Login do usuário

Aramis

... e aonde estão os filmes da Ribalta?

O crítico Francisco Alves dos Santos, responsável pela Sala de Exibição Arnaldo Fontana e programador do cine Groff, lembrou-se de que Claudio Eduardo Samuel Arruda, falecido em 1969, foi também um dos pioneiros de nosso cinema. E há semanas que o bom Chico, ex-seminarista, poeta e romancista, com vários documentários premiados em festivais nacionais, está tentando localizar alguém da família de Claudio Arruda que lhe possa dar informações de onde foram parar os filmes da Ribalta. Até agora, Chico não conseguiu a menor pista e pede, encarecidamente, a quem souber de algo que ilumine a sua procura que lhe telefone com urgência. Fone 223-2733, da Fundação Cultural de Curitiba, onde trabalha.   xxx   Quem foi Claudio Arruda? Já falamos várias vezes em nossas colunas, mas não custa lembrar mais uma vez. Homem criativo e brilhante, filho de Breno Arruda – primeiro juiz do Trabalho no Paraná. Claudio sempre foi apaixonado por cinema e pelo mar. Quando se cansou de praticar esportes marítimos (chegou a editar a primeira revista especializada, como aqui lembramos há algumas semanas), Claudio se voltou para o cinema. Em 1961, a televisão chegava em Curitiba e Claudio imaginou produzir filmes para o vídeo , já que a enxurrada de enlatados, da pior qualidade, o irritava. Fundou as Produções Ribalta que após dois endereços provisórios, se instalou na Rua Lysimaco da Costa, onde hoje existe um sofisticado edifício de apartamentos.   xxx   Por mais de 5 anos, Claudio tentou fazer filmes. Convidou todos os interessados, aglutinou atores conhecidos – Maurício Távora e Ary Fontoura, ali fizeram um filme média metragem de tema natalino e, generosamente, testou mais de 500 jovens e moças candidatos a se tornarem artistas. Realizou mais de uma dúzia de médias metragens, nas séries “ Quando As Lendas Criam Vida” e “ Encontros Com O Além”. O idealismo de Claudio consumiu sua fortuna e saúde. Lutando com dificuldades e sofrendo a concorrência de Screem Gens e outros grupos multinacionais, que sempre ofereceram pacotes de enlatados as televisões brasileiras, Claudio nunca viu seus filmes nos vídeos. Tentou o Exterior, buscou apoio oficial, mas nada conseguiu. Em 1969, acabrunhado, triste – mas não derrotado, sofreu um enfarte e morreu. Anos depois, a Embrafilmes – por determinação do então ministro Ney Braga, tentaria estimular a produção de filmes para a televisão. Generosas subvenções foram dadas a uma dúzia de realizadores e nenhum projeto foi aproveitado. Como se vê, o boicote ao cinema para televisão não atingiu apenas a Claudio – mas até a Empresa Brasileira de filmes nada pode fazer.   xxx   Quem acompanhou, como este repórter, a luta de Claudio Arruda em tentar implantar uma indústria cinematográfica para a televisão, sabe quanto respeito merece o seu idealismo. Sem buscar as tetas oficiais – ao contrário de tantos “gênios” tupiniquins, o bom Claudio tentou fazer cinema. Cometeu erros talvez [maiores], por acreditar demais nas pessoas, tinha limitações em seus projetos, mas realizou filmes cujos negativos trazem imagens de uma época não tão distante, mas que já é grande a saudade na retina de tantos. E aonde foram parar seus filmes? Homem de muitas paixões, Claudio viu sua herança disputada por muitos e sua última companheira, que o amparou em sua fase mais difícil, tentou preservar os filmes, após, inutilmente, tentar negociá-los. Mas de repente não se teve mais notícias a respeito e agora, quando Francisco Alves, em sua garimpagem para a memória cinematográfica de nosso Estado, tenta localizar as séries depara-se com uma ausência total de informações. Por isto, vamos ajudar Chico a preservar um pouco de nossa história cinematográfica. Ao mesmo tempo que o prefeito Jaime Lerner, cinemaníaco dos mais entusiastas, bem que poderia encaminhar a Câmara, uma mensagem sugerindo o nome de Claudio Arruda no mínimo para uma rua ou praça de Curitiba. Mais do que ninguém, ele merece esta homenagem.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
6
07/01/1982

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br