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Gramado internacionaliza-se e Fernando Solanas chegará hoje

Gramado A internacionalização do Festival de Gramado começa da forma mais auspiciosa: além de seis importantes produções estrangeiras que a Distribuidora Belas Artes trouxe para suas primeiras exibições públicas no horário da tarde no cine Embaixador, uma dezena de produtores, diretores, distribuidores e intérpretes começaram a chegar ontem. O nome mais famoso deverá desembarcar no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, na manhã de hoje, vindo de Buenos Aires o diretor Fernando Solanas, consagrado realizador de "Tangos - O Exílio de Gardel" e "Sur" (já vistos em Curitiba), e que vítima de um atentado há 90 dias obrigado a interromper a finalização de seu novo longa, "El Viaje", que conta a história de um jovem (o ator argentino Walter Quiroz), que parte on the road pela América Latina teve seqüências feitas em São Paulo e em Serra Pelada, com produção executiva de Hernandes (Raiz Filmes). Recuperando-se dos tiros que quase custa sua perna (tem dificuldades para se locomover) Solanas aceitou o convite formulado pelo diretor-executivo do Festival, Esdras Rubin, para fazer uma escala no Rio Grande do Sul - a caminho do Rio de Janeiro, onde encontrará com o compositor Egberto Gismonti, convidado para fazer a trilha sonora de seu filme. Presenças internacionais Além de Fernando Solanas, dois outros diretores também são aguardados em Gramado: Tristan Bauer, diretor de "Depois da Tempestade" (Despues de la Tormenta), 1990, que obteve seis prêmios internacionais no ano passado (inclusive no Festival de San Sebastian, Espanha) - exibido ontem à tarde, e o cubano Enrique Pineda Barnet, diretor de "A Bela de Alhambra" (La Bella Del Alhambra), 1989, acompanhado da atriz Isabel Moreno. Baseado no romance "Canção de Raquel", de Miguel Barnet, mostra a vida musical de Havana nos anos 20 e 30 foi escolhido para encerrar a mostra internacional, amanhã. Terça-feira, foi exibido "Cabeça de Vaca", superprodução mexicana de Nicola Echeverria - indicado para o Oscar em 1990 (perdendo para "Cinema Pardiso" de Giuseppe Tornatore). Ontem o programa foi duplo: além do argentino "Depois da Tempestade", o cubano "A Lua no Espelho", 1990, de Sílvio Caiozzi. Hoje, será exibido um filme do mais famoso realizador da Índia, Satyajit Ray - "Os Galhos da Árvore" (Shakha-Proshaska), 1989 - que será o primeiro filme indiano (país que chegou a produzir mais de 600 filmes por ano) a ter lançamento no circuito comercial brasileiro (em Curitiba, cine Luz, dentro de 3 a 4 meses). Outros convidados internacionais: a produtora Anne de Skalov, do Chanel Four (que começa a co-produzir filmes no Brasil) chegou para integrar o júri de longas; os produtores Envar El Kadrik e Jorge Estrada Mora, e o distribuidor Hugo Kurnatsolp, todos de Buenos Aires, também vieram reforçar os contatos que, inteligentemente, Esdras Rubin, 48 anos, diretor de 8 das 19 edições deste Festival vem estabelecendo para fazer de Gramado o grande evento latino-americano de cinema. Em entrevista coletiva, na manhã de terça-feira, Edras detalhou o projeto de internacionalização que sem prejudicar o espaço para a produção nacional terá, a partir de 1992, de 7 a 20 filmes latinos (eventualmente também de Portugal e Espanha), que sejam adquiridos para distribuição no circuito comercial no Brasil, aqui tendo seus lançamentos num evento competitivo. Ao lado de 30 filmes em exibição, 200 convidados - incluindo nomes globais, que neste final-de-semana deverão provocar frissons do grande público, com Beth Faria e Antônio Fagundes (ator de "O Corpo", de José Antônio Garcia, melhor filme em Brasília que encerra, como hors concours, o Festival no sábado) - o Festival reúne também muitas pessoas preocupadas com a produção cultural - e suas relações com o mercado. A começar pela presença prometida para amanhã do secretário de Cultura do governo Collor, embaixador Sérgio Rouanet, cuja vinda a Gramado mostra o interesse de restabelecer o diálogo entre Estado e a intelectualidade brasileira. Aliás, para hoje, em Brasília, está prevista a assinatura da Lei 7.505 - que substituindo a extinta "Lei Sarney", já ganhou o nome de Lei Rouanet e volta a criar estímulos fiscais para investimentos no setor cultural. Portanto, o clima é de lua-de-mel - dentro da tradição, aliás, desta aprazível cidade turística (sempre incluída nos roteiros sulinos dos recém-casados entre os que fazem cinema, Estado e até uma classe que é considerada como "inimiga" do cinema brasileiro: os exibidores. Convidados pelo exibidor Mário Leopoldo dos Santos, líder do setor (dono de mais de 80 cinemas no Sul), uma dezena de donos de cinema terá hoje uma reunião a tarde no auditório Lupiscinio Rodrigues do Serrano Centro de Convenções, antes da exibição de dois dos mais aguardados médias-metragens em competição - "Guerra dos Meninos" de Sandra Werneck (sobre o assassinato diário de garotos de rua nas grandes cidades) e "Nosso Amigo Radamés Gnatalli", de Moisés Kendler e Aluísio Didier. Além dos exibidores, no encontro de hoje, participarão de cineastas, produtores e autoridades culturais do Rio de Janeiro - como o Sr. Tertuliano dos Passos, que junto com os cineastas e diretor Nelson Pereira dos Santos, Antônio Carlos Fontoura, Pedro Carlos Rovai e Marisa Leão, apresentarão o projeto estimulado pela Prefeitura do Rio de Janeiro da criação da Rio Filmes S/A, uma empresa de economia mista para suprir ao menos em parte o que a Embrafilme vinha desenvolvendo com alguma competência: a distribuição dos filmes nacionais. Há 18 meses, desaparecendo a estatal de cinema a produção cinematográfica brasileira ficou sem comercialização o que explica que filmes concluídos (e muitos premiados em festivais) nos últimos 3 anos estejam inéditos na maioria do Brasil. Uma situação tão dramática que levou seus realizadores a aceitarem o lançamento dos mesmos pela televisão (caso de "Dias Melhores Virão", de Cacá Diegues, exibido em rede pela Globo) ou vídeo - como Miguel Faria Jr.; diretor do premiado (12 Kikitos/1990) "Stelinha" (estréia prevista para amanhã, cine Ritz), a sair pela Abril Vídeo. Os Filmes Hoje, concorreram os longas cariocas "Matou a Família e foi ao Cinema", de Neville D'Almeida (melhor direção em Brasília, recebido com vaias) e "Não Quero Falar Sobre Isso Agora", de Mauro Faria. Os curtas serão "Esta Não é Sua Vida", de Jorge Furtado (o grande vitorioso há 3 anos, com o já clássico "Ilha das Flores") e "Aventura, Amor e Transporte Público", do paulista Bruno de André - e de cuja equipe técnica participou, como assistente de fotografia (de Carlos Reichenbach) a curitibana Heloisa Pessoa (hoje radicada em São Paulo, que foi assistente de Fernando Severo em "Os Desertos Dias", curta que abriu o Festival na segunda-feira). LEGENDA FOTO - Aluísio Didier, co-diretor e Radamés Gnatalli, durante as filmagens do documentário sobre o compositor gaúcho falecido em 3 de fevereiro de 1988.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
08/08/1991

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