Afinal, as eleições diretas (na Escola de Belas Artes!)
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de janeiro de 1988
Suzy Queiroz Lambach teve um ótimo reveillon. Na tarde de 29 de dezembro, ganhou 48 votos dos colegas da Escola de Música e Belas Artes do Paraná para encabeçar a lista tríplice da qual, finalmente, sairá a diretora da nova instituição que nasce da fusão da EMBAP e Faculdade de Educação Musical do Paraná. Os outros dois nomes da lista são também de mulheres, pianistas e professoras: Cloris Ferreira e Vânia Pimentel. Os professores dos cursos de artes plásticas recusaram-se a concorrer a direção.
Pela lógica, Suzy será a nova diretora da Escola de Belas Artes do Paraná, pois tem um bom curriculum, fácil trânsito político e reúne condições para fortalecer a instituição como merece - justamente neste ano em que à antiga EMBAP estaria completando seu 40o aniversário.
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Se, de um lado, o fato de ser a irmã caçula do vice-governador Ary Velloso Queiroz, pode significar um fator de críticas a sua indicação, por outro, a simpatia e o ótimo relacionamento que Suzy tem na área política - não apenas no Paraná, mas mesmo em Brasília (ali residiu por alguns anos), a faz a pessoa certa para a fase de transição da Escola de Belas Artes do Paraná.
Instalada num verdadeiro pardieiro na Rua Emiliano Perneta - justamente na quadra mais poluída sonoramente, sem as mínimas condições para desenvolver um bom trabalho didático, a antiga EMBAP só sobreviveu nos últimos anos graças ao entusiasmo de parte de seus professores. Desorganizada administrativamente, a escola sofreu na infeliz administração José Richa a maior agressão ao ser designada uma interventora, a explosiva advogada Lilian Schell, que designada pela ex-secretária Gilda Poli, da Educação, para o cargo, ali se aboletou e só agora é que vai sair, com a designação na nova diretora da Escola.
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É longa a crônica de violências e interferências na Escola de Música e Belas Artes do Paraná, que há muito necessita de uma sede condigna, com a especificidade dos cursos que ministra há quatro décadas.
A batalha pela restauração da dignidade da EMBAP - compurscada pela inexplicável e arbitrária manutenção por mais de dois anos de uma interventora (totalmente estranha aos quadros da Escola) - teve na Associação dos Docentes da Escola de Música e Belas Artes do Paraná um de seus poucos pontos de apoio. A presidente da ADEMBAP, pianista, professora e sobretudo pesquisadora Marisa Ferraro Sampaio, frágil aparentemente, vigorosa em seus princípios e disposição de lutar por aquilo que acredita, encabeçou vários movimentos para que a Secretaria Extraordinária de Ensino Superior, Ciência e Tecnologia - ao qual a EMBAP ficou subordinada no governo Álvaro Dias - solucionasse os problemas. Como o secretário Ascânio, procurado por várias vezes pelos dirigentes da Associação, não oferecia respostas concretas, em 14 de setembro de 1987, foi entregue, pessoalmente, ao governador Álvaro Dias, um documento assinado por 400 pessoas ligadas a comunidade da escola, distribuídas em 19 páginas, com reivindicações mínimas: cessar a intervenção; realização de eleições para a direção da EMBAP (o que não ocorria desde 1978); permitir que a comunidade da EMBAP pudesse, oficialmente, tomar conhecimento e se pronunciar quanto ao projeto de fusão com a Faculdade de Educação Musical do Paraná e, finalmente, providenciar o prosseguimento do processo de aprovação do regimento da EMBAP, elaborado em 1986 e retido, inexplicavelmente, no Conselho Federal da Educação.
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Embora apenas duas das reivindicações tenham sido atendidas - e a fusão da EMBAP/FEMP tenha contrariado professores e alunos, ao menos obteve-se a eleição para a direção da Escola. Afinal, desde 1978, quando a professora Henriqueta Penido Monteiro Garcez Duarte afastou-se da diretoria da EMBAP, sendo conduzido, em caráter "pró-tempore", o professor Fernando Calderari, esperava-se uma nova direção - democraticamente escolhida pelos professores. Em 1983, quando José Richa assumiu o governo, a arbitrariedade continuou. Embora na 91a reunião da Congregação dos professores tenham sido realizadas eleições - com a elaboração da lista tríplice liderada pelo professor Fernando Augusto Lacerda da Silva Carneiro - a mesma não foi respeitada.
O mais grave ocorreria alguns meses depois: o professor Henrique Morozowicz, outro diretor "pró-tempore", sem legitimidade no cargo, mas ao menos estimado integrando do corpo docente da Escola, foi afastado quando na indicação da advogada Lilian Schell (vinda de Londrina, sem qualquer ligação cultural ou didática com Curitiba), para a interventoria - cargo que, pelo visto, a agradou, tanto é que ali ainda permanece.
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Sem dúvida, Suzy Queiroz Lambach tem muitos desafios pela frente. Se em 1987 pode retomar sua carreira de recitalista e concluir um segundo livro didático ("Piano para Jovens e Adultos", editora Musimeios, Brasília, 120 páginas), de agora em diante terá que se dedicar em tempo integral para descascar o espinhento abacaxi musical que receberá nos próximos dias. A aprovação pelo Conselho Estadual de Educação do encalacrado regimento interno, reestruturação dos cursos, a delicada fusão com a Faculdade de Educação Musical do Paraná - no aproveitamento de professores daquela unidade e a luta para obter uma sede condigna a Escola - exigirão que Suzy tenha que ser também modelista: desenvolver uma luva que misture a pelica ao ferro, pois se a diplomacia (que possui) é necessária, indispensável também o rigor para que neste ano do 40o aniversário da antiga EMBAP, o Paraná volte a ter uma escola respeitável, e que possa, realmente, formar bons artistas e profissionais na música e nas artes plásticas.
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