Grande gênio do Bandoneon
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de janeiro de 1989
É possível que Astor Piazzolla apresente-se no Teatro Guaíra ainda no primeiro semestre. Em duas vezes, dentro de duas excursões ao Brasil, o maior nome do bandoneon incluiu a nossa cidade em seu roteiro. E todas as vezes em que passou pelo nosso país, Piazzolla tem merecido os maiores aplausos, pois o tempo só faz com que a sua arte musical cresça.
Inventivo, inovador, responsável pela modernização do tango - o que, entretanto, lhe custou críticas, aborrecimentos e até ameaças físicas ("só não apanhei na rua porque fui boxeador em minha juventude", nos confessava há alguns anos, quando de sua passagem por Curitiba), Astor é um nome internacional. Amigo pessoal de Jeanne Moreau, criou a trilha sonora para seu filme "Lumiére" (nunca exibido no Brasil) e a sonoridade e grandeza da música que realiza o torna um dos autores mais procurados pelos cineastas. Meticuloso, seleciona bem os trabalhos que faz para filmes e um de seus melhores scores foi a trilha para "El Sur", o novo filme de Fernando Solanas, sucesso há oito meses em Buenos Aires, prêmio de melhor direção em Cannes e que em 17 de novembro de 1988, no Roxy - Copacabana, abriu o V Festival Internacional de Cinema, Vídeo e Televisão. Toda a música de "El Sur"- que pela sua temática, clima e ambientação lembra "Tangos - O Exílio de Gardel", do mesmo Solanas (1976, premiado em Veneza e que encerrou o ll FestRio, foi desenvolvida por Piazzolla em homenagem a um dos grandes mestres do tango, Anibal Troillo ("El Pichuco"), autor aliás do tango "El Sur", que inspirou a Solanas para nominar seu filme. Editado na Argentina e França, o elepê com a trilha de "El Sur" permanece, infelizmente, inédito no Brasil.
Em compensação, além do elepê com a Orquestra de Câmara de Blumenau interpretando temas de Piazzolla temos também nas lojas outra esplêndida gravação com o bandeonista argentino: em setembro de 1987, com a Orchestra of St. Luke's, Piazzolla apresentou-se no Richardson Auditorium in Alexander Hall, na Princeton University, em New Jersey, EUA. O regente foi Lalo Schifrin, também argentino, conhecido pelas trilhas sonoras que tem feito em Hollywood e que, no início dos anos 60, passou algum tempo no Rio de Janeiro bebendo nas águas da Bossa Nova. O magnífico concerto de Piazzolla com a Orchestra of St. Luke's foi gravada pela Elektra/ WEA, que através do seu selo de qualidade, Nonesuch, o editou no Brasil há alguns meses. No lado A, temos em três movimentos o "Concierto para Bandoneon", escolhido como um dos mais belos temas que tiveram seu primeiro registro em disco editados no ano que passou. No lado dois, "Três Tangos", criados especialmente por Piazzolla para o concerto.
Ouvindo-se por enquanto apenas em disco, é de se esperar que Piazzolla, ao receber o lp da Orquestra de Câmara de Blumenau - o que deve acontecer na próxima semana, quando um amigo de Norton levará um exemplar em mãos - anime-se aí, por que não? - a repetir no Brasil, a apresentação que fez em setembro de 1987 com a Orchestra of St. Luke's.
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