Login do usuário

Aramis

Vinícius & Tom: reencontro histórico

Desde a primeira semana de outubro, um fato absolutamente histórico para a música popular brasileira acontece de quinta-feira a sábado, no Canecão, Rio de Janeiro: Vinícius de Moraes e Antonio Carlos Jobim, no palco, enquanto bebem o seu santo Sheva's Regal, servido pelo atencioso Pepe, recordam fatos da Bossa Nova, nos anos 50 e 60, relembram velha músicas. O roteiro, inicialmente previsto, é abandonado e a improvisação faz com que cada noite haja revelações diferentes. São mais ou menos 20 minutos, de um diálogo público, tão franco e sincero, que emociona a todos que tem acompanhado a carreira destes dois nomes maiores do cancioneiro nacional, nas últimas duas décadas. Há muito que Aloysio de Oliveira, homem que sempre esteve ligado ao que de melhor existe na MPB (Bando da Lua, Bossa Nova, Elenco, etc.), queria voltar a reunir Tom & Vinícius. Mas o maestro há anos resistia, não trocando por nada a sua vida (tranqüila(, dividida entre o sitio em Petrópolis, o bar do Veloso e, ocasionalmente, temporada nos EUA, para novas gravações. Vinícius, em compensação estava viajando, com seu novo parceiro Toquinho. Mas, afinal, houve a concordância e os dois, mais Toquinho & Miucha, fazem hoje, o mais belo show musical em cartaz no País. Um momento que mais do que musical é histórico, sobre vários aspectos. E que por isso mesmo, vem tendo casas lotadas todas as noites. Sexta-feira passada, após o espetáculo, no camarim de Vinícius, Toquinho, o poeta e o dono do Canecão, Mario Prioli, 42 anos, mestrado em administração de empresas em Paris (onde foi colega de Jayme Lerner), trocavam idéias sobre a permanência do show. Contratualmente a temporada estende-se até o final de janeiro, mas há (tantas( propostas, que se o grupo tiver resistência poderá levar o espetáculo a Buenos Aires. Roma, Milão e Paris - além de, no Canecão, ter seguramente, público para mais meio ano. Mario Prioli é um homem que não teme grandes desafios. No ano passado investiu mais de Cr$ 10 milhões no supermusical "Deus Lhe Pague", adaptado texto de Joracy Camargo, com direção de Bibi Ferreira e Walmor Chagas & Marilia Pera na frente do elenco. Apesar das bonitas músicas de Vinícius &6 Edu Lôbo e cuidados de produção - o dedo sempre de Aloysio - o espetáculo não funcionou. Agora, em compensação, o show que reune Vinícius, Toquinho & Miucha tem merecido elogios unânimes. Pode, a princípio, parecer, apenas mais um dos tantos espetáculos que Vinícius fez Brasil afora. É claro que o poeta, sentado em sua mesinha, copo de uísque, na mão, é o centro do espetáculo. Mas uma orquestra de 30 figuras, sob regência do talentoso Edson Frederico, 28 anos, uma das grandes revelações como maestro e arranjador, emolduram o espetáculo de uma forma única. Some-se a isso um afinadíssimo grupo vocal, do qual fazem parte Olívia Hime (esposa de Francis, pianista e compositor, que está lançando um disco nesta semana) e Cynara do Quarteto em Cy - apanhe-se Toquinho, tocando cada vez melhor violão e Miucha, emocionante e emocionada, cantando em dueto com Tom & Vinícius - e falar sobre os dois é covardia - e teremos um momento especial da música brasileira. Há humor, há amor e, principalmente, há música, nos 90 minutos de duração do show. Aloysio de Oliveira, homem que aprendeu nos EUA a dar o "timing" exato para um show - e formula que fez tantos encontros inesquecíveis, nas boites Au Bon Gourmet e Zum-Zum. (1962/66) soube distribuir, com equilíbrio e bom gosto, o espetáculo - que tem sido visto por gente de todo o Brasil e que se recomenda, sem reservas. Afinal, se Paris vale uma missa, o Rio de Janeiro vale uma passagem para assistir o reencontro de Tom & Vinícius, mais Miucha & Toquinho. LEGENDA FOTO - Vinícius
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
4
17/11/1977

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br