Governo esqueceu mas Zan lembra Belarmino
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de dezembro de 1987
Passados três anos da morte de Salvador Graciano (Rio Branco do Sul, 04/11/1920 - Curitiba,10/06/1984) pouco ou nada se fez para perpetuar a memória de Nhô Belarmino, que ao lado de sua companheira, a Nhá Gabriela (Júlia Alves, Morretes,18/07/1923) formou a dupla mais popular de nossa música.
Se ao elaborar o pretensioso (e até meio nebuloso) projeto de fazer de 1988 o "Ano da Música Paranaense), a professora Marlene Rodrigues, poderosa coordenadora da Secretaria da Cultura, tivesse tido o bom senso (e a humildade) de ouvir um pesquisador na dimensão de Alceu Schwaab, por certo teria recebido sugestões para que fosse instituído - por exemplo - um concurso de monografias destinado a estimular pesquisas e estudos sobre a nossa música não urbana, e que bem poderia homenagear, ao menos no título, o nome de "Nhô Belarmino".
Um dos filhos do compositor e cantor, Ivan, 42 anos, também compositor e acordeonista como o foi seu pai, há 10 anos tenta viabilizar uma etiqueta fonográfica (a "BG", já com mais de 100 edições, entre compactos simples, duplos e elepês), voltada exclusivamente a produção com artistas do Paraná e Santa Catarina. Ivan poderia ter sido um dos consultores para um projeto que, realmente pretendesse abarcar a música no Paraná, pois o segmento regional jamais pode ser desprestigiado. Entretanto, Ivan nunca recebeu qualquer convite para comparecer a Secretaria da Cultura. A auto-suficiência de quem elaborou o projeto "1988 - Ano da Música do Paraná" é, realmente, impressionante!
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Enquanto no Paraná, poucos se lembram de Belarmino, ao menos seus velhos amigos reconhecem o valor das músicas que deixou. A mais conhecida delas, "As Mocinhas da Cidade" acaba de ter uma nova gravação. Depois de, em roupagem jovem, ter sido sucesso com o cantor paulista-lusitano Roberto Leal, um dos mais conhecidos acordeonistas brasileiros, Mário Zan (Mário João Zandomenighi, Roncadete, Veneto, Itália, 9/10/1920), a incluiu em seu novo elepê (Os Grandes Sucessos Sertanejos em Ritmo Dançante", Chantecler, novembro/87), no qual reuniu nada menos que 16 clássicos da música regional. Entre outras há também a "Curitibana", homenagem da dupla Tonico-Tinoco, mais Pingoso, a nossa cidade.
Nos anos 50, Mário Zan foi o mais popular acordeonista brasileiro. Trabalhou com dezenas de duplas, criou inúmeros sucessos e gravou mais de 200 discos - entre 78 rpm e elepês. Assim como outro italiano que emigrando para o Brasil se tornou um virtuose do acordeom popular, Cláudio Todisco (Valerottonda-Froncinone, Itália 15/1/1921 - Curitiba, 8/1/1964), Mário Zan marcou uma época na música instrumental brasileira.
Todisco, cujo nome lembra para os boêmios na faixa dos 50 anos os tempos da "Boneca do Iguaçu", pioneira casa noturna distante do centro (às margens do rio Iguaçu, já no município de São José dos Pinhais), é outro artista que mereceria a homenagem. Mas para os iluminados, brilhantes e auto-suficientes que devem saber de tudo e assim "elaboraram" o mais completo projeto da "Música no Paraná -1988", é claro que Todisco pouco significa.
LEGENDA FOTO: Mário Zan: lembrando Nhô Belarmino no 3º ano de sua morte.
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