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Aramis

Os melhores sambas de todos os tempos

Não dispondo de estruturas [econômico]-estratégicas que lhe permitam disputar, passo a passo, a (imensa e de amplo poder aquisitivo) faixa de consumidores de música internacional - que vai dos clássicos da faixa etária 30/50, como Frank Sinatra ou Tony Bennet - até as mais estridentes revelações da música pop, as pequenas etiquetas e gravadoras [têm] que se voltar ao prestigiamento de novos valores da MPB ou a representação de igualmente pequenas gravadoras e etiquetas internacionais - desprezadas pelos holdings fonográficos multinacionais. O que é muito positivo em termos artísticos: em primeiro lugar, porque se dá chance aos novos de nossa música popular - muitas vezes marginalizados pelas grandes gravadoras; em segundo lugar, porque coloca ao alcance do público brasileiro gravações de etiquetas estrangeiras que, normalmente, não chegariam [às] nossas lojas - já que as grandes fábricas dispondo de catálogos numerosos não trocam o certo pelo duvidoso. Hoje, em rápido registro, vamos falar de alguns lançamentos de música popular brasileira, feito por fábricas e etiquetas que estão lutando para se firmar em nosso mercado fonográfico - numa disputa que não é fácil, meu irmão! OS MELHORES SAMBAS DE TODOS OS TEMPOS - Com este lp (403.5010 agosto de 74), o jornalista Sergio Cabral, um dos homens que mais defende (e entende) a nossa música popular brasileira, estréia como produtor na etiqueta-revelação do ano - Discos Marcus Pereira, de São Paulo, disposta a prestigiar o que existe de melhor em nossa MPB. Depois das [antológicas] coleções Música Popular do Centro-Oeste/Sudeste e Nordeste, lp de Cartola (felizmente nas paradas de sucesso na Guanabara, provando que a nossa melhor música popular também vende), discos de Paula Ribas e Luis N'Gambi ("Fados Brasileiros" e "Portugal Hoje", Carmen Costa e Paulos Marques cantando sambas de Paulo Vanzoline, entre outros lançamentos em pouco mais de 60 dias, temos agora além deste lp antologia, também discos individuais de Maranhão (o feliz autor de "Gabriela") e Carlos Marques, além do lp com o Coral da Universidade de São Paulo, que merecerão análises mais demoradas nos próximos dias. Aqui, vamos ao registro desta interessante produção de Sergio Cabral: o admirado jornalista d'"O Pasquim", solicitou a um grupo de homens que realmente se interessam por nossa MPB, através da pesquisa, divulgação e prestigiamento, que fizessem suas listas dos mais bonitos sambas de todos os tempos. Tarik de Souza, crítico do "Jornal do Brasil", "Veja" e "Opinião"; Albino Pinheiro, membro do Conselho de MPB do MIS-GB; e comandante-em-chefe da famosa Banda de Ipanema; Arley Pereira, do "Diário da Noite" e da TV-Tupi de São Paulo; Ricardo Cravo Albin, ex-diretor do MIS-GB e produtor do programa "Gigantes da MPB" na Rádio MEC; o mestre Lúcio Rangel; José Ramos Tinhorão, crítico do "JB" e autor de vários livros sobre música popular tão bem informados quanto polêmicos e o próprio Cabral. E mais: baseados numa reportagem publicada há mais de dez anos no "Jornal do Brasil", foram ainda somadas as preferências de dois dos maiores conhecedores da nossa música popular que morreram há alguns anos: Sérgio Porto (1923-1968) e Edson Carneiro (1912-1973). Como foram muito poucos os sambas que contaram com mais de dois votos - "o que revela a dificuldade de apontarmos os vinte melhores", diz Cabral, há uma boa promessa: "vimos que há uma imensa antologia a ser divulgada e resolvemos partir para uma série de discos contendo as preferências daqueles especialistas". E, realmente, se este projeto for executado - pela amostra deste primeiro volume, teremos uma discoteca fundamental de nosso Samba. Neste primeiro lp com um grupo chamado Os Novos Batutas - sem dúvida uma homenagem aos históricos os 8 Batutas, de Pinxinguinha e do qual o bom Donga, falecido na semana passada era o último remanescente - temos uma seleção inicial que faz este lp merecer lugar de destaque em qualquer discoteca de brasileiro que se preze. Lamentável apenas que não existam maiores informações na contracapa sobre o grupo Os Novos Baianos, o que é estranhável tratando-se de um produto tão cuidadoso como é Marcus Pereira. De qualquer forma, como a série deve continuar, esta falha será corrigida no próximo volume. Neste primeiro disco, os 20 sambas selecionados foram: "Ai que saudades da Amélia" (Ataufo Alves/Mario Lago), "Formosa" (Baden Powell/Vinicius de Moraes), "Adeus Batucada" (Silval Silva), "Falsa Baiana" (Geraldo Pereira), "A Fonte Secou" (Monsuetto-Tufic-Lauar-Marcleo), "Não Me Digas Adeus" (Paquito/Luis Soberano/João Correa da Silva), "Linda Flor" (Henrique Vogeler/Luiz Peixoto/C.Costa - M. Porto), "Foi Ela" (Ari Barroso), "Praça Onze" (Herivelto Martins/Grande Otelo), "A Voz do Morro" (Zé Kéti), "Agora é Cinza" (Alcebíades Barcelos/Armando Marçal), "Felicidade" (Antonio Carlos Jobim/Vinicius de Moraes), "Último Desejo" (Noel Rosa), "Se Acaso Você Chegasse" (Lupicínio Rodrigues/Felisberto Martins), "Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida" (Paulinho da Viola), "O Sol Nascerá" (Cartola-Elton Medeiros), "Jura" (Sinhô), "Se Você Jurar" (Ismael Silva/Nilton Bastos/Francisco Alves); "A Flor e o Espinho" (Nelson Cavaquinho/Guilherme Brito/Alcides Caminha), "Implorar" (Kid Pepe/Germano Augusto/João Gaspar). Alguém discorda desta seleção? Escreva a Sergio Cabral! xxx OS SAMBAS DA TOP TAPE Funcionando modestamente desde 1969 mas entrando agressivamente no mercado a partir de 1972, a Top Tape, Música, de propriedade de José Rosemblit Sobrinho, de uma das famílias de maiores tradições fonográficas do País (Discos Mocambo, Recife, a partir de 1954) está hoje entre as mais atuantes novas etiquetas do Brasil. Ao lado da representação de um dos catálogos de maior gabarito dos Estados Unidos - CTI Records, de Creed Taylor, através do qual vem colocando ao alcance do público brasileiro o que existe de mais contemporâneo no jazz, em especial da Costa Oeste, e também começando agora a lançar lps de músicas [clássicas] (inclusive a fábrica Supraphon, da Checoslováquia), a Top Tape não esquece a nossa música. E neste campo vem produzindo numa linha de aceitação internacional: sambas-de-enrêdo das Escolas de Samba da Guanabara, dos Blocos Carnavalescos e, especialmente, a série de 3 lps com a bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel - sem dúvida a melhor da Guanabara e que se constitui em discos indispensáveis aos estrangeiros que queiram levar um registro exclusivamente instrumental do "brazilian carnival". Apesar do atraso, aqui registramos as edições dos lps dos Sambas-enrêdo das Escolas de Samba dos Grupos 1 e 2, produzidos em colaboração com a Associação das Escolas de Samba do Estado da Guanabara, que a exemplo do que foi realizado em 1972/73, foi colocado a venda algumas semanas antes do Carnaval. Paralelamente a estes dois [álbuns] - precioso documentário dos temas apresentados - cada Escola de Samba dos mais famoso Carnaval do mundo, a Top Tape também produziu o lp "Sambas-de-Enrêdo" Que Todos Cantaram", onde estão reunidos alguns dos temas que ultrapassaram o período momesco e as suas escolas, inserindo-se como sucessos nacionais. Assim temos com o GRES [Acadêmicos] do Salgueiro, o "Nossa Madrinha", Mangueira Querida" (Tengo, Tengo) de Adil de Paula, o Zuzuca; com o GRES Estação Primeira de Mangueira, as "Lendas do Abaete" (Jajá, Preto Rico e Manoel), puxado por Genaro da Bahia; da Imperatriz Leopoldinense foi o célebre "Martin Cererê" de Zé Catimba (José Ignácio dos Santos) e Gibi (Walter Pereira). Menos conhecido, mas igualmente interessante é o "Viagem Encantada, Pindorama a dentro" de Wilson Diabo e Malaquias, puxado por Graciete. Finalmente, ao lado A, da Portela, puxado por Silvinho de Pandeiro, é o "Ilu Ayê" (Terra da Vida) da Cabana (Silvestre David da Silva) e Norival Reis. No lado B, a abertura é com o "Saber Poético da Literatura de Cordel" de Baianinho (Eládio Gomes), da Escola de Samba Em Cima da Hora. Do Império Serrano, é o feliz tema "Alô... Alô... Taí - Camen Miranda" de Wilson Diabo (Wilson dos Santos), Heitor da Rocha e Maneco (Manoel Ferreira Alves), puxado por Damasceno; da Unidos da Vila Isabel, um belo samba que não aconteceu: "Zodíaco do Samba" (Paulo Brasão e Irany S. Silva). Da Estação Primeira de Mangueira, o "Rio, Carnaval dos Carnavais" de Nilton Russo, Moacyr e Padeirinho, puxado por Jorge Nery. Finalmente, com o GRES Acadêmicos do Salgueiro, temos o belíssimo tema "Eneida, Amor e Fantasia" de Geraldo Babão, puxado por Waldir de Oliveira, e de cuja seleção, em fins de 1972, na Guanabara, tivemos o prazer de fazer parte da comissão julgadora, ao lado de Elizeth Cardoso, Alayde Costa e Ricardo Cravo Albin. Já com 3 volumes editados na série "Bateria Nota 10", mais um da séria "A Fantástica Bateria" - com o subtítulo em inglês de "The Most [Fantastic] Brazilian Breating Groups", estas gravações com a bateria da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel - reconhecida como a mais importante da Guanabara, perfeita em seu equilíbrio rítmico - se constituem em discos especiais para dar ao visitante estrangeiro uma idéia de nossa mais quente música, além de, obviamente, também agradarem a quem se interessa por nossa cultura popular. OS SAMBAS DA CID Dispondo de instalações industriais há 5 anos - onde prensa grande parte da produção de etiquetas que não dispõe de fábricas próprias, a Companhia Industrial de Discos, pertencente [à] família Zuckermann, vem aparecendo também com sua própria linha de lançamentos, representando marcas internacionais - como a poderosa 20th Century Fox Records ou, no campo nacional, com brasileiríssimas edições. Tendo o pianista e compositor Durval Ferreira na direção artística, com um estruturado esquema promocional e de relações públicas - dirigido por Fernando Lobo, com Gaby Leib na assessoria executiva, a CID quer prestigiar os nossos sambistas. Para tanto criou uma etiqueta - Oba!, que lançando "Escrete do Samba/E Samba no Pé", afirma que, "a partir deste primeiro volume, se propõe a ser, da forma mais autêntica e dentro do melhor nível artístico, a etiqueta do sambista". Para tanto, Durval Ferreira dá chance neste lp a uma série de compositores, com músicas já conhecidas ou inéditas, tendo a valorizar a interpretação a participação especial do conjunto Nosso Samba. Embora aparentemente o lp seja apenas uma seleção de sambas que tenham o futebol como tema, na verdade é uma ampla montagem de 22 bonitos sambas - desde conhecidos sucessos como "Regra Três" (Toquinho/Vinicius), "Porta Aberta" (Luiz Ayrão), "Boi de Cara Preta" (Zuzuca), "Teimosa" (Antonio Carlos/Jocafi), "Que Beleza" (Benito di Paula), "Quando Vim de Minas" (Xangô da Mangueira) etc., até sambistas que ainda não tiveram sua vez e hora, como Zé Di ("Salgueiro Chorão"), Aparecida ("Boa Noite") entre outros. Um bonito disco da melhor MPB, que não esquece de incluir um dos mais belos sambas de todos os tempos: "Quando eu Me Chamar Saudade" do mestre Nelson Cavaquinho. "Samba, Terreiro e Batucada" (Série Prata, CID, 4.006) é outra produção de Durval Ferreira destinada a reunir uma série de cantores e grupos de sambistas, a maioria ainda pouco conhecidos: Rubens da Mangueira canta o conhecido sucesso de Zuzuca, "Boi da Cara Preta"; Darcy do Império traz o seu "Caxambu de Sá Maria", os Embaixadores do Ritmo aparecem em duas faixas - "Uma Mulher", de Geraldo Cunha (também vocalista) e "Dinheiro e Mulher" (Gilson de Souza). Os Naturais cantam "Até o Carnaval Chegar" (Romildo/J. Pesanha), Teté da Portela, também ganha duas faixas para mostrar suas composições: "Katimbó" e "Caminheiro". Um sambista apelidado de [Índio] Branco canta "Saravá" - a única faixa para justificar o "Terreiro" do título do lp, enquanto os Kebuletes mostram o "Pagode de Bamba". Finalmente Paulão aparece na faixa mais dispensável do disco: "Camisa 10", enquanto o grupo Explosão do Samba mostra seu equilíbrio em "É Preciso Cantar", o belo samba de Adeilton Alves de Dalcio Carvalho. Aliás, salvo engano, o mesmo grupo Explosão do Samba, é o mesmo que já apareceu em 3 lps com a denominação de "explosão do Samba", no último dos quais estão os sambas-enrêdo de 1974 com "O Mundo Melhor de Pixinguinha" (Portela), "Mangueira em Tempo de Folclore", "Rei da França na Ilha da Assombração" (Salgueiro), "A Festa dos Deuses Afro-Brasileiros" (Em Cima da Hora), "A Festa do Divino" (Mocidade Independente do Padre Miguel), etc. Neste 3º volume, fora o grupo Explosão do Samba temos a presença da Sabrina, As Gatas, Genaro da Bahia, Renata Lu e Rubens da Mangueira - todos do elenco de gente moça que Harry Zuckerman e Durval Ferreira estão prestigiando na CID. Também lançado já há algum tempo - para concorrer com os álbuns de samba-enrêdo da Top Tape, a CID produziu o lp "Sambas-Enredo 74" dos Blocos Carnavalescos do 1º grupo, onde estão os sambas que os blocos "Quem Fala de Nós Não Sabe o Que Diz", ["]Unidos do Cantagalo", "Vai se Quiser", "Flor da Mina do Andarai", "Mocidade São Matheus", "Guerreiros da Ilha", "Canários das Laranjeiras", "Cara de Boi", "Unidos da Vila Kennedy", "Unidos de Cabral", "Quem quiser, pode vir" e "Unidos da Vila Rica" levaram [à] avenida, no último Carnaval. Discos simpáticos, documentários expressivos do Carnaval de 1974 e das composições da gente humilde da Guanabara, os lps da CID merecem o prestigiamento e a divulgação, que nem sempre [obtém] em nossas rádios. (
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música Popular
26
08/09/1974
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Gostaria de saber onde encontro para comprar o disco: "Samba, Terreiro e Batucada" (Série Prata, CID, 4.006) , ou então a musica Caxambu de Sá Maria com Mestre Darcy. Muito Grato, Natal.

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