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Estado destombou prédio histórico

O infeliz parecer de um procurador do Estado poderá trazer prejuízos irremediáveis ao patrimônio histórico do Paraná e, indiretamente, ao da União. A decisão emitida pela Procuradoria Geral do Estado, no processo em que a família Saade reivindicava o destombamento do prédio em que durante mais de meio século funcionou o Hotel Paraná, em União da Vitória, beneficiando a parte interessada em demolir o que resta do edifício, não só contraria uma decisão do Conselho do Patrimônio Histórico e Artístico, como – e aí está o grande perigo – firma jurisprudência que possibilitará novos casos de destombamento. A questão é nebulosa e ainda mais grave, uma vez que o imóvel, após tombado, sofreu misterioso incêndio no ano passado. Baseado em tal sinistro, os herdeiros do prédio começaram a pressionar o Estado – chegando, inclusive, ao governador José Richa – para que autorizasse o destombamento do bem. Confiando em sua assessoria o governador José Richa encaminhou o processo para um parecer jurídico, e o procurador designado, pouco sensível ao lado histórico, foi totalmente simpático aos proprietários do prédio. Embora em sua próxima reunião o Conselho do Patrimônio Histórico e Artístico deva apreciar, novamente, a questão, juridicamente já houve um prejuízo, com a infeliz postura da Procuradoria Geral do Estado. xxx Não é esta, aliás, a primeira vez que um edifício tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico é destombado devido à ganância dos proprietários. Há 12 anos passados, o belo edifício que existia na Segunda quadra da rua Mateus Leme, defronte ao Museu Alfredo Andersen, foi destombado em operação relâmpago, feita durante brevíssimo período de 72 horas, em que o então presidente da Assembléia Legislativa, o iratiense João Mansur, substituiu o governador do Estado. Infringindo várias normas legais, o deputado atendeu aos interesses do proprietário do imóvel e autorizou o destombamento. Na madrugada, o prédio foi totalmente demolido - inviabilizando, assim, qualquer recurso legal para neutralizar a infeliz decisão. xxx O Hotel Paraná, construído no início do século, era o único imóvel tombado no município de união da Vitória. Desativado como hotel há mais de dez anos, encontrava-se abandonado, no ano passado, quando houve o misterioso (para muitos, criminoso) incêndio. Agora, parcialmente destruído e com a decisão da Procuradoria Geral do Estado, os proprietários querem demolir o que restou e, naturalmente, aproveitar o terreno para outras finalidades. xxx A propósito: depois de permanecer acéfala a mais de dois meses, finalmente a Curadoria do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado tem novo diretor. É o arquiteto Jurandir Rio Garçoni. A arquiteta Jussara Valentim, que ocupou aquela função até fins do ano passado, descontente com a política do atual secretário da Cultura e Esportes (que, aliás, conseguiu se incompatibilizar com vários setores da comunidade, legislativo e áreas intelectuais) renunciou ao cargo e assumiu a direção administrativa da Fundação Cultural de Curitiba. xxx Outro setor da mesma secretaria que se encontrava acéfalo, também tem agora diretor: a Coordenadoria do Patrimônio Cultural, vaga desde a renúncia da professora Cecília Maria Vieira Helm, foi ocupada pelo professor José Guilherme Cantor Magnani. Formado em Ciências Sociais pela UFP, turma de 1969, fez mestrado em Sociologia, na Faculdade Latino-americana de Santiago do Chile, lecionou na Argentina e fez dourado na USP, em São Paulo, defendendo interessante tese sobre lazer na periferia, publicada em livro no ano passado "Festa no Pedaço", Brasiliense, 198 páginas), obra que, amanhã, na página "Leituras", é registrada, com detalhes, em O ESTADO DO PARANÁ, José Guilherme, jovem, bem intencionado, tem bons planos. Espera-se que não encontre as mesmas dificuldades que levaram a digna professora Cecília Maria, corajosamente, a desistir do cargo, para não se comprometer no chamado "escândalo Gralha Azul". Aliás, uma novela que ainda não se encerrou: consta que a Secretaria insiste em publicar a racista cartilha , contra a qual se ergueram vozes das mais respeitadas, inclusive do deputado Ivan Gubert, que, na Assembléia, exigiu explicações claras e precisas a respeito.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
12/01/1985

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