Artigo em 17.10.1978
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de outubro de 1978
Se sinceridade vale pontos artísticos, Ângela Ro-Ro é a melhor cantora do Brasil atualmente. Afinal, que eu me lembre, nunca houve uma artista popular tão honesta em se assumir publicamente. "Biriteira" convicta, com experiências que fariam Emanuelle parecer aprendiz e tendo vivido muito tempo na "swinging London", de lavadeira de pratos a cantora-pianista de "pubs", esta carioca com rosto de menina, que 31 anos de boêmia não retiraram o frescor da juventude, é a grande sensação em termos de consumo musical. Antes de fazer seu primeiro lp (Polygram, 79) já era notícia e desde que seu disco começou a ser tocado (e como!) nas rádios, as principais revistas e jornais passaram a lhe dedicar espaço idêntico ao que reservavam até então apenas a superstars como Bethania, Elis Regina etc. Ângela tem talento: é boa pianista, sua voz tem uma "marca" pessoal e as letras de suas canções são audaciosas, falando dos muitos casos de amor (com mulheres) que a transformaram em um símbolo do movimento "gay" feminino (embora ela também não despreze a companhia masculina).
Os espetáculos de Ângela lotam, naturalmente. Seus discos vendem. Ela é uma simpatia. E agradável de ser ouvida. Mas de tudo isto fica um receio: até onde a exploração desta imagem não prejudicará sua carreira futura? Até onde haverá fôlego para agüentar tal barra? Fafá de Belém, bem mais discreta, entrou em parafuso e por culpa de um péssimo empresário, quase foi para o brejo. Só agora começa a se recuperar, aliás com um excelente lp "Crença", Polygram).
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