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Aramis

Orquestra de Veneza que não chegou até Curitiba

Comparado ao que acontecia há 10 ou 15 anos atrás, o panorama da música erudita em Curitiba, em termos de espetáculos, decaiu muito. Embora tenha sido formada uma Sinfônica local - e cujos resultados ainda são difíceis de serem analisados - o fato é que a antiga Sociedade de Cultura Artística Brasílio Itiberê, que por mais de 30 anos promovia grandes concertos, foi desativada por falta de sócios e, especialmente, entusiasmo de quem se dispusesse a dirigi-la - especialmente após a morte de um de seus grandes presidentes, o fundador Fernando Azevedo Edgar Chalbaud Biscaia. A Pró-Música - graças a qual o Paraná teve cursos e festivais internacionais de músicas, nos governos Ney Braga e Paulo Pimentel (época em que não se precisava de uma medíocre e incompetente Secretaria da Cultura - sic - para acontecerem grandes eventos) - também vive dias melancólicos. Com o dólar chegando aos Cr$ 16 mil e os sócios cada vez mais reduzindo-se, a Pró-Música só pode promover eventuais concertos quando a generosidade de instituições estrangeiras - como o Goethe Institut, Aliança Francesa ou Cultura Inglesa - patrocinam a vinda de grandes nomes. Caso contrário, só mesmo com artistas locais, cobrando cachês simbólicos. Frente a esta triste realidade - e para a qual não há muitas esperanças de melhoria (ao menos no atual e infeliz governo José Richa) - Curitiba continuará de fora dos roteiros das grandes orquestras e grupos de câmara que passam por Rio e São Paulo regularmente. Ainda no ano passado, na primeira quinzena de novembro, o Teatro Cultura Artística de São Paulo - um verdadeiro templo em termos de boa programação musical - encerrou sua temporada com um dos mais notáveis grupos italianos - I Solisti Veneti, sob regência de Claudio Scimone. A vinda do I Solisti Veneti ao Brasil foi culturalmente tão significativa, que a RCA - gravadora normalmente econômica em suas edições de música clássica - presenteou o público brasileiro com nada menos que quatro LPs deste excelente grupo, em edições da Erato - excelente etiqueta francesa da qual é a representante no Brasil. A exemplo do que marca outro famoso grupo de cordas da Itália - I Musici - os 15 integrantes de I Solisti Veneti - identificam-se especialmente na interpretação da obra do compositor que melhor soube traduzir, sonoramente, a beleza de Veneza: Antonio Vivaldi (1678-1741). Assim, embora na programação apresentada nos concertos feitos no Rio e São Paulo, I Solisti Veneti tenham incluído peças de Corelli, Tortini e Rola, os quatro elepês que a RCA lançou com o conjunto os trazem apenas com obras de Vivaldi. O que é sempre um prazer para quem sabe apreciar a obra de um dos autores de maior harmonia e imaginação de todos os tempos. Temos, assim, neste pacote nada menos que 13 concertos, doze Sinfonias, e, em destaque especial, a mais conhecida das obras de Vivaldi - "Le Quattro Stagioni". Claudio Scimone, natural de Pádua, um dos mais brilhantes músicos de sua geração, fundou I Solisti Veneti há 17 anos, visando basicamente revitalizar a tradição da interpretação da música italiana do século 18 que lhe parecia esclerosada. E esta orquestra de câmara, em menos de duas décadas, já se apresentou em mais de 50 países, divulgando a obra de autores como Vivaldi e Albinoni. Scimone é um regente hoje reconhecido internacionalmente por seu trabalho à frente de I Solisti Veneti. Habitualmente é regente-convidado da Ópera Real de Londres (onde dirigiu obras como "Elisir d'Amore", de Donizetti) e também é regente da orquestra da Fundação Gulbenkian, de Lisboa. As obras de Vivaldi - que em diferentes formações, têm participações especiais nas gravações da Erato - traduzem com rara perfeição a beleza de uma época. Especialmente "Le Quattro Stagioni" - peças de uma coletânea de 12 concertos intitulada "Il Cimento dell'Armonia e dell'Invenzione", data aproximadamente de 1720. De todos os músicos naturalistas, Vivaldi foi inovador na maneira de fazer uma música descritiva como nos movimentos "Primavera", "Verão", "Outono" e "Inverno". Ouvir Vivaldi nas interpretações de I Solisti Veneti é um momento de imenso prazer. E uma compensação por não termos podido aplaudir ao vivo, no Guaíra, esta magnífica orquestra de câmara da Itália.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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05/01/1986

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