No campo de batalha
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 15 de setembro de 1988
1) Um índio circula pelas salas de exibição da Jornada filmando os eventos com uma câmara de vídeo: Pedro Mendes Gabriel veio representar a tribo Ticuna na exibição do vídeo "Tonu" (Nossa Sabedoria), dirigido pelo antropólogo Renato Pereira.
2) Pela primeira vez na história da Jornada uma produção do Paraguai, de rara filmografia (o mercado é ocupado totalmente por produções estrangeiras): "Todos Conecemos El Final", vídeo de 11 minutos, de Juan Carlos Meneglia, ficção de narrativa não convencional, com imagens voltadas para o surrealismo.
3) Acompanhando a mostra com filmes e vídeos "chicanos", veio a Salvador o diretor do Festival de Cinema de San Antonio, no Texas (EUA), Eduardo Diaz. Entre os documentários que foram indicados para esta mostra voltada a produções de língua espanhola e da América do Sul, está "A Classe Roceira", de Berenice Mendes.
4) Há grandes possibilidades de "O Mundo Perdido de Kozák", de Fernando Severo, ser selecionado para os festivais internacionais de Obberhausen e de Havana. A Sra. Eva Schmidt, uma velhinha de cabelos brancos, simpática, da comissão de seleção do Festival de Obberhausen - a mais importante mostra do cinema documentário da Europa - veio ao Brasil e já havia visto o filme de Severo no Rio-Cine. Gostou.
5) A mostra de filmes chicanos, trazida por Eduardo Diaz, é a primeira oportunidade de se ter conhecimento de um novo cinema que começa a se impor na indústria cultural americana, não só pelo grande público nele interessado (são cerca de 30 milhões de chicanos morando nos EUA) como pela força de suas imagens, retratando sobretudo a realidade de vida dos descendentes de mexicanos, que possuem cultura muito particular e interessante.
6) Foi emocionante a abertura do simpósio internacional "Cinema: Direitos Humanos no Terceiro Mundo". Depoimentos de um chileno - no domingo, 11, fez 15 anos do assassinato do presidente Allende, no golpe militar do general Pinochet - e de um índio, transmitiram grande impacto à platéia. Na segunda reunião, o cineasta João Batista de Andrade falou sobre seu filme "Wilsinho da Galiléia", sobre um marginal paulista, morto pela polícia em 1978 e que nunca chegou a ser exibido na televisão, embora tivesse sido produzido originalmente para o "Globo Repórter".
7) São três os subtemas em discussão no simpósio dos direitos humanos, o evento político da Jornada: o menor abandonado, a dívida externa do terceiro mundo e o direito de autodeterminação dos povos.
8)Além de competir como média-metragem, o filme "Meninos de Rua" de Marlene França, se inseriu perfeitamente no contexto das obras-temas de direitos humanos. O filme de Marlene França (que há alguns anos fez o belo documentário sobre o Frei Tito) é um retrato corajoso da infância abandonada em São Paulo, refletindo a situação nacional.
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