1) - Maria Letícia, premiada como melhor diretora no Festival do Cinema de Curitiba - e ganhando assim uma passagem aérea da Lufthansa, Rio-Frankfurt - não veio a Brasília, onde seu filme "1º de Abril - Brasil", foi exibido na mostra informativa. Mandou a atriz Tessy Callado, filha do romancista Antônio Callado ("Quarup"), que foi a primeira a chegar. xxx 2) - Dos filmes apresentados na mostra informativa, realizado à tarde, no Cine Brasília, o mais procurado pelos jornalistas foi "Corpo em Delito", de Nuno César Leal, que conquistou os principais prêmios em Natal. O personagem, Athos Brasil (Lima Duarte, numa interpretação esplêndida) é um legista que durante a repressão assina falsos laudos para justificar mortos pela ditadura. xxx 3) - A cobertura da imprensa ao Festival do excelente. Os dois principais jornais da cidade - "Correio Brasiliense" e "Jornal de Brasília" - dedicaram durante uma semana, média de 5 páginas de seus bem editados segundos cadernos ao evento. Críticas dos filmes, análises profundas, entrevistas, numa mostra de imenso profissionalismo. xxx 4) - Ney Sroulevich, diretor comercial da Embrafilme e diretor geral do FestRio, na ponte aérea Brasília-Rio-Fortaleza, onde dia 23 começa a 6ª edição da mostra internacional. Afora 18 filmes em competição, duas superproduções hor concours: a cópia restaurada de "Laurence da Arábia" e "Splendore", de Ettore Scolla. O júri de curta-metragens do FestRio será presidido pelo cineasta Pedro Jorge de Castro, realizador do episódio "O Sinal da Cruz" e de "Brasília: última utopia" e que confirma para 1990 a vinda do projeto "A Bodega dos Taviani", que incluirá Curitiba, em promoção conjunta com o Museu da Imagem e do Som. xxx 5) - Julio Bressane antecipou seu novo projeto: "O Mandarim", um longa-metragem em torno do cantor Mário Reis, cuja voz sempre o fascinou. Se decidir dublar a voz do ator principal o papel será para Mário Gomes. Já Rogério Sganzerla, outro cineasta vanguardista, quer fazer há anos um filme sobre Noel Rosa. Em 1982, em "Tabu", Julinho colocou na tela um encontro de João do Rio, Oswald de Andrade e Lamartine Babo, este interpretado por Caetano Veloso, seu amigo, e que volta a atuar em "Os Sermões". xxx 6) - Bressane, em suas entrevistas, tem procurado desmistificar o termo "underground" (ou udergrud, segundo os mais irônicos), que só foram "inventados" para marcar o preconceito contra o trabalho que ele e Sganzerla fazem há duas décadas, em linguagens revolucionárias para o cinema. "Underground não há, é frescura". No final do debate, quando um jornalista indagou sobre seu futuro, disse: "Quero continuar implacável. Isto é, não quero virar placa jamais". xxx 7) - Tavinho Moura, autor da trilha (belíssima) de "Minas Texas", veio com seu violão. Queria trabalhar nas canções para uma peça sobre a Conjuração Mineira, mas foi tão solicitado por amigos que acabou ficando apenas na intenção. Já o pianista Aécio Flávio, autor da trilha de "Que bom te ver viva" (a partir do tema de Fernando Moura), deu canja todas as noites no Tower, agradável piano bar no 16º andar do Carlton Hotel. E estimulou vocações canoras: desde a gaúcha Marlene Cartodio, coordenadora de festividades da Embrafilme, até a encantadora Julia, 9 anos, filha da cineasta Lucia Murat, uma das duas presenças infantis no Festival. A outra, Nôa, 10 anos, foi a filha de Julio Bressane. xxx 8) - Lucia Murat, cujo pai, o médico Miguel Vasconcelos (1906-1980) nasceu em Palmas - e que tem muitos parentes no Paraná - tem um projeto musical para 1990: uma série de especiais para a televisão, com roteiro do jornalista Tarik de Souza, crítico musical do "Jornal do Brasil". xxx 9) - O filme "Brasília: a última utopia", que encerrou o Festival, com seus seis episódios, marca o reaquecimento do cinema do Centro-Oeste, que tem uma superprodução em fase de produção: "Dona Dica", rodada em Goiás.

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Almanaque

Coluna ou Seção: Tablóide

Página: 3

Data: 08/11/1989

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