Palito, Bolinha, Schulmann e Pabala nas imagens do FestRio
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de novembro de 1990
Rio de Janeiro (De Aramis Millarch, especial para O Estado do Paraná) - Desta vez o Paraná está presente. Ao contrário do que aocnteceu timidamente no último Festival de Gramado - no qual o curta "Vamos Juntos Comer Defunto", de Eloi Ferreira, mesmo selecionado para a competição em 35mm, passou despercebido - e no recente Festival do Cinema Brasileiro de Brasília da qual a nossa ausência foi total - agora, na edição do RioCine Festival, inaugurado na última quinta-feira, 15, temos alguns representantes.
Dois curtas em 16mm, e dois vídeos disputam alguns dos 65 prêmios que estarão sendo entregues na noite de quinta-feira. Se há ou não chances dos realizadores do Paraná serem premiados, é difícil prever pois muitos filmes estão rolando nas diversas salas pelas quais se espalha esta promoção que cresceu muito, oferecendo nada menos que 23 opções paralelas para cinéfilos e interessados em vídeo (qual seria a palavra para definir esta nova categoria de consumidores de imagens), em mais de 100 horas de programação entre produções nacionais e internacionais em competição (nas categorias VHS/U-matic) ou simplesmente em exibição. Em termos de filmes, também o menu é farto: entre mostras informativas, retrospectivas, projeções especiais e competições são mais de 100 títulos, abrangendo os mais diversos gêneros.
No meio de tantos programas, há as presenças do Paraná: "O Candidato", de Altenir Silva (Bolinha) e Geraldo Pioli, "Lápis, de Cor e Salteado", de Nivaldo Lopes (Palito), disputam na categoria 16mm. Em vídeo, "Femininas", de Werner Schulmann e "As Crianças Não Choram", de Pabla Alejandra e Jorge Brunetti. Na mostra Olhar Marginal, "com os filmes que se tornaram cult sem serem vistos pelo público", como diz o coordenador de imprensa do RioCine Festival, Paulo Henrique Velloso Souto, o mais falado é "Maldita Coincidência", de Sérgio Bianchi, paranaense de Ponta Grossa - que, em Curitiba, é conhecido: além de ter inaugurado o Cine Groff, tem sido bastante exibido na Cinemateca.
Em compensação, os outros longas programados são prdouções sofridas, realizadas há muitos anos com imensas deficiências mas que nunca chegaram a ter lançamento comercial. "Piranhas do Asfalto", de Neville de Almeida; "Amor, Palavra Prostituta" e "Lilian M - Relatório Confidencial", de Carlos Reichenbach; "Possuída dos Mil Demônios" de Carlos Frederico Rodrigues; "Os Monstros do Babalu" e "Lobisomem, o Terror da Meia-Noite", de Elyseu Visconti (marido da videomaker e cineasta curitibana Renata Vasconcelos) e "Hitler do Terceiro Mundo", de José Agripino de Paula - que tinha Jô Soares como ator, em início de carreira.
Dois filmes, são conhecidos dos curitibanos: "A Margem", de 1968 e "A Opção, as Rosas da Estrada", 1980, produções que devido à amizade de seu realizador, o paulista Ozualdo Candeias, com Valêncio Xavier, fundador da Cinemateca do Museu Guido Viaro e hoje diretor do Museu da Imagem e do Som, já tiveram várias exibições em Curitiba (Valêncio foi, inclusive, diretor de produção de "Opção", nas seqüências rodadas no Paraná).
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Rodado com dificuldades - para levantar recursos o bravo Bolinha fez duas rifas, em 1988, de um velho Ford Galaxie, de seu pai, e de um quadro doado por Jair Mendes -, "O Candidato" (que já teve uma pré-estréia no Ritz, há um mês, é uma anedota que funciona. Willy Schulmann interpreta um candidato ao vestibular que se atrasa no dia da prova e tem sucessivos problemas para chegar à universidade. O final é inesperado e provocou risos nos 96 espectadores que lotavam a sessão em que foi apresentado no entardecer do dia 16, sexta-feira, no Centro Cultural Banco do Brasil - um dos locais em que o festival está acontecendo.
Entre os espectadores, a atriz Maria Adélia Ferreira, que faz um pequeno (e único feminino) personagem - uma professora -, neste filme que foi acima de tudo um mutirão de amigos de Bolinha para sua realização. Maria Adélia está no Rio, atuando na montagem "Mistérios de Curitiba", estreada há 11 dias, no Teatro Copacabana.
No curta aparecem - em pequenos papéis - Florisval Gomes, Chico Terra, Luís Fernando Amaral e Paulo J. Frieb.
A direção de Altenir Silva foi ágil em seqüências externas, com a fotografia de Euclides Fantim aproveitando cenários próximos ao campus da Universidade Católica, no Guabirotuba - mas também uma ponte pênsil, existente em Morretes. "O Candidato", mesmo com suas limitações, é um filme simpático e divertido - virtude que falta em tantos e pretensiosos curtas, especialmente os realizados por alunos dos cursos de cinema da ECA - São Paulo e da Universidade Federal Fluminense. Vários dos que aqui estão em competição - aceitos sem pré-seleção - já haviam sido mostrados em Brasília e são chatos, cansativos e absolutamente inúteis. Há exceções é claro, como "Adeus Rodelas", de Agnaldo Siri Azevedo, de Salvador; "Vaidade", do carioca David França Mendes/Vicente Amorim e "Suspense", de Carlos Adriano, de São Paulo.
Na mostra 16mm concorre também "O Mau Selvagem", de Mauro Faccioni Filho, paranaense de Maringá, mas radicado em Florianópolis desde 1975, onde é um dos atuantes líderes da movimentação cinematográfica local. "Lápis - de Cor e Slateado", de Palito, foi o único dos quatro curtas financiados (sic) pela Secretaria da Cultura/Fundação Nacional de Cinema (de saudosa memória), iniciado há 2 anos, que chegou a ser concluído. Os outros três "A Flor", dos irmãos Eagner (animação), "Longas Sombras no Fim da Tarde", de Fernando Severo e "A Loira Fantasma", de Fernando Morani, estão à espera de mecenas para serem finalizados. O que custaria, no total, menos de Cr$ 2 milhões - ou seja inferiores aos US$ 20 mil que custou a extensão curitibana da XIV Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que está se encerrando nesta semana no Cine Ritz.
LEGENDA FOTO - Os irmãos Schulmman e a equipe que participou do vídeo "De Bonna - Cara Palavra". No FestRio, tiveram aceito um outro trabalho - "Femininas" -, exibido na mostra competitiva em meios VHS.
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