Para conhecer o canto de Maria Rita Stumpf
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de setembro de 1990
Em termos de marketing, Marisa Monte pode ter sido a revelação feminina de 1989 - recebendo inclusive o troféu do III Prêmio Sharp - assim como Adriana Calcanhoto pinta, em termos de promoção para, neste ano de tantas novas cantoras, ganhar também destaque - se badalação publicitária ajuda. Entretanto, em termos de qualidade, inventividade e vigor a grande revelação feminina do ano que passou foi de uma gaúcha de São Francisco de Paula, 33 anos, sobre quem não se deu ainda o destaque merecido: Maria Rita Stumpf.
Há seis anos, no II Musicanto (Santa Rosa, RS), com uma canção calcada basicamente na percussão e vozes, falando em índios - "Kamaiurá no Xingu quer falar, Kamaiurá no Xingu quer terra", - Maria Rita era premiada e a música entraria no LP com as finalistas daquele festival nativista. Já com alguma experiência na produção musical no Rio Grande do Sul, Maria Rita acabaria no Rio de Janeiro e, impressionado por seu talento, Luisinho Eça fez questão de admiti-la como aluna. Fez mais: ao lado do mineiro Marco Uatiki, e do gaúcho Ricardo Bordini, ajudou-a a fazer um elepê independente, gravado entre 1987/88, só lançado no final de 1988 e que entrou no Prêmio Sharp na categoria de "cantora revelação" (poderia ser também compositora-revelação), chegando a finalíssima ao lado da ótima Maria Amélia e de Marisa Monte, que acabou sendo a premiada (em nosso entendimento, Maria Rita mereceria muito mais o troféu).
Apesar de todo seu talento, Maria Rita não conseguiu ainda viver só de música: assim vem assessorando Mirim Duelsberg, da L'Art, em grandes produções (preparava-se agora para a temporada de Astor Piazolla pelo Brasil, antes do derrame sofrido pelo compositor argentino) e, nos últimos meses, ajudando também o pianista Miguel Proença, quando este ocupou a Secretaria da Cultura do Rio de Janeiro.
Diretor musical do II Festival de Música de Cascavel, iniciado no dia 25, Maria Rita, em sua elétrica criatividade e dinamismo, está conseguindo não só desenvolver um ótimo trabalho neste evento, como encontrou ainda tempo para fazer um primeiro concerto em Curitiba (auditório da Reitoria, segunda-feira, 3, 21 horas, ingressos a apenas Cr$ 300,00).
Um concerto - e a expressão não é exagerada - pois além da oportunidade do público conhecer a sua voz original, ao seu lado estará um dos maiores virtuoses do teclado no Brasil, Luisinho Eça - que saindo de graves problemas de saúde, encontra-se há alguns dias em Cascavel, orientando uma classe de pianistas e, antes de retornar ao Rio, passará por Curitiba, cidade em que não atua há mais de 4 anos. Também no palco da Reitoria, Nelson Ângelo, violonista, compositor - um dos integrantes do histórico Clube da Esquina, de Milton Nascimento, e o percussionista Laudir do grupo Chicago - um dos melhores dos anos 70. Também o baixista Ricardo de Canto participará do espetáculo.
Embora o repertório não esteja ainda totalmente definido, não faltarão, naturalmente, músicas que Maria Rita inclui em seu elepê (produção independente, a venda no hall do auditório no dia 3) ou podendo ser solicitado pelo reembolso postal a Avenida Rio Branco, 45, conjunto 1906, centro, RJ).
"Kamaiurá", o canto índio que dá título ao espetáculo; "Felicidade", clássico de Lupiscinio Rodrigues (1914-1974), "Cântico Brasileiro nº 6" (Temporã), um canto forte, com destacado acompanhamento de Luisinho Eça, são outros grandes momentos do disco que estarão ao vivo para quem for à Reitoria na segunda-feira. A capella, mostrando sua voz limpa, Maria Rita interpreta "Lamento Negro", canto tradicional de Angola, que emenda no afro "Rictus" - título de um de seus primeiros shows apresentados em Porto Alegre há alguns anos. Apaixonada, com toda razão, pelo maior poeta do Sul - e um dos maiores que o Brasil já teve - Mário Quintana, Maria Rita musicou duas jóias daquele mestre: "Canção da Garota" e "Canção de Barco e do Olvido".
A promoção local do espetáculo é do componente Serginho Bertinez, injustiçado pela Fucucu - que o dispensou da administração do Paiol, na qual vinha desenvolvendo um excelente trabalho (inclusive valorizando os artistas paranaenses), e que, dando a volta por cima, acaba de criar uma firma de promoções artísticas - a Solany. Relacionado nacionalmente no meio artístico foi graças aos seus contatos que a Fucucu conseguiu fazer uma programação com alguns bons artistas para 1990), Gersinho já tem um esquema de trabalho para, em auditórios alternativos, produzir bons espetáculos.
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