IBAC acende luzes no escuro túnel cultural
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de março de 1992
Após quase dois anos de uma estagnação cultural, em termos de iniciativas do plano federal - desde que o presidente Fernando Collor extingüiu em seu primeiro dia de governo a Funarte, Embrafilme e outros organismos, o túnel volta a se iluminar. A Lei Rouanet está aprovada e regulamentada - enquanto em dezenas de municípios iniciativas semelhantes, para criar estímulos fiscais que resultem em recursos destinados a projetos culturais estão acontecendo. Em Curitiba, é bom lembrar, deve-se ao vereador Angelo Vanhoni a criação da lei que deverá injetar recursos para que projetos possam ser concretizados libertos da nefasta e politiqueira ação da Fucucu.
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No plano federal, um relatório de 64 páginas, coordenado pela jornalista Marlene Niches Custódio, mostra o que o Instituto Brasileiro de Arte e Cultura, ligado diretamente a Secretaria de Cultura da presidência da república tentou fazer nos últimos meses. Estruturada em quatro diretorias - Ação Cultural (dirigida por Roberto Parreira, que na administração Ney Braga do MEC, foi quem implantou a antiga Funarte), Difusão Cultural (Humberto Braga), Pesquisas e Documentação (Lucia Lahmeyer Lobo) e Planejamento e Administração (Nira de Castro), o IBAC tem como presidente também um ex-diretor da antiga Funarte, Mario Brockmann Machado.
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Ainda que timidamente - já que seus recursos têm sido reduzidos - o IBAC começou a reanimar vários projetos, que haviam sido drasticamente interrompidos há dois anos. Assim, tem apoiado - quase sempre simbolicamente - festivais, seminários, salões de artes plásticas etc., que acontecem em vários estados. Por exemplo, o Salão Nacional de Artes Plásticas, em sua 12a. edição, foi bancado pela Fundação Cultural do Distrito Federal, em Brasília) que aliás, teve no ano passado orçamento dos mais generosos. Segundo o relatório do IBAC, houve também apoio para 18 curtas, 6 médias e 10 longa-metragens.
Assim, haverá ao menos alguns títulos inéditos para os próximos festivais de cinema de Gramado e Brasília - embora ainda insuficientes para uma retomada efetiva do cinema brasileiro.
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Entre os curtas inéditos, que tiveram pequenos apoios do IBAC (geralmente em sua finalização, graças ao equipamento técnico que a extinta Embrafilme possuía) estão "Canto da Terra" (de Paulo Rufino, sempre voltado a temas agrários), "Angoscia", "Efêmera", "Mais uma História", "Rubi das Águias", "Um casal chamado paixão" e "Chão de estrelas", todos realizações de alunos do curso de cinema da Universidade Federal Fluminense. Entre os curtas finalizados nos últimos meses (alguns ainda em fase de trabalho) estão também "Boato" (Luiz Eduardo franco Amaral), "O Casamento" (Clélio Ribeiro), "Pra fazer feliz a quem se ama" (Vinicius Reis/ Hugo Suckman), "Lona" (Vicente Amorim), "Sete de Ouros" (Marcos Guttman), "Fernando Diniz" (Marcos Magalhães) e "Comunidade de Jurujuba", além do episódio "O perfeito cozinheiro das almas deste mundo" que Lucia Murat ("Que bom te ver viva") desenvolveu dentro do projeto de filmes baseados em temas de Oswald de Andrade, produzidos pela Secretaria de Cultura de São Paulo.
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Na área dos médias, afora os já conhecidos "Guerra dos Meninos" (Sandra Werneck) e "Nosso Amigo Radamés" (Moisés Kendler/ Aluisio Didier), há três outros trabalhos inéditos: "Encantamentos de Camargo Guarnieri" (José Setti), "Yndios do Brasil" e "Filhos das águas" (Elizeu Evald).
Dos dez longas, dois já foram levados ao festival de Gramado 91: "Sampaku", de José Joffily e "Não quero falar sobre isso agora", de Mauro Farias. Os outros 8, ainda inéditos, são: "Era uma vez" (Arthur Utanga), "A viagem de volta" (Emiliano Ribeiro), "Nimuendaju" (Geraldo Sarmo), "Vagas para moças de fino trato" (Paulo Thiago), "The Rio Things", "A volta de Lima Barreto ao país dos Bruzundangas" (José Maria Bezerral) e "Dívida da Vida", de Octavio Bezerra. Este último documentário sobre a dívida externa brasileira, co-produção com a televisão inglesa (e sobre a qual O Estado foi o primeiro a dedicar ampla reportagem) está pronto para exibição no Exterior. Bezerra, aliás, virá a Curitiba na próxima semana, graças a iniciativa do Museu da Imagem e do Som: no dia 12, será exibido "Memória Viva", 1987, vigoroso documentário sobre a cultura popular brasileira a partir das idéias de Aloisio Magalhães. Apesar de muitas premiações no Brasil e no Exterior, este filme permanece inédito em vários estados. No dia 13, serão apresentados "Uma Avenida Chamada Brasil", 1989, documentário sobre as favelas que margeiam a Avenida Brasil, no Rio de Janeiro, e o média "A Resistência da Lua", 1985, sobre um bairro de Salvador. Paralelamente à exibição dos filmes e debates com Bezerra, haverá no MIS uma exposição com trabalhos de Aloisio Magalhães, promovida pela Bienal do Design.
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