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Velho Gringo e o Mar Azul são as melhores estréias

Nuevo Lemoni, gerente do Cinema I, às 20h20 de segunda-feira, 28, não teve outra solução: mandou fechar a sala e dispensou os funcionários. No borderaux, nas linhas destinadas ao número de espectadores, um traço absoluto. Nenhum espectador nas quatro sessões. O filme que deveria ter sido exibido se aparecessem ao menos 3 espectadores: "3 Homens e um Bebê" (Trois Hommes et un Couffin), o maior sucesso de bilheteria na França há quatro anos, prêmio Cesar e indicado ao Oscar como melhor filme estrangeiro e premiações em vários outros festivais internacionais (representou a França no II FestRio). A comédia de Coline Serrau obteve tanto sucesso que rapidamente os americanos fizeram uma refilmagem, direção de Leonard Nimoy, que estava entre as maiores bilheterias 87/88. E o original - imensamente superior, foi sepultado em Curitiba. É cansativo abrir, mais uma vez esta página falando de fracassos de bilheteria, mas a questão é séria: a concorrência do vídeo, o custo dos ingressos (embora, proporcionalmente, no Brasil, o cinema ainda seja uma diversão barata), a falta de uma programação mais bem planejada, entre outros motivos, fazem com que, cada vez mais, as salas de exibição esvaziem-se. No Bristol, outro gerente que lamenta quando tem que suspender sessões por falta de público, Wilson Antunes Filho, depois de ver a melancólica carreira de "A Outra", de Woody Allen, também mostrava sua decepção pelo fracasso de uma comédia ("As Coisas Mudam"), que, há 5 meses, em seu lançamento em Nova Iorque, fez sucesso. Aqui, apenas 900 espectadores. Nas salas da Fucucu, com programação na base da reprise, também as rendas são mínimas. Mas no caso destas salas falta maior planejamento na programação e mesmo cuidado para sua promoção. Por exemplo, na manhã de terça-feira, o professor Raymond Ravel, diretor da Aliança Francesa, nos telefonava, preocupado, com o desinteresse da Secretaria Municipal de Cultura pelo festival com oito excelentes filmes que, generosamente, a sua instituição cedeu para a mostra "Cinema e Revolução". Bond & Fonda - as esperanças. As opções - Lamentações a parte, algumas estréias especiais nesta semana. Ao menos uma, seguramente, vai faturar muito para alegria do atlético Egom Prim, o homem da CIC no Paraná: "James Bond - Permissão para Matar", de John Glen, 17ª aventura do mais velho dos heróis cinematográficos, sempre rodeado de belas mulheres, muita ação, chega nas telas do Condor - antecipando-se em uma semana a estréia nacional prevista. Com uma boa campanha publicitária garantida pela vinda ao Brasil, há duas semanas, da atriz-produtora Jane Fonda e do diretor Luiz Puenzo, "Gringo Velho" é a grande estréia. Baseado em romance do mexicano Carlos Fuentes, esta superprodução de US$ 25 milhões, rodada no México, somente terá sua estréia nos EUA em 6 de outubro. Jane Fonda, 51 anos, no auge de sua carreira, preferiu fazer um périplo pela América do Sul para cativar este filme que fundindo a ficção e o real, tendo por cenário os conflitos da revolução mexicana no início do século, oferece vários pontos para reflexão. Jane, como Harriet Winslow, o veterano (73 anos) Gregory Peck, como o jornalista Ambrose Bierce (1842-1914) e Jimmy Smits como general Tomas Arroyo lideram o elenco deste filme com uma belíssima fotografia de Felix Monti (da equipe de Puenzo e que também fez as imagens de "Gardel" e "Sur", Fernando Solanas), uma trilha sonora marcante de Lee Holdridge e cuidadosa reconstituição da época. Não foi sem razão que nas 50 entrevistas que deu em três dias de passagem pelo Rio/São Paulo, Jane mostrou-se otimista em relação a "Old Gingo" - capaz inclusive de merecer várias nominations ao Oscar-90. UM FILME DE VISÃO OBRIGATÓRIA. Imensidão Azul - Escolhido para abrir (fora de competição) o Festival de Cannes-88, "Imensidão Azul" (Cine Bristol), é a segunda melhor estréia da semana. O diretor, Luc Besson, 30 anos, egresso da direção de videoclips, foi assistente de vários diretores, fez quatro curtas e estreou com "Le Dernier Combat" (1982, inédito no Brasil). Mas seria o estranhíssimo "Subway" que o tornaria um nome conhecido, transformando este filme (odiado por muitos, enaltecido por outros) num cult movie. Produção cara (US$ 12 milhões), falado em inglês (para conquista do mercado exterior), desde sua estréia na França (11/05/88), "Le Grand Bleu" tem merecido críticas e comentários conflitantes, embora a beleza da fotografia de Carlos Varini (com grande parte da ação rodada no fundo do mar, a exemplo de "Le Abyss", que estreou há poucas semanas nos EUA) seja emocionante. No elenco, um nome conhecido - a bela Rosanna Arquette (revelada em "Procura-se Susan Desesperadamente"). O roteiro é do americano Robert Garland ("O Cavaleiro Elétrico", "Sem Saída"), baseado num personagem real - Jacques Mayol, hoje aos 62 anos, e que durante mais de 30 se dedicou a um dos esportes mais perigosos do mundo - o mergulho em grandes profundidades. A exemplo de "Gringo Velho" - no qual há mistura de realidade (o jornalista Bierce) com ficção, também em "Le Grand Bleu" tem ficção. Assim , o roteiro de Besson Garland coloca uma "love story" entre Mayol e Joanna Cross (Rossana), uma executiva nova-iorquina. Ela o encontra no Peru e o segue até a Europa, nos campeonatos de mergulho livre. O desafio permanente de Jacques Mayol (Jean-Marc Barr) e o italiano Enzo Molinari (Jean Reno) criam momentos de suspense neste filme rodado (9 meses) em belíssimas locações (Riviera, Sicília, Córsega, Ilhas Virgens, Bahamas, Grécia, Peru, Alpes, etc.) e que, na lógica, deveria permanecer ao menos por duas semanas em cartaz. Entretanto, se houver público ao menos para as sessões normais durante sete dias já será razão para fazer com que se abram garrafas de champagnhe. O Beijo Mortal - (The Kiss), do desconhecido Pan Denshan, chega sem maiores referenciais. Filme de terror, com muitos efeitos especiais e um elenco de gente desconhecida - Pamela Collyer, Peter Dvorsky, Joanna Pacula (fez uma ponta em "O Mistério do Parque Gorky"). O roteiro de Stephen Volk / Tom Roplelewski coloca três mulheres em situações de perigo. No São João, para ser verificado por quem disponha de tempo. No Plaza, igualmente um filme sem qualquer atração maior: "Escalpo", de Werner Knox, enquanto nas salas da Fucucu continuam as reprises: "Kuarup" de Ruy Guerra (Ritz); "O Casamento" de Arnaldo Jabor retorna ao Groff (oportunidade de rever a bela Adriana Prieto, que morreu tão jovem). "Ligações Perigosas", de Stephen Frears, está agora no Guarani. No Luz, a mostra "Cinema & Revolução", promovido exclusivamente graças a Aliança Francesa, sobre a qual falamos em nossa edição de ontem e que é uma única oportunidade de se conhecer filmes franceses, em boas cópias (16mm), legendadas, de realizadores como Jean-Paul Rappeneau, de quem será exibido hoje "Aventura no Ano II" (Les Meriées de L'Ann II), produção franco-rumena de 1971, com Jean Belmondo, Marlene Jobbert e Laura Antonelli. Amanhã, sábado, o programa mais interessante: "1789", de Adriane Mnouchkine - um dos maiores nomes do teatro francês - que nesta reconstituição sobre o Ano da Revolução Francesa, utilizou o elenco de seu "Théatre du Soleil" com bonecos, numa curiosa experiência. Para hoje, o filme programado é "O Calvário de uma Rainha" (Maria Antoinette, Reine de France), que Jean Dellanoy realizou em 1955, com Michele Morgan e Richard Todd. Segunda-feira, "Assim Deus Mandou" (Le Dialogue des Carmelites), 1960, do romance de George Bernanos, com Jeanne Moreau, Alida Valli e Jean Louis Barralt a frente do elenco. Os filmes de terça-feira ("Danton, o Processo da Revolução", de Vajda) e quarta-feira ("Casanova e a Revolução", de Scola), já são conhecidos disponíveis inclusive em vídeo. LEGENDA FOTO - Jane Fonda é produtora e atriz de "Gringo Velho", a estréia nacional da semana. No Cine Astor.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
8
01/09/1989

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