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Marcus Pereira apersenta a música de Donga e o "Brasil Instrumental"

Hoje não há uma pessoa no Brasil que se interessa pela nossa cultura popular que não conheça e admire o produtor Marcus Pereira. Paulista, Publicitário, apaixonado pela (melhor) musica brasileira, Marcus fez em apenas um ano e pouco de atividades fonográficas mais do que muitas gravadoras realizaram ao longo de trinta ou quarenta anos. Aliás, como observou o experto Euclides Cardoso, diretor da Radio Iguaçu, atividade de Marcus Pereira foi tão extraordinária que criou um problema para as gravadoras consolidadas: elas tiveram que sair do comodismo internacional, funcionando como simples "repetidoras de suas matrizes no Exterior, para tentar produzirem discos de musica brasileira, de gabarito, depois que Marcus provou que o brasileiro gosta de sua musica, garante a compra mínima de um bom elepê, suficiente para garantir no mínimo o retorno do capital empregado. Como já nos referimos várias vezes aqui em O ESTADO, a carreira fonográfica de Marcus Pereira começou por acaso. Fã de boa musica, habituê da casa de samba Jogral, do saudoso Carlos Paraná, em 1967, decidiu inovar na distribuição dos tradicionais brindes de sua prospera agência. Ao invés de litros de scoth ou cestas de Natal, produziu um elepê com um grupo de cantores amigos - Chico Buarque de Holanda (então recem-saído de seu primeiro sucesso, "A Banda"), sua irmã Cristina, Mauricy Moura, Adauto Santos, Claudia Morena e Luiz Carlos Paraná, cantando "Onze Sambas e uma Capoeira" de Paulo Vanzolini, um dos grandes sujeitos (e compositores) de São Paulo. O resultado foi que o elepê foi disputado à tapa pelos fãs da boa MPB, animando a Marcus continuar a fazer um elepê por ano para obsequiar seus amigos. "Brasil, Flauta, Cavaquinho e Compactos bem produzidos - a série "Tema", por exemplo, outros elepês curiosos e interessantes - como um de Frevos de Recife, gravado ao vivo no Teatro Vila Rica, "Os Melhores Sambas de Todos os Tempos" apontados por críticos respeitados (Sergio Cabral, José Ramos Tinhorão, Tarik de Souza, Arley Pereira, Lucio Rangel, Ricardo Cravo Albim e Albino Pinheiro), um marcante lp com Carmem Costa/Paulo Marquez cantando "A Música de Paulo Vanzolini", um experimental álbum com o Coral da Universidade de São Paulo interpretando musicas de vanguarda, de compositores como Gilberto Mendes, Ernest Widmer e outros, confirmaram, a quem tinha duvidas a importância de Marcus Pereira para a fonografia brasileira. Mas ele não parou por ai: lançou mais de uma dezena de elepês e compactos até o final de 1974 e em 1975 começa com grandes planos. Ao mesmo tempo que está saindo agora a História das Escolas de Samba da Guanabara (4 lps), Marcus assume a coordenação do futuro Ballet Popular Brasileiro e garante que até abril sairá a coleção Música Popular do Sul, com um dos quatro elepês dedicado ao Paraná. Para tanto, na próxima semana ele aqui estará, fazendo contatos e também participando do Primeiro encontro de Pesquisadores da MPB, que a Fundação Teatro Guaíra realizará de 28 de fevereiro a dois de março. Vamos aqui registrar, embora sucintamente, alguns dos muitos e importantes lançamentos de Marcus Pereira, feitos nos últimos meses. A MÚSICA DE DONGA - Apesar dos esforços do produtor J.C.Botezelli (Pelão), o mesmo realizador do lp de Cartola, este disco não pode sair em vida de seu homenageado. Ernesto Joaquim Maria dos Santos, nascido no Rio de Janeiro a 5 de abril de 1891, faleceu aos 83 anos, em 25 de agosto de 1974, quando o disco em sua homenagem estava em fase final de montagem. Falar da importância deste album-documento é dispensável. Donga, está ao lado de Pixinguinha e Sinhô, entre os mais importantes pioneiros da MPB, autor do primeiro Samba (registrado com este nome), o famoso "Pelo Telefone". Na produção deste elepê, Pelão teve como consultores Ligia Santos, filha de Donga e Mozart de Araujo, conseguindo realizar um precioso documentário, com a participação de vários intérpretes, além do próprio Donga - inclusive com um trecho do depoimento que prestou ao MIS-GB, há alguns anos. Desfilam neste álbum as seguintes músicas, que revelam m pouco da grandeza música do admirável pioneiro: "Amigo do Povo", "Canção das Infelizes" (parceria com Luiz Peixoto, interpretação de Elizeth Cardoso), "Benedito no Choro", "Patrão prenda seu gado" (parceria com Pixinguinha e João da Baiana, na voz de Almirante), "Vertigem", "Seu Mané Luiz" (parceria com Baiano, interpretação de Leci Brandão e Marçal), "Cinco de Julho", "Ranchinho Desfeito" (parceria com De Castro e Souza, na voz do modinheiro Paulo Tapajós), "Ligia, teus olhos dizem tudo", "Pelo Telefone" (letra de Mauro de Almeida, na voz de Almirante), "Quando uma estrela sorri" (parceria com Villa Lobos e David Nasser, na voz de Gisa Nogueira). Um elepê fundamental para a história da MPB é este "A Música de Donga", gravado nos dias 21 a 26 de agosto de 1974, com arranjos e regências do maestro Horondino José da Silva (do grupo Época de Ouro) e também Altamiro Carrilho, para a faixa "Ranchinho desfeito". A SÉRIE BRASIL - Animado pela repercussão que teve a reedição do lp "Brasil, Flauta, Cavaquinho e Violão", gravado em 1968 com o flautista Manoel Gomes, Benedito Costa no cavaquinho, Geraldo Cunha e Adauto Santos nos violões e Fritz (hoje do Trio Mocotó) no pandeiro, Marcus Pereira decidiu prosseguir esta série de música brasileira dos anos 20 a 50. Com a mesma arte de capa - o detalhe de um telhado estilo colonial, já saíram três novos títulos. O primeiro, "Brasil, Flauta, Bandolim e Violão", com Evandro (Josevandro Pires de Carvalho) e seu regional. Legítimo herdeiro de Jacob Bick Bittencourt (do Bandolim, 1918-1969), na execução do Bandolim, já tendo inclusive discos gravados em outras etiquetas (como "Jacob-Reminisciências", CBS, 1970), Evandro, que todas as noites é atração maior do Jogral, a melhor casa de Samba de São Paulo, junto com seu excelente conjunto - Manuel Gomes, o Manuelzinho da Flauta; José Pinheiro, violão de sete cordas e comum; Eduardo dos Santos Gudin, violão; Lucio França, cavaquinho e mais José Reli e Balto da Silva, no ritmo (pandeiro e surdo), apresentam neste elepê precioso, com texto de contracapa de José Ramos Tinhorão, os clássicos "Flor Amorosa" (primeiro choro brasileiro, de Antonio da Silva Callado - 1848-1880); "Pinicadinho" (polca de Severino Rangel e José Luiz Calazans), "Rancho Fundo" (Ari Barroso), "Santinha" (xotis de Anacleto de Medeiros), "Serra da Boa Esperança" (Lamartine Babo/Ari Barroso), "Receita de Samba" (Jacob do Bandolim), "Brejeiro" (choro de Ernesto Nazareth), "Ave Maria" (valsa de Erotildes de Campos), "Sapeca" (frevo de Jacob do Bandolim); "Oito Batutas" (choro de Pixinguinha, antecedido de pequeno depoimento de Donga). "Maxixe das Flores" (maxixe de Altamiro Carrilho); "Ingênuo" (choro de Pixinguinha e Benedito Lacerda); "Quanto Dói Uma Saudade" (choro de Garoto) e "Proezas do Evandro" (choro de Luperce Miranda). O terceiro elepê da série é "Brasil, Trombone", com Raul de Barros, na opinião do mestre Lucio Rangel - critico musical que inspira o maior respeito, autor de "Sambistas & Chorões", e que possivelmente virá a Curitiba, no próximo fim de semana participar do I Encontro de Pesquisadores da MPB - "o mais brasileiro de nossos trombonistas", é outro disco importantíssimo para quem ama a nossa música. Lucio Rangel, na didática nota de contracapa do elepê, acentura: "Raul dá um show de choro, desde o seu mais famoso e inesquecível "Na Glória". E Astor, outro grande trombonista, está representado como autor de "Chorinho na Gafieira", no instrumento de Raul". Com a participação do clarinetista Abel Ferreira, do violonista de sete cordas Horondino José da Silva, mestre Canhoto no cavaquinho, outro violonista notável que é Jaime Tomas Florêncio, Wilson das Neves, Marçal, Luna, Elizeu e Doutor no ritmo e percussão, tornam este elepê importantíssimo, como todos os discos produzidos por Marcus Pereira. A seleção não poderia ser melhor: "Na Glória" (Ari dos Santos /Raul de Barros), "Chorinho de Gafieira" (Astor da Silva), "Voltei ao Meu Lugar" (Carioca), "Paraquedista" (José Leocádio), "Violão Vadio" (Baden Powell-Paulo Cesar Pinheiro), "Saudade da Bahia"" (Dorival Caymmi); "Bronzes e Cristais" (Alcyr Pires Vermelho/Nazareno de Brito), "Baltazar" (José Benedito de Frei as/Oscar da Silva), "Dora" (Dorival Caymmi), "Pó-Ró-Ró, Pó-Ró-Ró" (Raul de Barros), "Folhas Secas" (Nelson Cavaquinho/Guilherme de Brito) e "O Trombonista Romântico" (Carlos Lima/Espírito Santo). Numa quarta etapa do importante documentário da música brasileira que inclui os volumes citados anteriormente, "Brasil, Seresta", com o flautista Carlos Poyares, é o mais nostálgico (e brasileiríssimo) dos elepês produzidos até agora por Marcus Pereira. Acentua Poyares, na nota de contracapa a respeito da tradição hoje quase desaparecida das serestas: "Grupos de músicos, saindo das festas, detinham-se às janelas de suas pretendidas para tocar e cantar, madrugada a dentro. Este costume boêmio, ainda hoje persistente nas pequenas comunidades urbanas do Brasil, nós herdamos, como tantos, outros, a Península Ibérica. E passou a denominar-se de serestas, no Brasil, fizeram-se muito antes do lampião de gás, à luz da lua, na segunda metade do século XIX". Conta Poyares que está há 37 anos fazendo serenatas, procurando honrar a memória de seu mestre, o grande Pixinguinha: "Comecei tocando em circo, depois fui para o rádio, e daí para quase 60 discos, com o regional de Canhoto ou individualmente". Agora, Poyares teve oportunidade de fazer um elepê como solista, acompanhado pelo amigo Evandro do bandolim, Lucio do cavaquinho, Zequinha no pandeiro, Pinheiro e Ivan aos violões. O produtor Pelão selecionou um repertório que é realmente uma pequena antologia da Seresta Brasileira: "Boa Noite Amor" (José Maria de Abreu/Francisco Matoso), "Branca" (Zequinha de Abreu/Duque Abramonte), "Flautista Triste" (Altamiro Carrilho/Ari Duarte), "Ivone" (Altamiro Carrilho/Horondino Silva), "Boneca" (Benedito Lacerda/Aldo Cabral), "Velho Realejo" (Custódio Mesquita/Sady Cabral), "Rosa" (Pixinguinha), "Deusa da Minha Rua" 8newton Teixeira/Jorge Faraj), "Malandrinha" (Freire Junior), "Chão de Estrelas" (Silvio Caldas/Orestes Barbosa), "Rapaziada do Braz" (Alberto Marino) e "Última Estrofe" (Cândido das Neves, Índio).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
29
23/02/1975
Tive o privilégio de ser amigo e fã do Carlos Poyares.Era um exemplo de ser humano,cheio de juventude,de muitas estórias da música brasileira,engraçado e muito alegre.Lembro-me,como se fosse hoje, da noite em que o conheci,no clube do choro de Brasília.Como foi divertida aquela noite!

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