Cantoras
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de junho de 1979
Saudável vozes femininas inundam o nosso panorama artístico - entre veteranas que reaparecem ao lado de estreantes das mais promissoras (as quais, sonatas, aos talentos masculinos emergentes, provam que realmente há algo de novo no ar, como diz o colega Luiz Augusto Xavier) - e que não ficam apenas em intérpretes, mas também como compositor e mesmo instrumentistas. Assim se a WEA está investindo em Milena, culo lp já registramos, compositora, instrumentista e, sobretudo, cantora de divisões modernas é acentuadas, a Top Tap nos traz a primeiro lp de Nazaré Pereira, acreana de Xapuri, mas há 10 anos residindo no Exterior. Apesar de sua vivência na França - para onde foi, em 1970, para estudar no Centro Universitário de Formação e Pesquisas Dramáticas, Nazaré conserva uma extraordinária brasileira - filha de pai italiano e indígena. Seu curriculum é extenso e inclui experiências teatrais ( com o grupo de vanguarda de Bob Wilson), na dança e finalmente na música, tendo gravado na Cezame, em París, em ,aio/78 um compacto simples, com "Cheiro da Carolina" e "O Povo Tá Lá", que agradou tanto que valeu logo a chance de fazer um elepê - que agora sai no Brasil. Acompanhado por músicos brasileiros, arregimentados em Paris, mais um coral de dez vozes, Nazaré é, realmente uma estréia das mais estimulantes, com um repertório brasileiros, que em sua voz adquire um balanço especial e que, PELO VISTO, AGRADOU AOS FRANCESES: "Matutinho", "Anda Luzia", "O Cheiro da Carolina", "Só Quero Um Xodó", "Boi do Amazonas", "Bambo de Bambu", "Yara", Pisa Na Fulo", "Desafio Nordestino" e "Loana".
Isolda apareceu há alguns anos como parceira de seu irmão, o jovem cantor Milton Carlos, tragicamente falecido num acidente rodoviário há 2 anos, Letrista inspirada, chegou a residir alguns meses em Curitiba - em conseqüência de seu marido, funcionário da Petrobras, ter sido designado para aqui desenvolver um projeto.
Infelizmente não chegou a dar tempo para Isolda integrar-se ao nosso movimento e com a morte do irmão se retornou a São Paulo. As músicas de Milton Carlos/Isolda chegaram a merecer gravações de diversos cantores de sucesso, inclusive Roberto Carlos e isto deve ter animado a Sérgio Sá a convencê-la a gravar um lp, na RCA Victor, da qual era contratado o seu irmão. Embora não seja uma cantora de grandes recursos, Isolda é uma intérprete sensível, que amparada em arranjos ajustados as limitações de sua voz, transmitem o "feeling", o sentimento de suas imagens - sejam das composições em parceria com Milton Carlos ("Boleríssimo", "Um Jeito Estúpido de te amar", "Você precisa saber das coisas"), seja as suas próprias composições em que acumulou a criação da
Harmonia e letras" "Questão de Dias", "Outra Vez", "Confidências" e "Tente Esquecer". Faixas de outros autores foram incluídas - como "Ilegal, Imoral ou engorda" de Roberto/Erasmo Carlos, "Não Faça Assim" e "Sem desespero" de Cristina Arras e "Apague a Luz" de Elodi - que se não estamos enganados, é uma excelente violência que, há 8 anos, apoiou os primeiros elepês de Célia. Uma última faixa é de autoria do produtor e arranjador do lp, Sérgio: "Sérgio Sá: "Dois Encontros Casuais".
A CBS, em fase de reestruturação de elenco nacional, tem 3 cantoras em faixas diferentes: na linha discotheque, sem maiores pretensões, aparece Suzana ("Estou Pagando Fogo"), uma loira cuja imagem é mais atraente do que o repertório que gravou músicas descompromissadas, na linha discotheque, embora entre os arranjadores tenham sido convocado até o paranaense Walter Branco. Suzana aparece como parceria em sede faixas, mostrando assim que não é apenas um rostinho bonito - e pode superar esta fase comercial inicial e chegar a um melhor resultado no futuro. Aliás, uma prova de que uma cantora pode dar a volta por cima após um fracasso é o auspicioso retorno de Claudia, cantora que começou na RGE, há quase 10 anos, alcançou sucesso populares ao passar pela Odeon, entre 1971/73, mas que há dois anos, ao gravar para a RCA Victor, ali fez um frustante álbum - "Reza, tambor e raça", onde somou-se um repertório infeliz, arranjos prejudiciais (apesar de bons músicos arregimentados) e que em absoluto possibilitou ali reconhecer aquela vocalista que o Luiz Augusto Xavier tanto admira. Passados dois anos, Claudia reaparece, agora pela CBS, num álbum "Pássaro Emigrante"), com produção do Romeu É, Giosa, que revela não apenas um novo compositor - que com Claudia dividiu onze das doze músicas incluídas - mas também mostra-se excelente arranjador é bom percussionista: Chico Medori. Ao contrário do que acontecia há 2 anos, Claudia agora mostravigor nas interpretações, utilizando todos seus recursos vocais e tendo ainda a felicidade de desenvolver músicas realmente interessantes - numa prova de que o afastamento fonográfico foi positivo. Qualquer uma das faixas deste lp merece ser ouvido com atenção e acreditamos que com músicas como "Boiadeiro", "Rua 33, número Particular", "Medo", "Ascensão", "Transcedência", Claudia recupera seu espaço no panorama musical brasileiros.
Amelinha, cearense de Fortaleza que Fagner, em boa hora, trouxe para o Rio de Janeiro, confirma em seu segundo lp ("Frevo Mulher", CBS 138063), que realmente tem muito a oferecer a MPB. Ao contrário de Miss Lene ou Zenaide - também cantoras cearences que a CBS lançou nacionalmente, mas na linha discotheque - Amelinha teve como produtor Carlos Alberto Sion e a escolha do repertório foi cuidadosa, com composições de Zé Ramalho ("Frevo Mulher", ("Golpe Razante"), Fagner/Abel Silva ("Santa Tereza"), Geraldo Azevedo ("Dia Branco"), Moraes Moreira ("Pedaço de Canção", parceria com Fausto Nilo), entre autores nordestinos. Mas há também uma música paulista Walter Franco ("Divindade"), de Sérgio Natureza ("Noites de Cetin", parceria com Herman Torres", de uma outra jovem compositora, Katia de França ("Coito das Araras"), além da curiosa estréia de Bruna Lombardi, atriz, modelo e poeta, como letrista em "Que me venha esse homem", música de David Tygel, que abre o lado B deste segundo elepê de Amelinha.
Um elepê que tem tudo para alcançar uma grande vendagem: a veterana e sempre afinada - Angelo Maria, dividindo um elepê-show, reproduzindo o espetáculo que fez com Agnaldo Timóteo na boite L`Absinthe: "Angelo & Timóteo, juntos (EMI/Odeon, 062421157, maio/79) deve ser ouvido sem preconceitos, pois afinal o fato de Timóteo buscar sempre uma faixa popularesca, com músicas de nível discutível (embora altamente comerciais), não impede que se reconheça seus méritos vocais.
Além do mais, na seleção feita por Wagner Montanheiro para este elepê, com orquestrações e regências de Gaya, há faixas como "Samba em Prelúcio" (Vinícius/Baden"), "Meu Nome e Ninguém"( Haroldo Barbosa/ Luiz Reis") , e até "Travessia"(Milton Nascimento/ Fernando Brant), além de uma regravação de "Mamãe" (Herivelto Martins/David Nasser), que há 25 anos João Dias alcançou em dueto com Angela - que agora preferiu dividi-la com Agnaldo Timótio. Nesta faixa, a música incidental é "When you wish upon a star", de Washington/Harline, tema do filme "Pinochio", que recebeu um Oscar.
Zezé Motta - atriz, cantora, uma super show-woman, mereceria um espaço à parte, tal a força de sua criatividade tanto como vocalista - e que no final deste mês, teremos ocasião de ver (e aplaudir) novamente na temporada que fará no Paiol. Antecipadamente, vale a pena ouvi-la em Negritude" (WEA/ Atlantic), seu segundo elepê, onde está críola está explêndida, com um repertório que não poderia ser melhor: "Manhã Brasileira" (Manacéia), "Ai de Mim" (John Neschling/ Geraldo Carneiro), "Pensamento Iorubá (Moraes Moreira), "Tabuleiro" ( João de Aquilo/José Marcio), "Cana Caiana"(Rosinha de Valença/Maria Bethânia), afora uma homenagem a Cartola, com a regravação de "autonomia". Um disco ótimo, que merece que voltemos a ele, opotumamento. De momento fica a dica e a recomendação.
FOTO LEGENDA- Amei fravo mulher
FOTO LEGENDA1- Claudia
FOTO LEGENDA2- Angela Timóteo juntos
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