Nana passou Guimorvan no jazz poll da "Down Beat"
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de outubro de 1991
Para variar, desta vez não deu Airto Moreira na cabeça!
Habituado há quase 15 anos a liderar os jazz poll da Down Beat - a bíblia do "jazz, blues & beyond" (como está em sua capa), o nosso instrumentista de maior sucesso internacional na 39ª escolha anual dos críticos internacionais convidados pela revista fundada há 58 anos para opinar sobre os melhores da temporada passada, ficou agora em terceira posição pelos 85 experts de vários países.
Nesta votação - em que não há participação de nenhum crítico brasileiro - o vencedor foi o pernambucano Nana Vasconcelos, há mais de 20 anos radicado nos Estados Unidos. Percussionista que durante muitos anos dividiu excursões (e gravações) com Gismonti - e hoje tem marcante carreira solo - Nana Vasconcelos esteve uma única vez em Curitiba numa temporada que merece ser recordada. Foi em 1972, nos primeiros meses em que funcionava o Teatro do Paiol o então empresário Benil Santos trouxe a cantora Nara Leão, para uma temporada de fim-de-semana. Na época, Nara dividia seu show com um jovem cearense que começava sua carreira - Raimundo Fagner. E como músicos, acompanhavam nada mais, nada menos do que Wagner Tiso (piano), Novelli (baixo), Chico Batera (bateria) e Nana Vasconcelos na percussão.
A temporada teve exatamente 80 espectadores nas três noites.
Benil Santos amargou um prejuízo imenso e jurou que nunca mais voltaria a promover um show em Curitiba.
Fagner só voltaria a aqui se apresentar mais de dez anos depois.
Se fosse possível reunir os quatro instrumentistas que, anonimamente, então, estiveram no Paiol, seriam precisos muitos dólares.
Coisa desta nossa Curitiba - que, oh! Ironia - dizem ser uma "capital cultural".
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Voltando ao jazz poll da Down Beat (edição agosto/91, US$ 3,25, em Curitiba possível de encontrar na revistaria, Visconde do Rio Branco, 1), entre os percussionistas, abaixo de Nana ficaram Tito Puento, Airto, Famoudou Don Moye e Trilok Gurtu (que tem feito alguns trabalhos com Airto, inclusive sua "Missa Spiritual".
Um motivo de orgulho: Milton Nascimento foi escolhido o artista internacional do ano (world beat artista of the year), ancabeçando uma relação em que aparecem a seguir Youssou N'Dour, Eddie Palmieri, Tito Puente, Ali Farka Toure, Astor Piazolla e Thomas Papfumo. Ou seja: com exceção do percussionista Puente e de Piazolla, todos artistas do terceiro mundo ainda desconhecidos no Brasil.
São quase 50 as categorias do poll em que votam os críticos (a mesma revista promove anualmente uma escolha com indicações dos leitores) e os quadros valem para mostrar a tendência up to date do jazz & adjacências com inúmeros nomes que ainda são desconhecidos no Brasil. Mesmo os discos do ano, em sua maioria, estão ainda inéditos entre nós - como é o caso de "Dream Keeper" com Charlie Haden e sua "Liberation Music Orchestra" (ECM, etiqueta alemã sem representação no Brasil). Os outros seis álbuns votados para esta categoria também só nas importadoras - ao preço acima de Cr$ 7 mil - "Extensions" (Davie Holland, ECM); "Hearinga Suite" (Muhal Richard Abrahms, Black Saint), "Portraits" (Randy Weston, Verve); "Epitaph" (Diversos artistas, Columbia); "Tribute" (Keith Richard, ECM); "Art Ensemble of Soweto" (Art Ensemble of Chicago, DIW) e "Dropping Things" (Batty Carter, Verve).
"Neil Young & Crazy Horse Ragged Glory" (Reprise Records) é o "rock álbum of the year"; "All My Life" com Charles Brown (Busseye Blues/Rounder) o disco de blues, "Roots Revisted" (Maceo Parker) o de R&B/Soul e "The Rhythm of the Saints" com Paul Simon (Warner, já editado no Brasil) o "world beat álbum of the year". A melhor reedição também já saiu no Brasil: "The Complet Recordings" com o guitarrista Robert Johnson, que a Sony (ex-CBS) editou em CD e vinil há 120 dias. Na categoria de reedições, nos EUA saíram outras preciosidades - votadas no poll da DB e de deixar com água na boca: Roland Kirk (série completa da Mercury), o integral de Charlie Mingus na etiqueta Debut; os primórdios do pianista Jelly Roll Morton na RCA e a famosa "The Complet Dean Benedetti Recordings" com gravações até agora inéditas de Charlie Parkers - numa edição da pequena etiqueta Mosaic, dificílimas de serem encontradas mesmo em Nova York.
LEGENDA FOTO - Airto: agora ficou em terceiro entre os melhores percussionistas de jazz do mundo.
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