Astaire, a dança, o canto, o mito
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de junho de 1987
Para muitos jornalistas que, nestes últimos anos, tentaram entrevistá-lo, ele não era, absolutamente, o rei da simpatia. Mas o mau humor da velhice era desculpado quando se revia suas performances inesquecíveis em tantos musicais que ajudou a tornar clássicos.
Fred Astaire - na verdade Frederick Austerlitz, falecido na última segunda-feira, em Los Angeles, aos 86 anos, está naquela categoria dos ídolos que tão bem caracterizam a Hollywood mítica, a Usina dos Sonhos - e que teve nos musicais a sua melhor imagem.
A morte de Asteire fez com que suas biografias ocupassem espaços nos jornais desta semana. Nascido em Omaha, Nebraska, a 10 de maio de 1899, Astaire combinou a habilidade de dançarino, coreógrafo, cantor e ator - sendo assim um dos mais completos artistas para o mundo mágico dos musicais.
Em quase meia centena de filmes, que estrelou entre 1933, o "Dancing Lady" e "Voando para o Rio", neste já com Ginger Rogers - que seria a sua partner maior) a 1976 - como narrador de "Isto Também Era Hollywood (That's Entertainment - II)", Astaire deixou aquela imagem de elegância, com uma notável competência como bailarino em primeiro lugar, afinado e criativo cantor e bom ator - inclusive em papéis dramáticos, como aconteceu, em 1959, ao atuar no apocalíptico "A Hora Final" ("On the Beach"), que Stanley Kramer realizou com base no best-seller de Nevil Shuto sobre os últimos sobreviventes da Terra após uma guerra nuclear e posteriormente, faria novamente papel dramático em "Inferno na Torre".
Mas a imagem que o público guardará de Astaire é do bailarino extraordinário, no início de sua carreira com a irmã Adele e depois, com Ginger Rogers (Virginia Katherine McMarth, 77 anos e serem completados no próximo dia 16 de julho), juntos, nos estudios da RKO, fizeram uma séire de musicais "Voando para o Rio", "Roberta", "A Alegre Divorciada" (que trouxe em sua trilha a primeira canção a ganhar o Oscar, em 1934: "The Continental", de Conrad/ Herb Magidson), "Follow The Fleet" (que trazia no elenco até Randolph Scott, que depois se tornaria um famoso cowboy falecido há poucos meses), "Sing Time" (Ritmo Louco, 1936, com direção de Georges Stevens - que no futuro, faria clássicos como "Um Lugar ao Sol", "Os Brutos Também Amam" e "Assim Caminha a Humanidade"), "O Picolino", "Vamos Dançar?" e "Dance Comigo" ("Carefree"), dirigidos por Mark Sandrich (1900-1945), competente diretor de musicais daquela época.
Eram musicais ingênuos em suas histórias, rodados em preto-e-branco (a cor só chegaria para valer no final dos anos 60), que valiam basicamente pelas seqüências da dança.
Depois desta fase em que Ginger Rogers era a partner constante, Fred Astaire viria a ter outras maravilhosas mulheres-dançarinas, como Eleanor Powell ("Broadway Melody of 1940"), Rita Hatworth - falecida há duas semanas - em "You'll Never Get Rich" (1941), e "You Were Never Lovelier" (1942), Lucille Bremer ("Ziegfeld Follies", 1946), Judy Carland e Ann Miller ("Desfile de Páscoa/ Easter Parade", 1948), Vera Ellen ("Three Little Words, 1950), Jane Powell ("Núpcias Reais/ Royal Wedding", 1951), Cyd Charrisse ("A Roda da Fortuna/ The Band Wagon", 1953; "Meias de Seda/ Silk Stockings", 1957), Leslie Caron ("Papai Pernilong/ Daddy Long Legs") e Audrey Hepburn ("Cinderela em Paris/ Funny Face", 1957).
Astaire só voltaria ao musical em "A Caminho do Arco-Íris" ("Finian's Rainbow"), de 1968 - única experiência de Francis Ford Coppola na área, ao lado de Petula Clark - cantora inglesa que não emplacou e hoje está esquecida (este filme foi exibido segunda-feira, pela Globo, em homenagem a morte de Astaire). Com belas paisagens e uma história de toques mágicos, "Finian's Rainbow" foi uma espécie de adeus cinematográfico de Astaire pois embora continuasse a fazer filmes só voltaria ao musical como um dos narradores de "That's Entertainment" ("Assim Era Hollywood", 74) e na continuação ("That's Entertainment - Parte II", 1976).
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