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Aramis

Caça aos piratas traz melhoria para mercado

O negócio está em tamanha alta que até mereceu matéria de capa do "Caderno 2" de "O Estado de São Paulo", 09/01/88: a entrada para valer no mercado de vídeo de grandes produtoras-distribuidoras, enquanto outras, menores, capricham em seus lançamentos. Tudo isto graças à moralizante atuação de Roberto Farias na presidência do Concine: bastou colocar a Polícia Federal em ação, recolher as fitas piratas e ameaçar jogar no xilindró os desonestos e cretinos proprietários de locadoras que só pensam em enriquecer na base da desonestidade (muitos deles, aliás, no Paraná) para que o mercado fosse revigorado. A Warner Bros, por exemplo, está começando a pôr seus títulos nas locadoras. A Columbia Pictures deve começar em março e logo será a vez de Walt Disney. Como escreveu Maria da Glória Lopes, "os videomaníacos que se preparem, este promete ser um ano histórico para o vídeo no Brasil". Zezé Mendes, assessora da Warner, declarou no dia 1º de dezembro de 1987, quando a Warner anunciou oficialmente sua entrada no mercado brasileiro de vídeo: - "A pirataria é ilegal e tem de acabar um dia. As grandes locadoras sobreviverão e nós vamos enchê-las de bons filmes". De dois em dois meses, a Warner lançará 12 títulos. O primeiro pacote já deve chegar na próxima semana, incluindo, entre outros, filmes como "Blade Runner", "Gabriela" (do brasileiro Bruno Barreto, com Sônia Braga e Marcelo Mastroianni), "História sem Fim", "Operação Dragão" e "007 contra Goldfinger", um dos primeiros da série que será totalmente colocada em vídeo. A Vídeo Interamericana (VTI), que representa a Network, começou 1988 engordando seu catálogo com uma nova empresa, a Vestron, de capital inglês e norte-americano. Entre seus títulos, "Metrópolis", 1926, de Fritz Lang (1890-1976), na versão colorida (por computador) e com música pop que Giorgio Moroder produziu há quatro anos. Também pela VTI teremos "Os Reis do Iê, Iê, Iê" (A Hard Day Night), 1964, o primeiro dos três filmes que Richard Lester realizou com os Beatles, quando eles estavam no auge da fama. Herbert Richers, que como produtor realizou mais de 40 filmes - a maioria chanchadas (hoje revalorizadas) nas décadas de 50/60 e depois montou o mais moderno estúdio de sonorização para dublagem de filmes destinados à televisão, também decidiu entrar no mercado de vídeo. Para tanto, a Herbert Richers Vídeo fez um contrato com a Lorimar Telepictures, uma das maiores produtoras americanas para a distribuição de seus filmes no Brasil - a maior parte inéditos. Herbert Richers tem uma vantagem sobre as outras distribuidoras: dispõe de um acervo com mais de 50 títulos nacionais para poder cumprir a lei. Como há uma reserva de mercado que exige 25% de obras nacionais nos catálogos das empresas, as distribuidoras estão lançando tudo que é filme nacional - inclusive muitos que não têm o menor interesse e cuja tiragem não ultrapassa 10 ou 20 cópias. Afinal, as locadoras não se interessam em adquiri-los mas para efeito de cumprir a lei, eles são reeditados em vídeo. A Globo Vídeo, por exemplo, comprou todo o acervo da Vera Cruz, além de produções que estavam esquecidas, como a versão que os gêmeos Geraldo e Renato Santos Pereira fizeram há mais de 20 anos de "Grandes Sertões: Veredas", do romance de Guimarães Rosa ou "O Sobrado", que Walter George Durst e Cassiano Gabus Mendes filmaram no Rio Grande do Sul, de um dos episódios e "O Tempo e o Vento", de Érico Veríssimo. A Globo Vídeo tem um dos mais atraentes catálogos. De princípio, conquistou os filmes de Woody Allen - como "Broadway Danny Rose" e "A Rosa Púrpura do Cairo", que em breve estarão nas locadoras. "September", o último filme de Allen - há apenas um mês em exibição nos Estados Unidos - terá seu lançamento somente no segundo semestre de 88. Neste caso, será respeitado o acordo de segurar as versões em vídeo pelo menos durante seis meses - enquanto o filme não chega nas telas. "Hannah e suas Irmãs" e principalmente "Radio Days", os melhores filmes de 86/87, foram prejudicados no Brasil pela pirataria que foi feita em torno destas obras-primas. "Os Intocáveis", de Brian de Palma (em cartaz no Lido II), será lançado em vídeo pela CIC (distribuidora da Paramount / Universal) somente em julho. Junto, sairão "O Poderoso Chefão", de Coppola; "Ladrão de Casaca" e "Topázio", de Hitchcock. Mas nem todas as distribuidoras respeitam a norma de aguardar por seis meses sobre o lançamento dos filmes nos cinemas. Ao contrário, o (mau) exemplo é dado inclusive pelos produtores dos filmes brasileiros, que estão adotando a política (suicida, na opinião de muitos) de fazerem lançamentos simultâneos. Uma das causas apontadas para explicar o fracasso dos filmes brasileiros em 1987 é a de que com os filmes à disposição em vídeo, o (pequeno) interesse dos espectadores em ver os nossos filmes nos cinemas é vencido pelo conforto do home vídeo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Vídeo/Som
8
14/01/1988

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