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Aramis

Oscar sempre Oscar (I)

Sem surpresas maiores e contestações - como as que ocorreram em anos anteriores, ao contrário, pálida e até sem brilho, a 51a festa de entrega dos Oscars da Academia de Artes e Ciências Cinematográfica de Hollywood (segunda-feira, dia 9), com uma audiência calculada em mais de 400 milhões de telespectadores em 51 países, chegou a ser até contraditória, emocionante, em seu final> O mais radical dos veteranos de Hollywood, John Wayne, 72 anos 51 de cinema, magro e alquebrado, recém-recuperado de uma segunda operação de câncer, encerrou a festa anunciando "O Franco Atirador" (The Deer Hunter), como o melhor filme do ano - premiação máxima deste evento maior do cinema-indústria instituído em 1927/28. E para quem, como o veterano comboy Wayne - na intimidade o "Duke", sempre foi um apologista da guerra do Vietnã, tendo inclusive produzido, dirigido e interpretado o único filme favorável a intervenção dos EUA naquela guerra ("Os Boina Verdes/The Green Barets, 1968), não deixou de ser no mínimo curioso que coubesse e ele entregar aos produtores Barry Spikings e Michael Deeley as ambicionadas estatuetas douradas, consagrando esta produção que deve ser lançada nos próximos dias Brasil pela United Artists e trata justamente da guerra do Vietnã, mas sem a apologia pró-EUA que Wayne defendia em sua obra, 11 anos passados. Há 5 anos, "Corações e Mentes" (Hearts and Minds, de Peter Davis e Bert Schneider), o mais contudente documentário condenatório ao militarismo americano no Sudeste da Ásia já havia sido premiado com um Oscar - e proporcionando a seus realizadores um discurso político assistido por milhões de pessoas em todo o mundo. Jane Fonda, que tem sido, nos últimos anos, a mais contestadora atriz em termos políticos - formando um tripé com a grega Melina Mercouri e a inglesa Vanessa Redgrave, foi quem idealizou "Amargo Regresso" (Comingo Home, cine Astor, a partir de amanhã), também tendo por temática a guerra do Vietnã - filme que lhe valeu o 2o Oscar de sua carreira como melhor atriz (o primeiro foi em 1971, por "Klute", de Alan J. Pakula), dando ainda Oscar aos melhores atores - Jon Voight, e roteiro original (Waldo Salt/Roberto Jones, de uma história de Nancy Dowd). Ao contrário de "Franco-Atirador" - com pelo menos 30% de sua ação ambientada no front - "Amargo Regresso" tem sua ação toda nos EUA, tratando apenas dos reflexos da guerra do Vietnã, mas no ano de 1968 - ponto máximo da escalada norte-americana no conflito e época em que Jane decidiu que faria um filme a respeito. "Franco-Atirador", cujo enfoque sobre a colocação da guerra do Vietnã tem dividido a crítica internacional - e que disputava 9 indiscações (contra 8 a "Coming Home"_ acabou sendo escolhido além do melhor filme, também o de diretor (o praticamente estreante Michael Cimino), montagem )Peter Zinner, austríaco há 30 anos radicado nos EUA) e melhor som (Richard Portman/William McCaughey/Aaron Rochin/Darin Knight). Warner Beatty, ator-produtor-diretor-roteirista de "O Céu Pode Esperar" (cine Condor, 2a semana, renda de Cr$ 300 mil nos 10 primeiros dias) deve ter saído frustado do Pavilhão Dorothy Chandler nos Los Angeles Music Center, onde a festa se realiza há muitos anos: apesar dos elogios que sua irmã, Shirley MacLaine, uma das personalidades convidadas para entregar os prêmios, lhe fez demoradamente, a refilmagem do texto de Harry Segall (levado ao cinema em 1941, após ter sido sucesso na Broadway), apesar de 9 indicações ao Oscar, acabou com apenas uma premiação: direção de arte (Paul Wylbert/Edwin O`Donovan) - mas nem por isso sua carreira comercial deve ser atingida. Outra frustração, por certo, foi a de "Interiores" (Interions), de Woddy Allen - que em 78, com "Annie Hall" (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" havia garantido 4 Oscars (filme, diretor, roteiro e atriz para Diane Keaton), indicado a 5 categorias e não premiado em nenhuma delas. "Raizes da Ambição (Comes a Horseman) de Alan J. Pakula), igualmente estrelado por Jane Fonda - valeu ao até então desconhecido Richard Farnsworth uma promoção extraordinária: por sua interpretação de "Dodger", neste western moderno rodado em Montana, com ação ambientada após a II Guerra Mundial - e que a United Artists ainda não lançou no Brasil - mereceu o Oscar de melhor ator coadjuvante. A inglesa Maggie Smith que em 74 por sua atuação em "Viagens com a Minha Tia" (1973, de George Cukor, do romance de Graham Greene) havia perdido o Oscar de melhor atriz para Liza Minelli (por "Cabaret" de Bob Fosse) venceu desta vez favoritas como Maureen Stapleton (por "Interiores", que deveria estrear amanhã no Cinema 1, mas foi adiado devido ao sucesso de "Equus") e Penelope Milford ("Amargo Regresso")> "Days of Heaven", filme sem título ainda em português, deu ao fotógrafo Nestor Almendros, o Oscar nesta categoria - vencendo 4 experientes profissionais: Vilmos Zsigmond ("Amargo Regresso"), William Franker ("O Céu Pode Esperar"), Robert Surtees" (Tudo Bem no Ano Que Vem") e Oswald Morris ("The Wiz/O Mágico Inesquecível"). "The Wiz", de Sidney Lumet, refilmagem de "O Mágico de Oz", que 40 anos passados recebeu 2 Oscars (música original/Herberto Sotthart/canção-tema. "Over the Rainbow", Harold Arlen/E. Y. Harburg, que se tornaria prefixo de Judy Garland, consagrada naquela fita), que concorria na categoria de figurinos e trilha sonora adaptada, acabou ficando sem premiação - mas sua sound-track, álbum duplo MCA (que "Domingo Sem Futebol", rádio Ouro Verde, dia 15, das 15 às 18 horas, apresentará na integra) chegou nas lojas, em edição da Polygram, nas próximas semanas, junto com a trilha sonora premiada com o Oscar na categoria "score original", que o estreante Giorgio Moroder fez para "O Expresso da Meia Noite"- também programado para o suplemento de abril/maio da mesma gravadora. "Last Dance", de Paul Jabará, na voz de Diana Ross, da trilha sonora de "Até Que Enfim é Sexta-Feira" (cine Astor, ainda hoje em cartazl álbum duplo lançado pela Polygram) levou (imerecidamente) o Oscar de canção-tema, numa referência a onda "discotheque"- e derrotando música muito mais bonitas como "The Last Time I Like This"(Marvim Hamlish/Marilyn e Alan Bergman) do filme "Tudo Bem No Ano Que Vem", nas vozes de Johnny Mathis/Jane Morgan ou "Ready To Take A Chance Again"(Charles Foz/Norman Ginbel), na voz de Barry Monilow, do filme "Golpe Sujo"(Ful Paly). "O Expresso da Meia Noite", que obteve 6 indicações e que a Columbia lançará em Curitiba dentro dos próximos 40 dias, acabou levando o Oscar ainda de melhor roteiro adaptado (Oliver Stone, da história verídica de Billy Hayes). A Festa do Oscar - assunto especial para os jornais do dia de hoje - teve ainda outros aspectos que justificam que voltemos ao assunto amanhã. Afinal negócios à parte, é sempre um belo programa para quem sabe amar o cinema, esta usina que embala nossos sonhos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
1
11/04/1979

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