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"Festa" ganha em vídeo e bom pacote do Herbert

Há filmes que se ajustam ao vídeo. Outros só perdem ao serem apreciados na telinha. Por exemplo, uma obra como "Pelle, o Conquistador", por sua dimensão plástica, belíssima fotografia, transforma-se num pastiche ao ser visto no vídeo. O mesmo pode-se dizer de centenas de outros títulos que as distribuidoras insistem em colocar no mercado, muitas vezes em cópias péssimas sem cores, borradas e escurecidas. Em compensação há filmes intimistas, que por sua própria estrutura nada perdem ao serem vistos na redução do vídeo. Um exemplo é a recente produção paulista "Festa", de Ugo Giorgetti, que a Abril Vídeo colocou nas locadoras há algumas semanas. Grande vencedor do último festival do Cinema Brasileiro de Gramado - filme, ator (Antônio Abujamra/Adriano Stuart), roteiro figurino e edição de som, além de prêmio especial da crítica, "Festa" é um filme intimista, huis clos - toda a ação se passa num único cenário - e que pode ser visto em vídeo com o mesmo prazer de sua projeção na tela ampla. Entretanto, o mesmo já não se aplica a "O Grande Mentecapto", de Osvaldo Calderias, baseado em romance de Fernando Sabino - e que foi injustiçado no mesmo festival. Por sua dimensão fotográfica, este filme simpático, com muitas seqüências exteriores, funciona muito melhor no cinema. Perde quem não o viu quando foi lançado no cine Condor - e, posteriormente em suas constantes reprises no circuito da Fucucu. O exemplo de Werbert Vindo da época das chanchadas - quando seu estúdio era um dos mais ativos produtores e tendo se estruturado com o principal centro de dublagem de filmes para a televisão, Herbert Richers venceu também na área do vídeo. Conquistando um amplo catálogo internacional - ao qual o último acréscimo foi um contrato com a extinta Republic, estúdio classe "B" dos anos 40/50, mas que produziu alguns filmes importantes - Herbert Richers dá grande atenção ao material promocional, editando uma publicação com todos os dados de cada filme que distribui, boas ilustrações e fichas técnicas detalhadas. O último pacote da Herbert Richers traz quatro títulos importantes. A felicidade não se compra (It's a Wonderful Life), 1946, de Frank Capra, com James Stewart, Donna Reed, Lionel Barrymore e Thomas Mitchel. Embora já lançada no Brasil, em versão colorizada, pela Century Vídeo, temos agora a edição em p&b desta comédia com o clássico otimismo de Capra, que sempre caracterizou seus filmes por um alto astral. Nesta comédia produzida há 44 anos, conta a história de George Bailey (Stewart), um homem desiludido que na véspera de Natal resolve se suicidar. Para livrá-lo dessa tentação e enviando um anjo que lhe mostra como a cidade onde vive seria diferente se ele não existisse. Espíritos Indômitos (The Men), 1950, de Fred Zinnemann, ficou famoso por duas razões: marcou a estréia de Marlon Brando no cinema como um ex-combatente paralítico, e que volta da guerra com dificuldades para se reintegrar à sociedade. Música de Dimitri Tiomkim, possibilita também rever a grande atriz Teresa Wright num humano personagem. Iwo Jima - O portal da Glória (Sands of Iwo Jima), 1949, de Allan Dwan, não chega a ser um clássico de guerra, mas foi uma produção bem acabada, com John Wayne em fase boa, ao lado de um ator há muito desaparecido: John Agar. Reconstitui uma das mais famosas batalhas da II Guerra e fez grande sucesso na época. O destino bate à sua porta - (The Postman Always Rings Twice), 1981, de Bob Rafelson, trouxe Jessica Lange numa personagem sensualíssima: a esposa infiel que convence o amante a matar o marido. Para Jessica foi uma grande oportunidade: ela havia estreado em "King Kong" e queria livrar-se da imagem daquele filme comercial. Mostrou tanto talento que sua carreira deslanchou e no ano passado até Costa-Gravas a buscou para o principal papel de "The Music Box", que concorreu no último festival de Berlim e logo deve chegar ao Brasil. Jack Nicholson, como o marginal Frank, amante de Cora (Jessica), está também esplêndido neste filme baseado no célebre romance de James Cain, que em 1942 já havia inspirado ao italiano Luchino Visconti (1906-1976) seu "Ossessione", com Massimo Girotti e Clara Calamai - mas que foi interditado pelo autor de "The Postman Always Rings Twice", sob alegações de não recebimento de seus direitos autorais. Videonotas Um dos cult-movies da última temporada, "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos" do espanhol Pedro Almodovar (cujo último longa, "Atame", disputou o festival de Berlim) acaba de sair pela Globo Vídeo. Uma comédia interessante, supervalorizada e que encantou especialmente as platéias gay. Não confundam "A Guerra dos Mundos" (War of Worlds), 52, de Byron Maskin, baseado no romance de M. G. Wells - um clássico da Science-Fiction - com a série "Guerra dos Mundos", em capítulos, que a Paramount/CIC Vídeo está lançando no Brasil. Há um novo volume nas locadoras, com os episódios "As Muralhas de Jericó", de Collin Chilvers e "O Império do Mal", de Winrick Kolbe. Um dos maiores sucessos de Vittório de Sicca (1902-1974), "Os Girassóis da Rússia" (Sunflower/II Girassoli, 1970), com Sophia Loren e Marcello Mastroianni, sai agora em vídeo. Com duração de 105 minutos, bela fotografia e excelente trilha sonora de Henry Mancini perde, entretanto na redução para a tela - foi concebido para ser visto em cinemascope. De qualquer forma, vale para os mais jovens que não o conheceram em suas inúmeras reprises. A vídeo Interamericana que já fez lançamentos interessantes ("Tess", de Roman Polanski: "O Franco Atirador", de Mickael Cimino), "Os Gritos do Silêncio", de Roland Joffe), está deixando cair a bola em termos de qualidade. Seu último pacote não poderia ser pior: "Tempo Quente na Cidade" (Hot Child in the City), pseudomusical na linha de "Flashdance" e "Footloose"; "Labirinto da Morte" (Twice Under), de Dean Crow e "Os Vadios" (Blue City Slammeers). Para compensar estas mediocridades, há um título a ser verificado: "Katinka, a história de um amor proibido", adaptada de uma novela de Werman Bang e que tem direção de Max Von Sydow, ator sueco. A fotografia é do mestre Svan Nykvist e se a copiagem não foi feita às pressas talvez não tenha perdido a beleza original. Apesar de ter comparecido a vários festivais entre 1988/89, é um filme para ser apenas verificado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
08/03/1990

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