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Aramis

Nativismo continua a crescer no Paraná

Na semana passada, o Movimento Tradicionalista Gaúcho do Paraná promoveu em Ponta Grossa o III Congresso Tradicionalista do Estado. Foi mas um passo na reestruturação dos CTGs no Paraná, que hoje já passam de cem unidades - metade das quais, pelo menos, com boa movimentação artístico-cultural. Embora os festivais nativistas ainda não tenham se firmado no Paraná - ao contrário do Rio Grande do Sul, onde já ultrapassam a cinqüenta eventos anuais - algumas manifestações mostram que, pouco a pouco, a identidade sulina vai sendo assumida. Em Campo Mourão, no ano passado, aconteceu o "I Cante Terra". Basicamente nativista, que teve suas 12 músicas finalistas gravadas em elepê que agora deve circular. Embora, este ano, o Cante Terra tenha sido cancelado - especialmente porque um de seus principais articuladores, o advogado Rubens Sartori, assumiu uma das diretorias da SUDESUL, em Porto Alegre, acredita-se que em 1988 o festival deverá voltar a acontecer. Em Clevelândia, a "Cigarra da Canção Nativa" vem assumindo, cada vez mais, suas características regionais, o mesmo ocorrendo em Pato Branco, cidade na qual um superficial e desorganizado festival promovido pela Rádio Celenauta está agora sendo tão bem realizado que neste ano foi editado até um álbum duplo, com as 24 músicas finalistas. Pena que o disco não teve qualquer distribuição, sendo difícil adquiri-lo mesmo nas lojas da região. Gilberto de Carvalho, 40 anos, poeta, animador cultural e dono da "Quero-Quero", uma das principais etiquetas voltada para a música nativista, está estudando com o radialista César Setti, produtor do programa "Galpão da Estância" (Rádio Clube Paranaense, domingos, 20/22 horas), a extensão de suas atividades no Paraná. Com um notável know how na área de eventos culturais com raízes na terra, Gilberto quer não só fazer os registros fonográficos dos festivais aqui realizados - decisão fortalecida após ter gravado a XV FERCAPO, em Cascavel (julho/87), como também estudar a implantação de um programa radiofônico, a nível estadual, semelhante ao que desenvolve no Rio Grande do Sul, com grande sucesso. Nestes últimos 5 anos, Carvalho produziu mais de 50 elepês documentando dezenas de festivais nativistas realizados no Rio Grande do Sul. Somando-se as produções de Ayrton dos Anjos, através da Continental e outras realizações independentes - além do modesto selo Pialo a fonografia gaúcha tem crescido de forma impressionante. E se nos registros ao vivo, feitos nas próprias cidades em que se realizam os festivais, apresentam naturais deficiências técnicas, a sinceridade e honestidade das interpretações compensam tais falhas. Da quantidade se revela a qualidade e graças aos festivais nativistas e seus registros em discos, tem surgido muitos talentos - alguns já em carreira solo. Paranaense de Pato Branco, filho de gaúchos, César Setti, no vigor de seus 22 anos, é hoje um dos maiores agitadores culturais em favor do nativismo. Tem participado do movimento tradicionalista, divulga compositores e intérpretes em seu programa na Rádio Clube Paranaense e, ao menos uma vez por mês, vem transmitindo com a potência internacional B-2, alguns dos melhores festivais gaúchos. Entre os dias 14 e 16 de agosto, da cidade de Santo Antônio da Patrulha, César transmitiu a Moenda da Canção Nativa, que premiou as músicas "Dança dos Trigais" (Marco Aurélio Vasconcelos / Jaime Vaz Brasil), "O Último Dia do Velho Xiru" (Antônio Carlos Machado / Enio Rodrigues) e "Os Bailes dos Matadouros" (Ivo Barros de Brum / Delci Taborda). Entre os festivais agendados por Setti para transmissão estão o Ponche Verde da Canção Gaúcha (Dom Pedri, 30 de outubro a 1º de novembro) e a 2ª Primavera da Canção Gaúcha (Caxias do Sul, 12 a 15 de novembro), sem falar nos dois maiores eventos nativistas do País: o Musicanto, em Santa Rosa e, no final do ano, a 17ª edição da Califórnia da Canção Nativista, em Uruguaiana. Falando em nativismo, a decisão do compositor e cantor Elton Saldanha, novo presidente do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, em proibir a participação de três dos mais respeitáveis estudiosos da música gaúcha em júris de festivais está provocando muita polêmica. Elton, alegando o "radicalismo" (em defesa dos valores tradicionais) de Paixão Cortes, Glenio Fagundes e Edson Otto, vetou sua presença nos festivais em que o IGTF dá o seu aval. Neste fim de semana, em Lages, SC, acontece o I FestInvern, que terá a participação de cinco concorrentes do Paraná. Foram selecionadas as canções "Boca do Lixo" (Hélcio Ribeiro / Elio Chaveste Jr.) e "Os Miseráveis de Vitor Hugo" (Maurício Galan / Rogério Carreira). De Ponta Grossa; "Estação Ecológica" (Arnaldo Machado / Walmor Góes), "Cidade" (Milton Karam / Carlos de Souza) e "Sentimento" (Angela Wolff), de Curitiba. Outro festival: a eliminatória do Paraná do Festival Nacional da Canção, promovido pelo Banco Nacional, acontece dia 12 de setembro, no SESC da Esquina. Edilson Silva Menezes e a bela Sara Arely de Oliveira coordenam o evento.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
30/08/1987

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