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Aramis

O jazz que vem do frio da Dinamarca

Depois de quase 20 anos de um admirável trabalho de guerrilheiro cultural, editando e divulgando o que há de melhor no jazz e na música erudita, finalmente Jonas Silva, 56 anos, pernambucano do Recife, começa a ter um (mais do que) merecido reconhecimento de seus esforços. Há um mês, Sérgio Augusto, um dos mais argutos e competentes jornalistas brasileiros, dedicou-lhe reportagem especial na "Folha de São Paulo" - e também apresentada em O Estado do Paraná, que, com exclusividade, edita os textos de Augusto no Paraná. A revista "Visão" também se voltou para Jonas, que com sua pequena e brava Imagem tem um catálogo de primeiríssima ordem, o qual nós, desde julho de 1969, quando de sua inauguração, sempre divulgamos em nossas páginas. Assim, vemos com alegria que aquele trabalho que sempre teve aqui entusiásticos elogios está sendo, pouco a pouco, reconhecido nacionalmente. E só quem acompanha Jonas sabe de suas dificuldades. Homem pobre, acumulando inúmeras funções, cuida até da venda de seus discos, viajando em ônibus Brasil afora. Caixeiro-viajante da melhor música, graças a Jonas temos edições de pequenos selos internacionais de jazz, que vai buscar através da ajuda de alguns amigos, entre os quais o sempre incansável José Domingos, Raffaelli, a maior autoridade em jazz no Brasil, crítico do "Jornal do Brasil" e grande amigo de Jonas. No ano passado, a Imagem passou a aqui representar a Steepie Chase Records, da Dinamarca, com um catálogo notável - e do qual fazem parte dois álbuns magníficos, que aqui hoje registramos. LEE KONITZ (Chicago, 13-10-1927) em 30 de julho de 1974, no Rosemberg Studie, em Copenhague, encontrou-se com o baixista e pianista Red Mitchell (Nova Iorque, 20-09-1927) numa sessão em homenagem aquele que foi um dos cinco grandes compositores americanos - Cole Porter (Peru, Indiana, 09-06-1893 - Santa Mônica, Califórnia, 15-10-1964). O resultado é o álbum "I Concentrate On You", síntese das obras primas que o compositor nos legou e que, na união sax alto/baixo teve um dos melhores resultados. Apenas no standard mais famoso de Porter, "Night And Day", Mitchell além de baixo executa também piano. No mais, ouve-se a genialidade do sax limpo, claro e emocionante de Konitz e o baixo acústico perfeito de Mitchell em momentos iluminados da criação de Porter como "Just One of Those Things", "Easy To Love", "It's Allright With me", "Everythime We Say Goodbye", "You Be Só Nice To Come Home To", "Love For Sale", "In The Still Of The Night", "I Love you", "I Love Paris", "I Concentrate On You" e a já mencionada "Night And Day". Existem, naturalmente, inúmeras gravações destes clássicos de Porter, mas raras vezes, na literatura gravada jazzística tivemos um tratamento tão suave e encantador, mostrando todas as potencialidades destas canções através do dueto sax-baixo. Keith Moore (Red) Mitchel, trabalhou por muitos anos com Hampton, Coleman Hawkins e Dizzy Gillespie mas, a partir de 1968, decidiu trocar os Estados Unidos pela Europa, fixando-se especialmente em Copenhague onde no histórico Café Montmartre dividiu temporadas marcantes com músicos da dimensão de Phil Woods, e formando seu trio com Bobo Stenson e Reune Carson. Konitz, que foi o primeiro integrante de destaque da banda de Claude Thornhill entre 1947-48, também tem passagens pelos grupos de Miles Davis, Stan Kenton e Lennie Tristano. Relativamente esquecido no início dos anos 60, a partir de 1963-66 também começou a sua "europeização", inicialmente em Londres e depois em outros países. Com a edição deste "I Concentrate On You" o público interessado em jazz pode conhecer o trabalho de melhor nível de dois dos mais significativos jazzístas contemporâneos. DUKE JORDAN (Irwin Sidney), nova iorquino do Brooklyn, 67 anos, tem mais de cinquenta anos de carreira (entre 1930 a 1936 já integrava a banda da Brooklyn Automotive Hight). Nos anos 40 se destacaria como um criativo pianista bebop, tocando com Charlie Parker e, mais tarde, integrando-se aos grupos de Stan Getz, Rov Eldridge e Oscar Pettiford. Em 1959, Jordan foi para Paris e ali, com Jacques Marray, fez a trilha sonora de um filme inesquecível. "As Ligações Perigosas", (Les Liaisons Dangerouses), por sinal uma das melhores aproximações de imagens e jazz, com a participação de Art Blakey, Thelonious Monk e um tema inesquecível de Jordan, "Prelude In Blue". Fazendo sua carreira na Europa, Duke Jordan também se aproximaria da SteepleChase, em Copenhague, onde, em 16 e 17 de novembro de 1978 gravaria o "Wait And See", álbum que agora chega ao Brasil. Na época, Duke liderava um trio formado com o baixista Wilbur Little e o baterista Dannie Richmond. Nesta formação suave e agradabilíssima, temos registros de sete temas - como de Jordan ("Jordu", "Undecided Lady", "Wait And See", "Love Train" e "My Heart Skips"). Complementando, há novas leituras de "Misty" (Errol Garner) e "Out Of Nowhere" (Human/Green). xxx ANDRE PREVIN (Berlim, 06-04-1929) é hoje regente dos mais disputados, atualmente trabalhando em Los Angeles. Desde 1945 ligado à música (ainda garoto já trabalhava nos estúdios da MGM), Previn sempre foi jazzista apaixonado. Em 1957 gravou, com Sidney Manne, seleções de "My Fair Lady", num álbum histórico, que, no ano passado, a CBS editou no Brasil (no pacote "I Love Jazz", produzido para a cadeia Breno Rossi, já esgotado). Infelizmente, poucos discos do Previn jazzístico se encontram no Brasil. Seu "Andre Previn Plays Harold Arlen", de 1961, ganhou o Grammy como melhor disco-solo. Com os trios de Red Mitchel e Frankie Capp fez discos com "Like Previn!", "Light Fantastic" e, com Herb Ells, uma nova versão de "My Fair Lady". Agora, uma chance de se ouvir Previn em solos de piano temos o histórico "Previn Plays Fats Waller", gravado ao vivo, em Los Angeles, logo no início de sua carreira - ou seja há 33 anos passados. O tempo, entretanto, só deu maior significado a este registro em que oito temas de Thomas (Fats) Waller (1904-1943), pianista e compositor da maior importância dentro da história da música americana: "Ain't Misbehavin", "Honeysuckle Rose", "Black And Blue", "I've Gots Feeling I 'm Feeling I'm Falling", "Oh You Sweet Thing", "That's Where The South Beegins", "Fatstuff" e "Stealin'n Apples".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
15/03/1987

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