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Priscilla traz canto indígena na reunião

Dentro da rígida programação de palestras e debates que marcam a 15ª Reunião Brasileira de Antropologia, iniciada no domingo, hoje a noite, possivelmente haverá um momento de descontração. Como o presidente da Fundação Cultural, advogado Carlos Frederico Marés de Souza é um antropólogo amador dos mais apaixonados devido suas ligações com o problema do índio no Brasil, não só participou da comissão organizadora do evento como oferece um baile aos participantes, a partir das 22 horas, na Sociedade Garibaldi. Ali, entre valsas, sambas e até rock, os antropólogos terão oportunidade de, descontraidamente, estabelecerem melhores relações pessoais e sociais. Afinal, o programa da reunião é dos mais exaustivos, com mesas redondas pela manhã e tarde, além de palestras de gente famosa na área. Sem contar os naturais conchavos de corredores, cabalando votos para a escolha do antropólogo que nas eleições da tarde amanhã, substituirá o atual presidente da Associação Brasileira de Antropologia, Roberto Cardoso de Oliveira. No baile de hoje a noite é possível que aconteça um show tão inesperado quanto importante: a apresentação de Priscilla Barrak Ermel, paulista de 29 anos, formada em Ciências Sociais pela USP, turma de 1980), uma das únicas compositoras que se dedica no Brasil a uma pesquisa fascinante: a produção de músicas inspiradas na cultura indígena. A exemplo do que faz Marlui Miranda (dois elepês já gravados, um terceiro em fase de lançamento pela Carmo), Priscilla vem fazendo um sério trabalho em termos de criação musical, com base em trabalhos desenvolvidos junto aos Índios Cinta-Largas, de Mato Grosso. Os resultados desta integração a cultura indígena estão gravados em várias faixas do lp "Saber Sobre Viver", produção independente, distribuída pelo Estúdio Eldorado - e cujo lançamento oficial acontece agora em Curitiba, com a presença da autora. Apesar de trabalhar basicamente com composição e arranjo, Priscilla - uma bela morena, que foi uma das presenças de destaque no recente IV Encontro de Pesquisadores da Música Popular Brasileira, onde apresentou substancial comunicação sobre seu trabalho musical - toca quatro instrumentos: violão, viola caipira, violoncelo e flauta. De formação substancialmente autodidata, realizou uma dezena de cursos no campo da música. Somando à formação musical - com cursos teóricos e práticos dos mais credenciados - a sua base universitária, Priscilla fez pós-graduação em antropologia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, defendendo tese na área de Etnomusicologia sob orientação da antropóloga Carmen Junqueira. Com exceção de Marlui Miranda, excelente compositora e cantora que por anos residiu em Brasília e posteriormente desenvolveu trabalho com Egberto Gismonti (também apaixonado pela música dos índios, que influenciaram alguns de seus discos), Priscilla Emmel é a primeira compositora e intérprete a se voltar ao rico universo sonoro indígena, garimpando temas e chegando mesmo a incluir vozes e instrumentos dos índios Cinta-Largas em algumas faixas de seu lp, como "Floresta". LEGENDA FOTO 1 - Priscilla: a música dos índios Cinta-Largas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
25/03/1986

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