Artigo em 01.07.1977
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de julho de 1977
Desde sua estréia, na direção de um longa-metragem, com uma das muitas versões do cinema americano sobre o pistoleiro Billy "The" Kid, em 1941, onze anos depois de chegar a Holywood (onde começou como auxiliar de montador na Colômbia), até o recente "Amor Com Sabor Amargo" (cine Rivoli, até domingo, 5 sessões diárias), a carreira da David Miller (New Jersey, 1909) é das mais irregulares. Em [gêneros] e resultados, sua filmografia aponta momentos marcantes - como o nostálgico e mesmo ecológico western contemporâneo "Sua Última Façanha" (Lonely Are The [Brave]), 1962), com roteiro do extraordinário Dalton Trumbo (1905/1976) ou o surpreendente "A Morte De Um Presidente", corajosa visão do assassinato da visão do Kennedy (1917-1962). A desigualdade no trabalho de Miller pode ser sentida agora, frente a "Amor Com Sabor Amargo", produção de 1976, recém lançada no Brasil pela 20Th Century Fox e que, para o grande público, só tem um ponto de atração: o nome da veterana Lara Turner, aos 57 anos,num curto e inexpressivo papel - mas que nem por isso deixa de ter o seu nome destacado no material promocional.
A impressão que se tem, após assistir a "Bittersweet Love", é de que os roteiristas Adrian Morrel e D. Kellog fariam sucesso há 25 anos passados, trabalhando para a Palmex, em sua fase de ouro. Realmente, um roteiro com ingredientes do dramalhão como o que apresentam é daqueles que faziam a delícia do cinema mexicano dos anos 50, quando a argentina Libertad Lamarque e Pedro Armendariz (1912-1963), machucavam corações em filmes emoldurados pela fotografia perfeita de Gabriel Figueroa, com belíssimos por do sol em preto-e-branco nas telas estreitas do cinema ainda sem a sofisticação das lentes panorâmicas.
O tema proposto neste filme - Incesto - é sério e já dispõe de uma filmografia respeitável, relacionada, aliás, pelo professor Renê Dotti, em seu ensaio "O Incesto" (235 páginas, 1976, edição do autor). Do erotismo de "Não chore meu amor" (My Lover my son, Inglaterra, 69, de John Neyland), a cáustica visão de "Obrigado, Tia" (Grazie, Zia, Itália, 67, de Salvatore Zampieri) ou a sociológica apreciação de "Selvagem Despertar" (EUA, 75, de George C. Scott) o incesto tem tido diferentes apreciações. Mesmo no cinema nacional, Cecil Thiré, em 1968, colocou um ponto de vista social ("O Diabo Mora No Sangue") ao justificar o amor incestuoso de irmãos, perdidos na solidão amazônica.
Infelizmente, tanto aos roteiristas Morril/Kellog, como a David Miller, em "Amor Com Sabor Amargo" faltou profundidade na visão de um tema tão sério: o acaso que provoca o casamento de dois irmãos - filhos, obviamente de pais diferentes - soa falso, artificial e não chega nem a comover mesmo aos mais lacrimogênicos espectadores. A habilidade, jamais negada, de Miller em contar uma história, presenta nos primeiros 20 minutos, esvai-se no correr do filme e falta fôlego para manter o interesse: ao término da quinta bobina a monotonia começa a substituir o interesse e só mesmo com boa vontade o espectador chega ao final. Lana Turner, que resiste à idade (embora as rugas e olheiras tenham sua marca indisfarçável) repete o que fez na maioria de sua carreira: uma interpretação glacial, sem qualquer emoção. Afora ela, todo um elenco de nomes pouco conhecidos, resulta friamente, a não ser a novata Meredith Baxter Birney, que no difícil personagem "Patrícia" consegue raros momentos de emoção. A trilha sonor, acadêmica mas intensa, é de um novo nome que merece ser notado: Ken Wamberg.
David Miller, 68 anos, 47 de cinema, merece nosso respeito. Mas sinceramente, faltou fôlego neste "Bittersweet Love", melancólico e frustado em seus sérios propósitos.
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