Login do usuário

Aramis

A gauchização do Paraná (vamos nesta, tchê!)

O Paraná começa a se gauchizar. O verbo não existe mas pode ser conjugado a partir de algumas constatações que confirmam uma crescente escalada do tradicionalismo gauchesco subindo do Rio Grande do Sul para o nosso Estado. Evidentemente, que pela própria colonização das regiões Oeste e Sudoeste por migrações gaúchas nos anos 50 e, especialmente, 60, o tradicionalismo sempre encontrou terra fértil no Paraná. Entretanto, aquilo que era visto com um certo preconceito das populações urbanas, no Sul do Paraná, começa a ser, justificadamente, encarada como uma válida manifestação cultural. Mais de duzentas churrascarias na região da grande Curitiba - 80 das quais só na cidade - quase 20 "bailões" que animam os fins de semana - sempre com atrações vindas do Rio Grande do Sul - o fenômeno dos "costelões" que somente no distrito de Costeiro, em São José dos Pinhais, chegam a uma dezena e um mercado cada vez maior para cantores e músicos gaúchos confirmam que são os do Sul que estão chegando. Se o forró nordestino empacou em São Paulo - apesar das tentativas de regionalizar para cá este comportamento musical, entretenimento típico do Nordeste, o gauchismo tem mais identidade com a nossa população. xxx Um dos responsáveis pela maior divulgação do nativismo gaúcho no Paraná e, curiosamente, um jovem de 22 anos, paranaense de Pato Branco (filho de gaúchos, tchê!), Cesar Setti, que além da produção de um entusiasta programa de rádio ("Galpão da Estância", domingos, 20/22 horas, Rádio Clube Paranaense), vem estimulando eventos tradicionalistas. Por exemplo, foi quem convenceu ao fazendeiro Dinarte de Almeida Garret, "patrão" do CGT São Luiz do Purunã, a dar ao tradicional rodeio que promove desde 1963, um dimensão turística maior - como aconteceu neste ano atraindo milhares de visitantes. Agora, Cesar "7" - como gosta de ser chamado, movimenta várias entidades - CTG, Querência do Sul, Movimento Tradicionalista Gaúcho do Paraná e a secretaria de Turismo - para dar a I Tertúlia Crioula da Região de Curitiba ( 3 a 5 de julho, ao lado do terminal do Pinheirinho), uma dimensão artístico-cultural. Diz Cesar "7": - "Esta primeira edição será ainda modesta, sem caráter competitivo, mas valerá como uma reunião familiar e de amigos, na qual poetas, músicos, trovadores, contadores de "causos" se reúnam em volta do fogo de chão, sorveando o doce amargo do chimarrão e fazendo uma viagem sentimental as regiões, ao telurismo de nossos ancestrais". xxx Em agosto do ano passado, aconteceu em Campo do Mourão, o I Cante Terra, festival musical nativista, com boa organização e que chegou a ter as 12 finalistas gravadas para um elepê, ainda inédito e a ser editado possivelmente pela "Discoteca", etiqueta gaúcha. O "Cante Terra" foi uma manifestação importante de música nativista, capaz de estender ao Paraná o circuito de mostras competitivas que, há 16 anos, fazem com que o Rio Grande do Sul tenha uma intensa vida musical autônoma. Não nos cansamos de registrar em nossos espaços as importâncias dos festivais de música nativa, que a partir da Califórnia da Canção, em Uruguaiana - e que atingirá em dezembro sua 17ª edição - espalharam-se por todo o Estado. Numa saudável competição que adquire, inclusive, foros políticos - promocionais, cada prefeito procura fazer do festival musical de sua cidade um evento de maior repercussão, ganhando com isto os compositores e intérpretes que tem, só no Rio Grande do Sul, um mercado com mais de 3 festivais mensais, oferecendo prêmios dos mais atraentes. Assim, se a Califórnia da Canção é o pioneiro e mais famoso dos festivais, o município de Santa Rosa, na fronteira com o Uruguai, consolidou o seu Musicanto com os maiores prêmios oferecidos por um festival de música popular no Brasil: nada menos que um Ford Del Rey, do ano, equipadíssimo - e que hoje vale mais de Cz$ 800 mil - ao autor (res) da canção classificada em primeiro lugar. Também há ótimos prêmios (substanciosos) a todos os participantes, o mesmo esquema se repete em outros festivais - como a Tertúlia (Santa Maria), a Coxilha (Cruz Alta, onde o prefeito é o médico José Westphalen Correa, paranaense da Lapa), a Seara (Carazinho), entre tantos festivais que se multiplicam. Todos os festivais são registrados em discos - e isto explica a pujança da indústria fonográfica gaúcha que, somente nesta década, já conta com quase 900 elepês - o que somado a cerca de 4 mil gravações anteriores, prova de como os gaúchos sabem estimular, os seus valores. Compare-se com o Paraná, onde o levantamento discográfico (necessário, aliás, a ser realizado), dificilmente chegará a cem títulos, incluindo 78 rpm, compactos e elepês. xxx A propósito, alguns grupos nativistas, radicados no Paraná, começam a fazer suas gravações. Por exemplo, o Pratas do Sul, de Siqueira Campos, está divulgando seu elepê, ("Sempre Rio Grande", Copacabana) com músicas próprias. Os Gaúchos do Sobradinho, Macanudos do Fandango, o Oigga Tchê, sem falar no já veterano Ivan Taborda - ex-integrante da dupla Maragatos, e com vários elepês gravados, são dos mais requisitados para "bailões". De "bailões" particulares - como "Asa Branca" (São José dos Pinhais) e o "Del Rey" (trevo do Atuba), que cobram até Cz$ 150,00 o ingresso - a eventos promovidos por clubes tradicionais, como "A Noite Gaúcha", que a Sociedade D. Pedro II, realiza hoje a noite, são muitos os embalos nativistas que provam de que além dos 135 Centros de Tradições Gaúchas existentes no Paraná, muitos - e novos espaços se abrem aos schotessis, vanerões, bugios e outros ritmos que vem do Sul.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
27/06/1987

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br