Caminhos musicais da nova geração (I)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de maio de 1980
Há 13 anos, quando foi convidado para integrar o juri do primeiro Concurso Nacional de Contos, lançado no início da administração Paulo Pimentel, o professor Bento Munhoz da Rocha Neto (que havia concorrido também ao governo do Estado) aceitou elegantemente (como era sua característica) a missão, afirmando que o exame de centenas de textos enviados por escritores de todo o Pais, atraído pelos excelentes (na época) prêmios oferecidos, permitira << sentir o pulso da criação literário do Brasil >>. A afirmação do professor Bento nos ocorre agora, após 20 horas, ouvindo 227 músicas inscritas para II Mostra de Música Popular Brasileira de Londrina, para selecionar as 40 que serão apresentadas entre 13 a 15 de junho, no Cine Teatro Universitário Ouro Verde, naquela cidade. Uma comissão formada por 7 pessoas - quatro profissionais ligados à produção e três à pesquisa e jornalismo musical - passou a noite de sexta-feira e todo sábado, até às 24 horas, no salão de convenções do Hotel Bourbon, ouvindo as fitas enviadas por candidatos de várias cidades. E só com boa vontade, foi possível selecionar as 40 canções exigidas no regulamento para serem mostrando ao público, nesta mostra idealizada no ano passado, por um grupo de idealistas e entusiastas estudantes do curso de Comunicação da Universidade Estadual de Londrina. Mais de 80% das músicas inscritas não resiste a um juízo crítico mais rigoroso e, se fosse uma seleção para escolher apenas 10 ou 15 músicas, assim mesmo não haveria condições de selecionar um núcleo realmente capaz de merecer a classificação de << representativa >> do talento de uma nova geração.
Com a falência dos festivais nacionais da MPB, no final dos anos 60 - e agora a tentativa quer em escala nacional (Tupi, Globo), quer em mostras estaduais (<< Todos os Cantos >>, promoção da Secretária da Cultura e Esportes, a estender-se até o final do ano) coloca-se em questão a criação musical. Tanto nos festivais promovidos pelas redes nacionais de televisão - com cobertura total e prêmios que chegam a milhões de cruzeiros, como em eventos mais abertos e menos competitivos, como o de Londrina, nota-se uma grande pobreza na criação musical. A abertura que os festivais da Record e Globo proporcionaram entre 1965/69 a uma nova geração de compositores ( a maioria hoje dominando a área da MPB nacional) é lembrada como principal motivadora da reciclagem desta forma de se dar a jovens a chance de mostrarem seus trabalhos de criação. Mas perante uma fraqueza de inspiração como se nota em festivais regionais (e mesmo nos nacionais, haja vista a eliminatória mensais que a Globo vem apresentando) é de se indigar o que aconteceu. A repetição de temas, indigência de letras e músicas, falta de originalidade são constantes em 80% das músicas apresentadas em vários festivais que temos acompanhado, regionalmente, nos últimos anos. Mesmo as Feira Pixinguinha, realizadas já em Brasília (de Cujo júri participamos), Salvador e Belém, tiveram resultados tão fracos, que seu idealizador, Hermínio Bello de Carvalho, decidiu que ao invés da gravação de elepês, com as 12 finalistas (como ocorreu em relação a Brasília e Salvador), agora somente serão gravadas as músicas com melhor nível, o que poderá sintetizá-las em modestos compactos simples. Sendo Londrina uma cidade-polo de uma das mais desenvolvidas regiões do Brasil, com uma vida cultural em escaladas, a nível das composições inscritas para a II MMPBL, era de esperar, fosse mais estimulante. Entretanto, frente à fraqueza da maioria das concorrentes, é de se preocupar qual será a qualidade das músicas que estarão concorrendo, a partir da próxima semana, na seqüência de eliminatórias regionais dentro do festival << Todos os cantos >>, da Secretaria da Cultura e sporte, que inicia por Pato Branco, com um júri que terá nomes da expressão do compositor Cesar Costa Filho e violonista Sebastião Tapajós, entre outros que aceitaram o convite de Heitor Valente, coordenador do evento.
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Idealizado por Marinósio Neto, 30 anos, da equipe da Sucursal de O ESTADO em Londrina - e filho de uma personalidade tão lendária quanto simpática da imprensa regional, o repórter (hoje aposentado) e compositor Marinósio Filho (autor de << Cachaça não é água >>) lançada em 1952 por Carmen Costa, e motivo de uma polêmica de três década em torno de sua autoria), a Mostra de MPB de Londrina, não tem sentido competitivo tradicional. As 40 músicas selecionadas serão apresentadas em 3 noites, havendo uma votação por parte do público - com prêmios em instrumentos musicais àquelas que melhor recepção tiveram junto à platéia. Não deixa de ser uma forma aberta, dentro da filosofia que levou Marinósio Neto e seus colegas a idealizarem esta promoção, << destinada a preencher um vázio na área da MPB no Norte do Estado, desde que os festivais que a Universidade Estadual promovia, foram suspensos nos últimos 7 anos >>. E marinósio com quatro colegas do último ano do curso de Comunicação, integrantes do Grupo de Estudos Musicais - Célia Maia Boregas, Maria José Volpini Santa Maia (Zezé), Nei Inácio e Maria Pradi Pareira - carregam sozinhos esta promoção, desdobrando-se em múltiplas funções. Só isto já faz com que a Mostra mereça o maior apoio, pois o nível das músicas inscritas, em sua maioria, não foi o desejável não deixa de representar o reflexo de uma realidade. O juri formado por Marilia Moura Santos, organista, pianista e professora: maestro Jairo Stutz, responsável por vários corais da região, maestro e professor Reinaldo Perlim, o veterano pistolista Dorval Bráulio, 50 anos e os jornalistas Edilson Leal e Winson Schwartz, da << Folha de Londrina >>, mais este repórter, ouviu, com a maior atenção todas as músicas inscritas, e procurando o critério mais justo possível, selecionou as 40 para a mostra que será realizada dentro de um mês. Com bons arranjos e se encontrarem intérpretes ajustadas, poderão proporcionar um bom espetáculo - e mesmo se destacarem, embora não tragam nenhuma renovação para ao cancioneiro popular. Mas sobre isto, falaremos amanhã.
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