As ocorrências de Capiba e as memórias de Caetano
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de julho de 1986
Personificação da música pernambucana, o grande Capiba - Lourenço da Fonseca Barbosa, mereceu, há dois anos, quando fez seus 80 anos, uma série de homenagens. Afora as comemorações no dia de seu aniversário - 28 de outubro - seguiram-se outras que, de certa forma, estende-se até agora. Seu grande amigo e admirador, Hermínio Bello de Carvalho, produziu um belíssimo disco e sendo tema do concurso de monografias Lucio Rangel, teve um estudo sobre sua vida e obra - que ainda neste segundo semestre será lançado pela Funarte.
Forte e rijo, aos 82 anos - como mostrou em março último, como um dos mais ativos participantes do IV Encontro nacional de Pesquisadores da MPB, no Rio de Janeiro, Capiba é daquelas pessoas maravilhosas - aos quais não se sabe mais do que se admirar: se o talentoso compositor, o pesquisador das coisas populares ou o amigo de todas as horas. Capiba é um homem de muitas histórias, identificado ao seu Estado - Pernambuco, a cultura e a música brasileira.
Seus discos - que são muitos - dificilmente são encontrados nas lojas do Sul. Saíram pela hoje extinta Rozemblit ou, como aconteceu nos últimos anos, em produções independentes. Entretanto, suas composições - como "Maria Bethania" (que inspirou inclusive o nome da cantora baiana) ou "A Mesma Rosa Amarela" (parceria com o grande poeta Carlos Pena Filho) são conhecidas nacionalmente.
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Um dos maiores admiradores de Capiba é o Leonardo Dantas Silva, professor, jornalista e principalmente um inquieto animador cultural no Recife, onde é diretor de assuntos culturais da Fundarpe. Ali, entre tantos trabalhos marcantes, Leonardo criou s "Coleção Pernambucana", que em sua segunda fase chegou ao volume 22 com esta obra marcante e maravilhosa: "Capiba: O Livro das Ocorrências". Em 495 páginas, Capiba recorda fatos & coisas de sua vida, numa linguagem deliciosa, tão gostosa como se estivéssemos a ouví-lo em seu linguajar e sotaque tão característicos.
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Infelizmente poucos compositores brasileiros têm oferecido suas memórias, faltando, assim, a palavra de quem viveu os fatos. Por isto é importante que Capiba tenha, estimulado por Leonardo Dantas Silva, se debruçado sobre sua vida de música, amores e amigos e oferecido esta obra que tão bem intitulou de "O Livro das Ocorrências".
Outro compositor que também decidiu contar coisas de sua vida foi Pedro Caetano, 75 anos, paulista de Bananal, autor de tantos sucessos e que há dois anos publicou "Meio Século de Música Popular Brasileira - o que fiz, o que vi" (Editora Vida Doméstica, 139 páginas), que saiu estimulado pelos seus 50 anos de vida artística. No prefácio, José Ramos Tinhorão, lembrando que mesmo internacionalmente há poucas autobiografias de compositores - exceto "Minha Vida e Minhas Canções" de Maurice Chevalier e "Minhas bodas de Ouro com o Tango", de Francisco Canaro" (Memórias 1906/56), diz que "compositores e cantores são os primeiros a não saber nada de suas próprias carreiras". Assim, é uma alegria quando um ou outro nome ligado à música popular - como é o caso agora do compositor Pedro Caetano - resolvem passar suas lembranças para o papel diretamente (porque há também o caso das autobiografias escritas pelos outros, de que foi campeão o cantor Francisco Alves, autor de três versões de sua vida, cada uma dita a um jornalista diferente).
Sem pretensões literárias - mas com muita sinceridade - tanto Capiba como Pedro Caetano - trazem em suas memórias uma grande contribuição para nossa história musical.
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Os interessados em conseguir "O Livro das Ocorrências", de Capiba, poderão dirigir-se à Fundarpe - Diretoria de Assuntos Culturais - rua Floriano Peixoto, s/n° - Santo Antonio - Casa de Cultura de Pernambuco, 5.000 - Recife-PE, há também quase 50 volumes ligados a Pernambuco e à história do Brasil, criteriosamente selecionados e editados por Leonardo Dantas Silva, incluindo nisto obras raras e que foram redescobertas graças ao seu empenho cultural.
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