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Aramis

O frio cobriu as estrelas mas imagens brilharam

Iniciado como uma modesta Semana do Cinema Brasileiro o hoje consagrado Festival do Cinema Brasileiro de Gramado tem sua história. E principalmente histórias às margens - como todo bom festival que se preza. Nos primeiros anos era realizado entre janeiro/fevereiro, mas como coincidia com a chamada alta estação turística na paradisíaca cidade na Serra gaúcha, foi sendo deslocado para abril ou maio - procurando colocar-se entre a festa do Oscar e o Festival de Cannes. Por dois anos (1984/85) a abertura coincidiu com a noite de festa da entrega dos prêmios da academia - o que fazia com que os artistas, cineastas etc. corressem do cinema para seus apartamentos no Hotel Serra Azul - então sede do Festival - para assistir, mesmo que em modestos aparelhos p&b a (ainda) maior manifestação de marketing cinematográfica. Este ano, excepcionalmente, Gramado teve que adiar para o período mais rigoroso do inverno o festival devido a demora nas obras do cine Embaixador que há muito necessitava de uma reforma e ampliação, pois se nos 10 primeiros anos comportava um festival modesto (embora já significativo) em suas pretensões, a partir de 1982, quando o empresário Enoir Zorzanello, vice-prefeito, assumiu a coordenação do evento - sempre apoiado numa comissão eficiente (incluindo críticos de expressão de Porto Alegre) o Festival só cresceu. A cada ano multiplicaram-se os pedidos de superstars do eixo Rio-São Paulo - especialmente da constelação global - interessados em ali estarem presentes, mesmo quando estão ligados diretamente aos filmes em competição. Com filmes em competição refletindo a instabilidade de nossa indústria cinematográfica, Gramado é o melhor termômetro do cinema brasileiro - já que abre a temporada de eventos cinematográficos, que inclui vários outros festivais, competitivos ou não (Rio Cine-Festival, em agosto; Brasília, Fortaleza e Natal, em datas ainda sujeitas a confirmação; e o FestRio - que também abre grande espaço para o cinema brasileiro - a exemplo do que fez a Mostra do Cinema Latino-Americana, promovida pelo governo Álvaro Dias, em Curitiba (3 a 10 de outubro/87), que ao lado de filmes inéditos da Argentina, Peru, Cuba e Colômbia (que agora, às segunda-feiras, vêm sendo exibidos pela Rede Globo, na primeira vez que o cinema destes países chega a esta network) deu a maior atenção para o melhor da produção cinematográfica brasileira de 86/87, com a felicidade de abrir com a primeira exibição no Brasil de "Leila Diniz", de Luíz Carlos Lacerda - cujos méritos foram confirmados pela aceitação do público e inúmeras premiações (a última das quais o troféu Leon Hirzman de Cinema). O FRIO & O CALOR - No sábado, 25, apesar do sol aparecer ao meio dia, foi o dia mais frio do festival - com a temperatura caindo para zero grau à tarde. Dois médicos, de plantão no Hotel Serrano, atenderam dezenas de nomes conhecidos com problemas de saúde, agravados pelo frio e, à noite, ao subir ao palco do cine Embaixador, para anunciar os vencedores da categoria de curtas nacionais, o ator Osmar Prado disse que temia ter apanhado uma pneumonia. Encasacados, blusas de lãs, luvas, chapéus, bonés e gorros - evitando, ao máximo, andar pelas ruas bem cuidadas de Gramado - nomes dos mais conhecidos e populares, não estavam, absolutamente, preocupados em mostrar elegância. Mesmo as estrelas globais mais conhecidas - a começar por Malu Mader (que devido as gravações de "Fera Radical", ficou numa ponte aérea indo e vindo 3 vezes para acompanhar o Festival no qual concorria com dois dos filmes mais importantes - "Dedé Mamata" e "Feliz Ano Velho" - também preferiram o aquecimento do que a elegância transparente. A única beleza jovem que se dispôs a enfrentar o frio para exibir seu corpo - a starlet Lilian Ramos, cearense de Fortaleza, 26 anos, e que após aparecer nua em "Playboy" e "Ele & Ela" ganhou um pequeno papel em "Atração Satânica" (de Fauzi Mansur, ainda inédito), conduzida pelo sempre atencioso (e de estremo bom gosto em termos de escolhas femininas) Walter Hugo Khouri, era a única presente na festa de abertura vestindo um traje preto, com generosos decotes que davam a visão perfeita de seus seios - uma das razões, por certo que a está fazendo ser uma cover girl requisitada. Só que assim como se destacou nos dois primeiros dias do Festival, Lilian - simpática e que já fez teatro (substituiu a Roberta Close em "Somente Às Quarta-Feiras"), acabou desaparecendo na quarta-feira. Houve quem falasse de que sua generosa exibição dos seios (e coxas) na noite de segunda-feira lhe havia causado um internamento hospitalar. Diva é sempre Diva e Tônia Carrero, agora (finalmente) assumidos 65 anos, foi a mais sofisticada das atrizes presentes em Gramado - que freqüenta regularmente, como boa gaúcha que é. Chegou no domingo e ao desembarcar no aeroporto Salgado Filho já mostrou sua "categoria" de superstar: as quatro enormes malas em que trazia uma verdadeira coleção de trajes com as mais famosas griffes não puderam ser acondicionadas no ônibus de turismo que transportava os convidados a Gramado e, assim, ganhou condução especial. Como faz sempre, Tônia prefere ficar no Hotel Kur - estabelecimento que tem uma clínica geriátrica famosa nacionalmente e que lhe oferece tratamento VIP. Rubem Braga - (que uma semana antes havia vindo a Curitiba, para a mesa-redonda sobre a obra de Poty Lazarotto mas acabou ficando doente, sem poder sair do Araucária Palace Hotel) - iria também a Gramado, mas acabou cancelando a viagem. Quem foi, foi outro de seus maiores amigos, Paulo Autran, que, ao desembarcar, recebeu o convite para presidir o júri de longa-metragem - tarefa que exerceu com extrema dignidade. Há 3 anos, quando "Marvada Carne", de André Klotzel, recebeu 13 Kikitos, devido a mediocridade dos filmes em competição, o júri, corajosamente, apresentou uma nota lamentando o nível baixo da produção - que estragou o clima na noite de encerramento e fez o produtor Luís Carlos Barreto quase engalfinhar-se fisicamente com alguns de seus membros. Este ano, o clima foi de tanta paz e rasgação de seda, que já na quinta-feira, Autran subia ao palco para "destacar a excelente organização do evento", enquanto o júri de curtas e médias metragens, presidido pelo exibidor Mário Leopoldo, salientou o nível dos filmes nesta categoria , num ato significativo para que, como sócio majoritário de mais de 150 cinemas no Sul do Brasil (inclusive muitos no Paraná) é encarado como inimigo do cinema brasileiro - salientou a importância dos bons filmes chegarem às telas, independente de suas metragens. Aplausos merecidos. LEGENDA FOTO 1: Tônia Carrero: superstar de preto, mas sem prêmio. LEGENDA FOTO 2: Paulo Autran, presidente do júri, com Diogo Vilela.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
29/06/1988

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