O grande espetáculo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 26 de fevereiro de 1975
A presença de quase 3 mil pessoas no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, segunda-feira à noite, para aplaudir "Brasileiro, Profissão Esperança", veio confirmar as possibilidades da grande casa de espetáculos em termos financeiros. E, ontem pela manhã, a partir das 7.45 horas, filas enormes se formaram diante das bilheterias do teatro, esgotando não apenas a lotação para o espetáculo da noite (Jorge Bem) mas também do restante da programação: Elizeth Cardoso e conjunto de Moacyr Santos na noite de hoje, Milton Nascimento e o Som Imaginário amanhã, "A Cena Muda" com Maria Bethania e o Terra Trio na sexta-feira. "Tempo & Contratempo" com Chico Buarque de Holanda no sábado, e, último espetáculo do encontro. Chico e MPB-4, no domingo.
Desde a inauguração do auditório, no dia 12 de dezembro último, a maior sala de espetáculos não recebia uma avalanche tão grande de gente. Um público entusiasmado, que não regateou aplausos no belíssimo espetáculo que Bibi Ferreira e seu marido, escritor Paulo Pontes , conceberam para homenagear Dolores Duran (1939-1959) e Antonio Maria (1922-1964). "Brasileiro, Profissão Esperança" é uma mostra de quanto pode uma boa direção, um texto inteligente e dois bons intérpretes - a cantora Clara Nunes, até agora admirada antes como sambista da pesada, e o veterano Paulo Gracindo - fazer de uma idéia simples para um show-comunicação. Se o espetáculo da família [Caymmi], apesar da extraordinária presença do veterano Dorival, com seus três harmoniosos filhos (Dory, Danilo e Nana), mais dois bons instrumentistas (o baixista Fernando Leporace e o baterista João Palma, pecou pela falta de estrutura - compreensível, já que até então a família, só havia cantada unida, uma única vez, na abertura da Feira da Bahia, promovida pela Bahiatursa, no Anhembi, em São Paulo - o espetáculo "Brasileiro Profissão Esperança" foi perfeito. Ou quase perfeito, pois Bibi Ferreira passou nada menos que 7 horas no teatro (chegou somente às 14 horas de segunda-feira a Curitiba) para adaptar o espetáculo, concebido originalmente para as amplas condições oferecidas pela cervejaria Canecão, na Guanabara, ao auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, ainda com naturais problemas de estrutura técnica. Dois projetores em 35 mm tiveram que ser instalados, às pressas, para a projeção dos bonitos filmes que Ipojuca Pontes realizou especialmente para esta produção e que, com os slides, enriquecem grandemente o espetáculo. Paulo Gracindo, homem que vem atravessando todas as fases artísticas nestes últimos 30 anos (Rádio Nacional, teatro, telenovelas na Globo) confere extraordinária força dramática aos textos de Antonio Maria, jornalista admirável que, manteve por 13 anos uma das melhores colunas da imprensa brasileira na melhor fase do vespertino "Ultima Hora". As crônicas daquela fase feliz de boêmia e música foram reunidas, após sua morte, no livro "O Jornal de Antonio Maria", hoje, esgotado. Clara Nunes, sambista que deve muito de sua carreira ao ex-noivo, o paranaense Adelzon Alves, está segura e versátil nos diferentes gêneros musicais interpretados neste [espetáculo] de grande beleza, que, lamentavelmente, violonista e cantor Luís Roberto, ex-Os Cariocas em sua última fase, num solo magnífico, mostrando uma das mais belas - e paradoxalmente menos conhecidas - músicas de Antonio Maria: "Portão Antigo"2.
Tags:
- A Cena Muda
- Adelzon Alves
- Antônio Maria
- Bibi Ferreira
- Chico Buarque de Hollanda
- Clara Nunes
- Dolores Duran
- Elizeth Cardoso
- Feira da Bahia
- Fernando Leporace
- Ipojuca Pontes
- João Palma
- Jorge Bem
- Luís Roberto
- Maria Bethânia
- Milton Nascimento
- MPB
- Os Cariocas
- Paulo Gracindo
- Paulo Pontes
- Profissão Esperança
- Rádio Nacional
- Som Imaginário
- Terra Trio
- Última Hora
Enviar novo comentário