No crescimento das superlojas a transformação da cidade (II).
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de novembro de 1980
ALGUMAS horas de hoje estão reservadas pelo engenheiro Cassio Tanigusshi, presidente do IPPUC, economista Alberto Paranhos, supervisor de planejamento da mesma entidade e outros técnicos, além de um possível encontro com o prefeito Jaime Lerner, para definição da ocupação que o grupo Arthur Lundgreen pretende dar a mais de mil metros quadrados adquiridos ao lado de sua loja "Muricy", na rua José Loureiro. Como registramos domingo, assim como o grupo C&A investiu Cr$ 140 milhões na aquisição de dois velhos sobrados no primeiro quarteirão da Marechal Deodoro possibilitando ampliar sua loja em mais de 20 mil metros quadrados, também o grupo das Casas Pernambucanas, que controla a Muricy - vai investir milhões para tornar mais competitiva sua presença no centro da cidade.,
Uma das idéias é de que a transfusão dos velhos casarões na Rua José Loureiro, atualmente alugadas à Móveis Ronconi S/A, filiais da Papelaria Santa Cruz e Morifarma, além de uma minioficina de consertos de relógios, em um prédio de oito andares - exclusivamente para fins comerciais, o trecho terá muito mais movimento e o fechamento daquela área para veículos, ampliando o calçadão não está fora de cogitação, bem como a ampliação da calçada em toda a extensão lateral da praça Carlos Gomes - paralela à canaleta do expresso. Com isto os pedestres terão uma área ampliada.
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Naturalmente, os pequenos comerciantes da cidade estão cada vez mais assustados com o gigantismo de grupos multinacionais e nacionais que investem somas impressionantes em Curitiba. Afora shopping centers, como o de Pinhais, representarem uma nova filosofia de vendas, a concentração de imensas lojas-de-departamentos, no centro, também significa uma concorrência mais agressiva. Até maio do próximo ano, a Mesbla S/A estará instalada no edifício Hamdar no prédio da Avenida Luiz Xavier em cujo térreo por mais de 40 anos funcionou o Cine Ópera. Os fundos edifício Carlos Monteiro foi transformado para a ampliação das Lojas Americanas S/A, que ostenta, em letras imensas, em sua fachada: "empresa brasileira de capital aberto". No inicio timidamente, mas sentindo as possibilidades locais, o grupo holandes C&A não só está investindo mais de um milhão de dólares na construção do shopping center de Pinhais através de sua subsidiaria, a Mondec - como também vai gastar meio bilhão de cruzeiros para construir dois prédios imensos um de cinco, outro de oito andares, interligados no mesmo espaço, nas XV e Marechal. E as Lojas Muricy também crescerão bastante num desenvolvimento que já está estimulando a Hermes Macedo S/A, hoje uma das 200 maiores empresas do País a agilizar o projeto de aproveitar melhor o terreno que possui na esquina das ruas José Loureiro/Barão do Rio Branco, arrendado a um particular que explorando-o como estacionamento tem um lucro líquido mensal ao redor de Cr$ 800 mil.
A questão que preocupa os pequenos comerciantes não é só a concorrência das grandes lojas-de-departamentos, oferecendo todo e qualquer tipo de produtos, mas também as possibilidades que as mesmas dispõem de vender a preços mais baratos. Afinal, integrando grupos nacionais (ou internacionais, como a C&A) impõem preços aos fabricantes ao fazerem aquisições de milhares de peças de um mesmo produto chegando, obviamente, ao consumidor com as ofertas mais oportunas. O próprio IPPUC entende esta situação o que leva a curto e médio prazo muitas pequenas lojas, comerciantes tradicionais mas que não se agilizaram para acompanhar os novos tempos, a cerrarem suas portas ou transferirem-se aos bairros mais distantes, ao longo de estruturais.
A partir desta semana, uma equipe de vendedores dos mais ágeis, contratados pela Mondec, deverá agir no eixo Rio-São Paulo oferecendo as últimas lojas ainda existentes no Shopping Center de Pinhais. Na mesa do executivo Ricardo Quadros Cravo, diretor da Mondec no Paraná, estão mais de 25 propostas feitas a grandes lojas do Paraná que apesar de necessitarem ampliar suas frentes de vendas não se decidiram ainda a pagar os preços que variam de Cr$ 2 a Cr$ 10 mil por metro quadrado na futura área comercial de Pinhais. Dentro do pragmatismo empresarial que rege executivos de empresas como a Mondec, os negócios não podem ficar na dependência de empresários tímidos, de forma que frente às perspectivas que um investimento como o de Pinhais oferecem a médio prazo, as vendas serão feitas, nesta etapa final de lojas, a quem se interessar. E se com isto a maioria dos lojistas que ali se instalarem pertencem a grupos de outros Estados (e mesmo países) é uma simples questão de agilidade e coragem empresarial. Ricardo Cravo, executivo de larga quilometragem em múltiplas empresas, é otimista em relação aos negócios: a distancia do shopping center de Pinhais não deve oferecer riscos, já que "o tempo economizado no rápido acesso compensa a todos". Com números seguros e muitos exemplos, prova que é mais econômico viajar 10 km para atingir o shopping do que enfrentar o congestionamento, a dificuldade de estacionamento e outros problemas do centro da cidade. Mas admite também que a área central ainda "oferece perspectivas", tanto é que a C&A - a principal acionista da Mondec - esta fazendo o investimento de milhões para ampliar suas lojas atualmente ocupando um prédio de frente para a Rua 15 de Novembro.
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O Carrefour, que ocupará alguns milhares de metros na área vizinha ao shopping center de Pinhais, começa a programar sua inauguração, o que também leva os empresários do setor de supermercados a colocar as barbas-de-molho. A alegação de que "o mercado é amplo e comporta espaço a todos" passa a ser questionada, pois embora gêneros de primeira-necessidade, roupas, etc. tenham uma clientela permanente, o esvaziamento do poder aquisitivo da classe média e o empobrecimento cada vez maior das faixas "b" e "c", reduz, obviamente, a capacidade de absorveção da oferta de produtos tanto em lojas-de-departamentos como, principalmente, em supermercados. Com um know-how internacional, instalada em dezenas de países, com seus supermercados sempre montados na entrada (ou saída) das grandes cidades, o Carrefour dispõe de uma técnica especial de vendas o que faz com que mesmo os mais poderosos concorrentes - como o Jumbo, cuja verba publicitaria é hoje das maiores do País - tenham que reprogramar sua estratégia frente à entrada na arena de concorrentes de tal dimensão.
LEGENDA FOTO 1 - Novos tempos.
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