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Rafael, a dimensão do homem e técnico

O quinzenário "Quem" vai apresentar numa de suas próximas edições uma entrevista-perfil do arquiteto Rafael Dely, mostrando diversos aspectos do homem e do técnico. Um dos profissionais mais respeitados na área de planejamento urbano, Dely foi um dos muitos integrantes da equipe do IPPUC que, durante anos, deu o melhor de si para formular toda uma política municipal que, executada na primeira administração de Jaime Lerner, o projetou - individualmente, em termos nacionais. Hoje, quando Lerner é citado nacionalmente e Curitiba tida como exemplo de onde se procura estabelecer o dimensionamento homem-veículo-bem estar, é importante que se lembre de que se não fosse o trabalho de equipe, de toda uma geração de técnicos entusiastas, idealistas, de nada adiantaria toda a criatividade, simpatia e capacidade de Jaime Lerner. Especialmente Rafael Dely e o seu colega Lubomir Ficinski - hoje integrando o Conselho Nacional de Vias Urbanas e dirigindo seu escritório de urbanismo e planejamento, com projetos desenvolvidos em vários Estados - na presidência do IPPUC, em períodos alternados, sabendo formar equipes unidas, valorizando o diálogo e o elemento humano, foram elementos fundamentais para que Curitiba, nesta última década - independente da substituição de Lerner pelo engenheiro Saul Raiz (que preferiu o faraônico salário do grupo Klabin e mordomias dignas de um príncipe do que continuar em Curitiba) - pudesse ter o seu plano diretor observado e houvesse uma continuidade de propósitos. Com humildade, Rafael Dely aceitou, na administração de Saul Raiz, coordenar um realista plano de desfavelamento que hoje já serve de modelo em outras cidades. Mesmo reunindo todas as credenciais para retornar à presidência do IPPUC, Rafael Dely deu, em março do ano passado, mais uma vez prova de sua imensa amizade a Lerner aceitando a presidência da Cohab-Ct, e, nestes 10 meses em que ali está, conseguindo dar uma nova dimensão aquela empresa de economia mista - antigamente voltada apenas a uma discutível política de financiamento de construção de casas próprias, hoje, graças a uma visão mais ampla, integrada realmente à comunidade - como um todo. Homem que sabe da importância de valorizar a equipe, sem deslumbrar-se com cargos passageiros e, principalmente, escolhendo pessoas capazes para assessorá-lo, Rafael, discreta mas operosamente, merece a adjetivação de que é o homem capaz de dar certo em qualquer posição que jogue, desde que o técnico - ou, principalmente, os outros jogadores do time (por ciúme, inveja, despeito e, principalmente, os outros jogadores do time (por ciúme, inveja, despeito e, principalmente, incapacidade) não o atrapalhem. Durante um longo bate-papo com um grupo de jornalistas, Rafael falou sinceramente não apenas de política urbana, mas mostrou sua preocupação pela descaracterização da Rua 15 de Novembro, lembrou o esforço que foi a reconstrução da Confeitaria Schaffer (Dely e seus arquitetos associados, na época, fizeram o projeto gratuitamente), cuja inauguração está sendo prometida para fins de março e fez uma análise das mais lúcidas sobre os diferentes problemas que Curitiba enfrenta. Homem que sabe, ao lado de sua esposa e musa, a bibliotecária Lídia Dely (uma das mais eficientes assessoras da Fundação Cultural), observar e aprender em suas viagens (inclusive eles se casaram em Paris, num 13 de maio), Rafael tem a exata dimensão do que pode ser transposto de um país a outro, de uma realidade geográfica / sócio-cultural para outra comunidade. Falando de urbanismo, política habitacional, vida cultural, Rafael também contou de suas paixões musicais - Nino Rotta, em primeiro lugar - e cinematográficas - Carlos Saura, Fellini, e, inclusive, deu as dicas de como se pode curtir Paris sem a necessidade de gastar milhões. Tudo isto, por certo, fará com que sua entrevista a "Quem" venha a ser uma matéria de leitura obrigatória. E muito do que Rafael Dely diz deveria servir para abrir os olhos de certas pessoas, deslumbradas com um aparente poder e que no mínimo esquecem-se da filosofia profunda que Billy Blanco escreveu numa noite num guardanapo e a inesquecível Dolores Duran (1930-1959) imortalizou num samba-antológico: "Quanto mais alto o coqueiro/ maior a queda do coco afinal".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Seis Colunas
6
11/01/1980

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