Login do usuário

Aramis

O som experimentalista de Pink Floyd, Stomu e de Stockhausen

O mais revolucionário dos grupos de música pop, o conjunto inglês Pink Floyd foi formado em princípio de 1966no London`s Polytchnicia School of Archiecture onde estudavam Nick Mason Roger Waters e Richard Wright respectivamente baterista, guitarrista e pianista. E na Escola de Arquitetura com auxilio de um amigo e compositor de suas primeiras obras, Syd Barret os três jovens iniciavam um trabalho que iria se cristalizar como o mais importante corrente no universo pop. A Mick Lowe eles devem as primeiras experiências da << light-show >>, com projeção de slides e desenhos de << pop arte >> sobre o conjunto e os espectadores novidade que iria ficar sofisticada ao extremo no futuro. Procurando recriar em sua música inquietante - ao selvagem, etérea, o clima de uma << viagem >> sem a necessidade - ao menos a parente - de ingeriram tóxicos o entusiasmo em torno de seu trabalho cresceria de forma impressionante. Na Columbia em maio de 1967 faria um primeiro CS e no outono do mesmo ano o segundo CS - com << See Emoly Play >> - já começaria a ser notado pela originalidade do grupo. Mas evidentemente a criatividade do conjunto jamais poderia ser externada num simples disco de duas músicas e ainda na naquele ano >>. Ali já começavam a explorar o valido caminho de somar aos simples sons do instrumento recursos eletrónicos gritos cantos de pássaros enfim toda uma parafernália de recursos acústicos mas empregado com extrema inteligência, com a participação do guitarrista Davi Gilmour, amigo de longa data de Waters fariam o 2º lp - << A Saucerful of Secrets >> (Columbia SOTX 340 1968). << Mome trilha sonora para um filme de Barbet Schroe der sobre o trafico de drogas foi o primeiro trabalho do conjunto em 1969 com musicas << calmas, belas e vertiginosas >> como escreveria Jean Maria Leduc em << La Pop-Music >> (Paris 73) E há cinco anos logo após a experiência cinematografia, registrariam o extraordinário << Ummagumma >> 2 lps gravados ao vivo durante uma apresentação no Birminghan e Manchester College of Comerce em junho de 1969. E só agora após o Pink ter conseguido se tornar um dos maiores sucessos no Brasil - onde seu sexto lp, << Atom Mother >> 91970) aqui foi editado somente em 73, mas com tanta repercussão que em pouco tempo sairiam - >>More >> << Meddle >> (71) << Obscured by clouds, (72) e mesmo, quase simultaneamente a Inglaterra o ultimo álbum do grupo << Dark side of the noon >> (73) O bom amigo - e sempre bem informado Tarik de Souza escrevendo em << Veja >> (16-1-74) sobre o Pink Floyd lembrou que em 1966 quando os lideres do rock - The Beatles - celebravam as melódicas baladas de seu LP << Revolver >> um obscuro mas turbulento quarteto das caves subterrâneas de Londres se dispunha a levar a questão até as últimas duvidas. E, precisamente no ano seguinte quando os mesmos Beatles experimentavam a música alucinógena de << Sgt Pep Per`s >> e os Rolling Stones liberavam seus domínios em << Their Satanic Majesties Request >> , o Pink Floyd também inglês tinha suas primeiras gravações overgrounds proibidas pela austera BBC de Londres. Quando gravou o decisivo << Ummagumma >> (nome onomatopaico sem tradução) o guitarrista Syd Garret, líder do grupo e desbravador das fronteiras lineares da música popular já havia sido internado numa clinica de doentes nervosos e substituído por Dave Gilmour. E, segundo ainda Tarik << os espaços cósmicos gelados, as amplas planícies varridas por tempestades e as misteriosas cenas de violência sonhadas por Barret, << (Cuidado com esse machado, Eugene >> diz uma das faixas) tornaram-se reais. E as misturas eruditas ou orientais de << Ummagumma >> marcaram a queda de todas as barreiras e rótulos da então selada música pop. Ao vivo luzes variadas varrem o teto e as paredes, o gelo seco desprende uma fumaça fantasmagórica enquanto aos poucos a bateria transparente de Nick Mason se transforma numa bola de fogo. Sugestivamente a contrapa de << Ummagumma >>, (Odeon-Emi-Arvest, dezembro-73) expõe uma fileira de instrumentos e amplificadores que produzem e programam estes sons ilimitados. O Pink Floyd descerra o mito de Sisifo (Sysyphus) explora a abóbora astral (<< Astronomy Domine >>) ou viagem ao sol >> (<< Set tre Controls for the Heart of the Sun >>), recendo o espaço do álbum duplo de ruídos então inéditos >> Hoje com o publico - em especial o jovem - já consumindo a mais evoluída musica contemporânea - a crescente aceitação dos discos do Pink Floyd Emerson Lake & Palmer, Focus e, mais recentemente Rick Wakeman (<< The Six Wifes of Henry VIII >>, Odeon o melhor disco internacional lançado no Brasil em 1973) animaram até a Phonogram pela primeira vez editar no Brasil um lp de << Musica Moderna >> do contemporâneo Karlheinz Stockhausen (Deuthch Grammo phon, volume 5, coleção "Clássicos para Milhões). Esta crescente aceitação por uma música cerebral, as vezes quase chocante experimentalista faz com que o free jazz anos 50 com figuras do nível de John Coltrane (1926-1967) Miles Davis em sua atual fase - ou os quase desconhecidos no Brasil Pharaos Sanders ou Sun Ra - surjam quase digestivos apesar dos longos e monótonos (embora intensamente criativos) solos individuais ou utilização de instrumentos não convencionais - o que foi inclusive a porta de abertura para o Guarapuava no Aírton Guimorvan Morei entrar na corrente mais avançada da música norte americana tocando queixada de burro (que começou a usar em seus tempos de Quarteto Novo, ao lado de Hermeto Paschoal e Theo) em gravações com Milles Davis. O Pnk Floyd teve entre outros o mérito de fazendo uma musica altamente cerebral oferecer a um publico jovem de pouca informação sobre as correntes mais avançadas da criação contemporâneo uma lúcida abertura para o som de hoje em dia - que no trabalho de um Stockhausen se aproxima das salas mais eletrizantes influenciando trabalhos de toda uma geração de criadores. No Brasil por exemplo compositores como Marlo Nobre Almeida Prado (que em janeiro esteve em Curitiba participando do Festival Internacional de Musica) Lindebergue Cardoso Willy Oliveira Aylton Escobar e outros se inserem na linha mais corajosa da musica contem poranea - somando ao conhecimento adquirido em conservatórios esta total assimilação - aceitação do trabalho pop (ular) desenvolvido na Europa e Estados Unidos pelos chamados conjuntos de << maior seriedade >> em seu trabalho - e no qual o Pink Floyd te hoje ilustres seguidores os citados Emerson Lake & Palmer Focus Wakeman Yes (onde Rick Wakeman iniciou o Ekseption (que acaba de aparecer no Brasil com o lp Philips << The Besa Of Ekseption >> onde improvisa em torno de temas de Tcharkovsky, Bach, Mozarte Gerswin) The Who e vários outros. Curiosamente e Pink Floyd na capa deste<< Ummagumma >> - que com seus espaciais e distantes evoluindo por mundos desconhecidos de cenários de Science-Fiction dos romances de Ray Bradbury ou de << 2001 >> de Stanley kubrick - faz uma nostálgica homenagem a um musical tradicional: aparece em destaque o álbum com a trilha sonora do filme << Gigi >> produção de 1958 de Arthur Freed para a MGM direção de Vicente Minelli inspirado na novela de Camille Colette (1813-1895) com musica de André Previn Alan Jak Lerner e Frederick Loewe interpretadas por Leslie Caron no papel título Maurice Chevalier (1882-1972) como Honoré Lachaile e Louis Jourdan como Gaston Lachaille. E assim sintoma tico que musicas como << It`s a Bore >> >>The Parisians >> "The Night Tey invented Champagner >>, << Say a Prayer for Me tonight >>, "Trank Heaven for Little Girls >>, << I Remembert It Well >> e outras que há quase 20 anos quando o musical estreou na Broadway encantavam uma geração hoje beirando os 40 sejam curtida por músicos jovens como Waters Wright e Gilmour - que não prestaram esta clara e sincera homenagem se não vissem com muita importância o musical de Lerner - Loewe - Previn do final dos anos 50. Por isto garotada que curte - com inteligência - o Pink Floyd temendo que o musical dos anos 50 não é caretice. Ao contrario... A MUSICA DO ORIENTE Ao lado do extraordinário lp de Stockhausen - a Phonogiram também editou outro importantíssimo disco de musica contemporânea, que chega a entrar em algumas listas de críticos cariocas, como um dos 10 melhores discos internacionais de 73: "Stomu Yamash "Ta`s (Island Records/410.028, setembro/73), trilha sonora de "The Man From The East." Com uma bela apresentação - um desenho oriental, em fortes cores vermelhas na capa - este inquietante lp só se resente de uma falha: a insistência de qualquer material explicativo que informe ao ouvinte brasileiro sobre a importância do trabalho desenvolvido por Stomu Yamash`ta, do chamado "red Buddha Theatre", responsável ao lado de uma dezena de outros instrumentistas - entre músicos orientais e ocidentais - pelas seis longas faixas deste álbum experimentalista, gravado ao vivo no Carré Thorigny Theatree, em Paris, a 30 de outubro de 1972 e completado em novembro/72, em estúdios de Londres. Recorrendo-se a uma das raras informações publicadas a respeito deste inquietante lp ("Veja", 5.9.73, página110), sabemos que Stomu Yamashita e seu Red Buddah Theastre, fez há algum tempo uma longa excursão pelo mundo e que embora previsto, não chegou ao Brasil. Assim, sem qualquer preparo prévio para o publico - o que deve ter feito o disco fracassar nas lojas - a Phonogram editou este lp, "uma competente mostra das idéias do percussionista, regente, compositor e diretor Stomu- que se assina Yamash`ta talves ela sintética influencia dos nomes americanos", como acentuou Tarik de Sousa. O disco é a trilha sonora de "The Man from the East" ("O Homem do Leste") peça de estréia do Red Buddah Theatre no Festival de Avignon, na França. O critico do jornal inglês. "Evening News", escrevendo a respeito disso: Não há textos, diálogos, nem mesmo uma linha precisa de narração." E assim o LP segue a mesma disciplina diante das formas tradicionais: "O único elemento comum de suas seis faixas agressivamente desiguais é a percussão de Yamash`ta. Se é que ela pode ser chamada de normal" (TS). Quem é este estranho musico? 26 anos, filho do líder da Kioto Philarmonic Orchestre, é uma das promessas da chamada musica contemporânea a japonesa. Tarik o comparou, "pela imprevisão dos percussionistas atuais", ao trabalho do Guarapuava Airto Moreira e do pernambucano Naná Vasconceles (no campo do Jazz). Só que a simples percussão destes dois brasileiros, Yamash`ta acrescenta recursos técnicos bem amplos: uma poderosa orquestra e um grupo teatral. Em 1961, Stoma já era percussionista da orquestra de seu pai e trabalhava na trilha sonora dos filmes do cineasta Akira Kurosawa e com tanto (boa) influencia ele não deixaria de tocar com o Modern Jazz Quartet quando o grupo esteve no Japão e de formar o seu próprio conjunto de jazz. Aos 19 anos, chegou a fechada Metropolitana Opera Orchestra, de Nova York. Aberto a todas as tendências musicais, o rock não deixou de influenciar o seu Buddah Theatre, o que pode ser reconhecido na faixa de abertura do lp, que abre com "um ribombar pomposo" que lembra trilhas sonoras convencionais ("Surise"). Seguem-se trechos de guitarras convencionais ("Sunrise") e de guitarra comportada ("My Little Friend"), mas aos poucos, a musica japonesa invade as faixas em contra ponto com uma percussão aleatória e agressiva que inclui todo tipo de distorção de ritmo e até ruídos de água e molas que rangem agoniadamente. O mestre da musica de vanguarda, John Cage, já classificou stomu Yamas`ta de "o maior percussionista no momento". E para quem se interessa pela musica mais avançada/inquietante que se faz hoje no mundo, procurem conhecer este lançamento da Phonogram, prejudicado pela falta de uma promoção mais dirigida. A MUSICA DE STOCKHAU SEM Há muito tempo que Maurício Quadrio, o grande diretor da Phonogram, pretendia lançar no Brasil algum lp de Kalheinz Stockhausen, considerado o principal representante da musica serial na Alemanha e hoje, ao lado do polonês Panderecki o mais influente musico contemporâneo. Entretanto, não é fácil arriscar um investimento de muitos mil cruzeiros num trabalho altamente experimentalista, hermético. Afinal, há 4 anos, o mesmo Maurício havia editado o "Dies Irea" (Philips,....900.446), com o Oratório em Memórias dos Assassinados de Auschwistz, que apesar da excelência da gravação - Orquestra da Filarmônica de Cracovia e ser um dos mais representativos trabalhos do compositor Krystof Penderick )Polônia, 1933) não vendeu, em todo o Brasil, conforme depoimento do próprio Maurício Quadrio (debate" Quem Tem Medo de Musica Clássica?"< Teatro do Paiol, maio de 72) sequer uma centena de exemplares. Mas agora, animados pelo crescente volume nas vendas de lançamentos de musica clássica, além dos ambiciosos projetos especiais ("Beethoven", 40 lps; "Mozart", 70). Maurício Quadrio ao organizar a terceira série da coleção "Clássicos Para Milhões", reservou um volume - o numero 5 - para testar a existência do publico de musica de vanguarda. E nesta "música Moderna" (Phonogram/Deutsch Grammophon, 2538.152, fevereiro/74) , há possibilidade de conhecer uma amostra do trabalho de Stockhausen, tão discutido mas tão pouco conhecido no Brasil. Gravado nos estúdios eletrónicos da Rádio Alemã do Oeste Colônia, temos as faixas "" Gasang der Junglinge" (Canções dos Jovens" (4,30 minutos) e "Kontakte) (Contato) (8,20minutos). Já com a Orquestra e coro da Rádio Alemã do Norte, Hamburgo, com regências de quatro diferentes maestros - Kagel, Stockausen, Morkowsky e Giele, é a ultima parte de "Carne, para 4 orquestras e 4 coros"(7,35 minutos). A face A é encerrada com a parte central de "Telemusik" , realizada por Stockhausen no Estúdio da Musica Eletrónica na NHK numa de suas viagens a Tóquio. No lado B, a parte central de "Stimmung" com 8,53 minutos, foi realizada com o Collegium Vocale; Conjunto de Colônia da Academia Renana de Música. "Kurzwellen"(Ondas Curtas), em sua parte inicial, com 6,25 minutos foi executada por Johannes G. Fritsch na viola elétrica e receptor de ondas curtas, Aloys Kontarsky, no piano e receptor de ondas curtas; Alfred Alings e Rolf Gehhaar, percurssões e receptor de ondas curtas; Haraldo Bojé, Electronium e receptor de ondas curtas e o próprio Karlheinz Stockhausen, nos fitros e mixer. Finalmente, "Hymnen" (Hinos) a faixa mais longa, com 12,36 minutos, é uma realização exclusivamente eletrónica da Rádio Alemã do Oeste, Colônia. A transcrição dos detalhes desta gravação ajuda ao leitor/ouvindo a entender o que seja - ou pelo menos como é criada - a musica de Stockhausen; sons humanos somadas ao que mais avançado existe na eletrónica, numa simbiose perfeita e, que dentro dos conceitos musicais, é realizada com a maior segurança. Aliás, recentemente o Goethe Institut, trouxe a Curitiba, como contribuição ao Festival Internacional de Musica, uma amostra de foto/sons de jovens compositores da Alemanha, que demonstrou o trabalho que uma novíssima geração (idade média de 30 anos) desenvolve neste campo, altamente limitado em termos de consumo de publico mas importante como pesquisa e contribuição ao som de nos sós dias. Um assunto que, evidentemente, requer uma analise de especialistas, ficando nós, exclusivamente e sem qualquer pretensão, apenas nesta informação jornalística. Agora, uma questão: será que algum dos "inteligentes" donos de lojas de discos da cidade (para nem falar no Interior) se acorajou a comprar algum exemplar do lp de Stomu ou Stocyhausen?
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Musica Contemporânea
1
24/03/1974

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br