Lido renasce como o cinema geminado
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de setembro de 1983
Quem passar defronte o Cine Lido, na Rua Ermelino de Leão e se detiver por alguns instantes, observará -apesar do alto tapume - que praticamente do antigo prédio construído há mais de 20 anos, só restam as paredes laterais. Em poucas semanas, mais de 60 homens da Construtora Tabajara demoliram o cinema, obedecendo a um rigoroso cronograma de obras que prevê a reabertura de duas salas -Lido I e Lido II - exatamente a 23 de dezembro. Para uma das salas está escolhido até o filme: "Tubarão - III Parte", de Joe Alves, lançado a 3 meses nos Estados Unidos, no processo de terceira dimensão.
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O Cine Lido foi inaugurado há 24 anos - exatamente no dia 17 de setembro de 1959 - com "Guerra e Paz", superprodução que Henry King (1892-1982) havia dirigido em 1956, com base no romance de Leon Tolstoi (1817-1875), Com um grande elenco
- Mel Ferrer e Audrey Hepburn (então casados) na frente, trilha sonora. de Nino Rotta (1911-1979), "War And Peace" foi um acontecimento para a Curitiba da época. O cinema, construído por Henrique Oliva (1901-1965), era então o mais moderno de Curitiba e completava para a Empresa Cinematográfica H. Oliva a casa que faltava para os grandes lançamentos - já que o Cine Palácio pertencia a Henrique desde a década de 30 e o Cine Luz havia sido inaugurado há 20 anos - 16 de dezembro de 1939 - com "Meia Noite" (Midnight), de Mitchel Loisem, com Don Ameche e Claudete Colbert. O Luz foi o segundo cinema de Curitiba (o primeiro havia sido o Avenida, inaugurado cm maio-1929) instalado num prédio especialmente construído para tal finalidade. É que quando Teófilo G. Vidal (1891-1950) construiu um edifício na Praça Zacarias, o fez pensando para um cinema moderno. O prédio foi alugado a Henrique Oliva por 5 contos de réis por mês, em contrato firmado no cartório de Claro Américo Grnmarães (1901-1971) em 23 de julho de 1938 - um ano antes da firma construtora (Gutierrez, Paula & Munhoz) entregar a obra.
Ironia do destino: o Cine Luz, localizado numa praça que era sempre inundada quando chovia cm Curitiba, acabou destruído num violento incêndio, entre as 17-23 horas de 26 de abril de 1961. Filme em exibição: "O Homem do Sputnik", 1960, de
Carlos Manga, com Oscarito, Grande
Otelo e Norma Benguel, em seu início de carreira (aparecia numa sequência, imitando a Brigite Bardot, então no auge do sucesso).
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Quando o Lido foi inaugurado, a Avenida Luiz Xavier era a iluminada "Cinelândia Curitibana", com três lucrativos cinemas fazendo os melhores lançamentos: o Palácio, o Avenida (então da Empresa Cinematográfica Sul) e o Ópera - este inaugurado em julho de 1941, com "Tudo Isso e o Céu Também" (All This And Heaven Too, 1940, de Anatole Litvak (1902-1975) - aliás, exibido há poucas semanas na televisão. O Cine Lido teve como gerente durante mais de 20 anos o sr. Zito Alves, hoje proprietário de uma empresa especializada em assessoramento técnico aos cinemas do Paraná. Há 8 anos, como O Sr. Homero Oliva, único filho do velho Henrique, se desinteressou pelo setor de exibição, preferindo outras atividades, vendeu-o à Condor Filmes, empresa pertencente aos irmãos hispano-baianos Verde Martinez, que, posteriormente o negociaram com a multinacional Cinema International Corporation - hoje United International Productions, que representa poderosas produtoras (Universal, MGM, Buena Vista/Walt Disney, Paramount) em todo o mundo - exceto no território do Canadá/EUA.
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Há 30 dias, a UIP cerrou os seus escritórios de distribuição de filmes no Paraná, que funcionava no edifício Minerva, na Rua José Loureiro. Continua, entretanto, a possuir os cines Condor e Lido, dirigidos pelo sr. Egom Prim, agora com escritório no Edifício Santa Rosa - onde, aliás, há mais de 30 anos, alternam-se empresas de cinemas. Ml, há até há pouco, funcionava a Distribuidora Arco Íris
- cujo espaço passou a UIP. Em outro escritório, funciona a S.I.P., que representa a Columbla/Warner/20 th Century Fox.
O arquiteto Oscar Mueller, autor do projeto dos novos cines Lido I e II, preocupou-se em fazer duas salas modernas e confortáveis - com 650 e 350 lugares, respectivamente. A decoração, entretanto, será no estilo das da época de ouro do cinema, inclusive com elementos que lembrarão os nostálgicos Palácio, Avenida e, especialmente, o Ópera.
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