo vaga. Entretanto, o mais grave aconteceu no início da semana: o secretário da Cultura declarou, em entrevista na televisão, que ainda não havia feito a nomeação (embora tivesse prometido fazê-la no prazo máximo de um mês), por que "nenhum dos nomes indicados preenche os requisitos exigidos". Ou seja, tachou de incompetentes e despreparados os nomes indicados, em mais uma prova de desconsideração para a classe artística do Paraná tão humilhada e massacrada, nesse infeliz governo José Richa.
A Associação dos Produtores de Artes Cênicas e o Sindicato dos Artistas c Técnicos em Espetáculos Diversões do Paraná deverão reunir-se na próxima semana para, possivelmente, em assembléia geral, aprovar mais uma nota de repúdio à Secretaria da Cultura, pala manipulação política dessas entidades e desrespeito aos respectivos associados que especial da lista e que foram claramente tachados de incompetentes e despreparados para a função de superintendente da Fundação Teatro Guaíra. A Associação dos Produtora havia indicado os nomes dos produtores e atores José Basso, Ailton Silva (o Caru) e Roberto Menghini. Já pelo Sindicato dos Artista e Técnicos em Espetáculos e Diversões do Paraná, em movimentada assembléia, foram escolhidos os nomes do ator e diretor Aloísio Querobim (ex-presidente e fundador daquela entidade), Christo Dikoff, ator e assessor do Teatro Guaíra, e Glauco Souza Lobo, atual diretor-executivo da Fundação Cultural de Curitiba e que na época postulava ser nomeado para a presidência do Instituto Nacional de Artes Cênicas (para a qual acabou indo o carioca Carlos Miranda). José Basso, 43 anos, 27 de teatro, presidente da APAC, encabeçou também a lista da Federação Indenpendente do Teatro Amador do Paraná, da qual constaram, ainda, as indicações da respeitada Nitis Jacom, médica e diretor a de teatro (que desenvolve em Londrina admirável trabalho e Jair Pereira, presidente da Fitap e que faz teatro em Cascavel. A Associação dos Músicos Profissionais do Estado do Paraná também aprovou, em assembléia geral, uma lista tríplice, entregue ao próprio governador José Richa, que, na ocasião, prometeu que a ela seria considerada. Dela faziam parte o músico Dario Livino Juarez e o maestro Osval Siqueira Dias (presidente da entidade) mais o músico e jornalista Carlos Augusto Gaertner, apoiado pelas bancadas do PMDB tanto da Câmara como da Assembléia Legislativa.
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Assim, diretamente, foram agredidos pelas infelizes declarações do secretário da Cultura e Esportes (sic) nada menos que 12 pessoas, todas merecedoras de respeito e consideração. O governador José richa e o secretário da Cultura e do Esporte (sic) têm, naturalmente, o direito de escolher, para um cargo de confiança como é a superintendência da Fundação Teatro Guaíra, a pessoa que lhes aprouver (e consta que esta seria o jornalista Antonio Carlos Lacerda, o "Caco", autor de várias comédias). O que não deve acontecer, entretanto, é esse desrespeito às entidades de classe, convocadas para a elaboração de listas com [indicações] que no final das contas não são consideradas e ainda os nomes lembrados são tachados de incompetentes.
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De tudo isso, um fato curioso: na época das indicações de nomes para o cargo de diretor-superintendente da Fundação Teatro Guaíra, os integrantes da Orquestra Sinfônica do Paraná (Osimpa) também realizaram uma assembléia para proceder à indicação, surgindo, então, o nome de Leonel Amaral, advogado, ex-diretor (durante mais de 20 anos) do Santa Mônica Clube de Campo e há dois anos na direção administrativa da Fundação Teatro Guaíra. Será que Leonel também está na relação dos que "não preenchem os requisitos", conforme disse o secretário da Cultura e do Esporte do Paraná?
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