"Nossa América", a revista que valoriza o Continente
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de fevereiro de 1992
Milton Eric Nepomuceno, jornalista e escritor, porta voz oficial do grupo de intelectuais, artistas e políticos que embarcou para Cuba no chamado "Vôo da Solidariedade", está presente em três edições recentes saídas no Brasil.
Como editor de "Nuestra América/Nossa América", publicação bimensal do memorial da América Latina de São Paulo, está fazendo desta revista de altíssimo nível editorial e gráfico uma das publicações mais importantes do continente. Graças ao seu relacionamento internacional - fruto de duas décadas de vivências profissionais em vários países da América Latina e também na Europa - Milton Eric Nepomuceno foi a escolha certa para a função executiva de editar uma publicação que a cada 60 dias possibilita o melhor conhecimento de cultura, problema & gente de "Nossa América".
Amparado num conselho editorial no qual há nomes de expressão Alfredo Bosi (presidente), Antônio Callado, Augusto Rosa Bastos, Ernesto Cardinal, Ernesto Sábado, Eduardo Galleano, Oscar Niemeyer, entre outros que dispensam maiores apresentações, "Nossa América" vem circulando há 8 meses (solicitações podem ser feitas ao memorial, avenida Mário de Andrade, 664, CEP 01156, SP).
O número 4 (novembro/dezembro/91), em suas 96 páginas, reúne textos e colaborações da maior importância. Assim, o panamenho Carlos Fuentes, 63 anos, abre a revista com um ensaio sobre "O novo encontro começa hoje", seguido de análise que Roberto Ilari faz dos "Poemas Negros" de Jorge de Lima, enquanto que a pesquisadora Diana Falcoff antecipa ilustrações inéditas de Portinari sobre índios canibais da América Latina, parte de um livro ("AL: palavra, literatura e cultura"), que o memorial editará em 1992. Em sua seção de inéditos há um belíssimo perfil sobre José Lezama Lima, intelectual e escritor de maior importância mas até hoje praticamente ainda desconhecido do público no Brasil. Em compensação, foi o próprio editor Nepomuceno quem entrevistou e apresenta Eduardo Galeano, autor de "As Veias Abertas da América Latina" numa matéria que ocupa de 7 páginas, acrescido a um texto do autor ("Ser como Eles" em mais 8 páginas - sempre profundamente ilustradas. Washington Novas escreve sobre a Amazônia, Oscar Niemeyer explica em suas linhas suaves e visuais o que será o Parlamento Latino-Americano - obra anexa ao Memorial, Jorge Castañeda analisa "As Esquerdas em seu Labirinto" e há textos também inéditos de Nelida Piñon (o conto "Em Busca do Ouro"), Alan Paula ("Puig: as miniaturas do cotidiano") Gabriel Garcia Marques ("Falemos do Medo de Avião") e Mário Benedeti ("Triste Número 1"). Paulo Antônio Paranaguá, brasileiro que vive em Paris mas é o maior conhecedor do cinema latino-americano, oferece um belíssimo perfil do cineasta Fernando Ezequiel Solanas (Olivos, Buenos Aires, 16/2/1936), que após o político "La Hora de Los Hornos", consagrou-se internacionalmente com "Tangos: O Exílio de Gardel" e "Sur", trabalhando atualmente na montagem de seu novo filme, parte do qual rodado no Brasil: Ä Viagem".
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