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Aramis

Afinal, o nosso Fercapo ganha o seu primeiro LP

Entre tantos fatores que fizeram o movimento nativista gaúcho se firmar como um dos principais fatos culturais na década de 70, foi a preocupação de seus organizadores em preservá-los através de gravações com as finalistas de cada festival. Assim, hoje é possível encontrar em qualquer das lojas da cadeia Discoteca, em Porto Alegre, todas as 16 edições da Califórnia da Canção - a mais antiga competição de música nativista do Rio Grande do Sul, além de dezenas de outros álbuns registrando festivais que vão desde os consagrados Musicanto (Santa Rosa), Tertulia (Santa Maria), Coxilha (Cruz Alta), Seara (Carazinho) - até eventos modestos, mas que tiveram suas músicas gravadas, senão em discos de gravadoras nacionais (especialmente a Continental, Polygram e Sigla-RSB), ao menos pelas etiquetas regionais, como a Pealo ou a Quero-Quero, esta de Gilberto de Carvalho, poeta, letrista, figura da maior presença na vida cultural gaúcha. E se a discografia gaúcha passa dos dois mil discos - 840 lançados nesta década - muito se deve a Airtom dos Anjos, o "Patinete", personalidade incrível na vida fonográfica do Sul. Produtor de mais de 300 LPs, entre discos de festivais, grupos vocais e instrumentais, cantores, solistas, tendo já passado por várias gravadoras, Airton hoje é diretor da Continental na região Sul, e graças a isto esta fábrica nacional tem hoje uma forte presença regional, com artistas de ótima vendagem. No ano passado, Airton, com seu know-how, veio ao Paraná para aqui gravar dois festivais: a XIV edição do Fercapo, em Cascavel e a primeira edição do "Cante Terra", um festival de características extremamente nativistas, realizado em Campo Mourão. O disco com as músicas do XIV Fercapo já foi lançado há dois meses e mesmo sem a promoção que o Tuiuti E.C. - entidade mantenedora deste evento - deveria fazer, está vendendo bem em toda a região Oeste/Sudoeste (em Curitiba, infelizmente, não teve a menor divulgação junto as rádios e jornais). Já o disco do "Cante Terra" ainda não saiu, o que deverá acontecer pelo selo Discoteca, de Nilo Oddone Sehn - que já lançou mais de 50 LPs de música gaúcha e prepara-se para colocar mais de 25 títulos na praça. Agora, produzindo o disco do "Cante Terra", Nilo começará a distribuir seus elepês no Paraná, onde existe um forte mercado para a música gaúcha (que o diga Edgar Bueno, da "Discolândia", de Cascavel, um dos maiores clientes deste gênero musical e que inclusive já produziu dois elepês com artistas da região). Idealizado por Luiz Picolli (gaúcho de Erechim, falecido em acidente rodoviário em agosto de 1979, aos 37 anos), o Fercapo é promovido desde 1971 pelo Tuiuti E.C. Começou modestamente, com um "Festival de Música Jovem" e hoje, organizado em bases sólidas, com juri do qual participam nomes nacionais da música e jornalismo especializado, é o grande evento musical competitivo do Paraná. A cada ano cresce o número de participantes, vindos de todos os Estados e, a partir de 1987, deverá ser eixo de uma série de eventos culturais paralelos. O jornalista Caio Gottieb, que disputou diversos Fercapos, interpretando as composições que foram vencedoras em 1972/79, hoje apresentador oficial da festa, no objetivo texto-encarte do disco, lembra que anteriormente foram produzidos compactos reunindo as músicas vencedoras em algumas edições: "Tempo, História, Hora e Lugar" e "Canção pela Paz" (II Fercapo, 73); "Ano 2000 d.c.", "Canção do Amor Ausente" e "Mensagem" (em 1975 e 1983). O FERCAPO é agora um evento consagrado e o entusiasmo com que o presidente do Tuiuti E.C., Jaime Martins de Andrade, e o ex-diretor administrativo, Jonas Pedreschi, deram a gravação deste disco ajudaram a consolidá-lo. O prefeito Fidelcino Tolentino, também é um animador do Fercapo, entendendo sua importância cultural para a sua cidade. Gravado ao vivo, no próprio Tuiuti E.C., pela equipe do Chico (Adherley Phives), dono de um estúdio volante em Florianópolis (que já lançou vários discos em Santa Catarina), o álbum com as finalistas do XIV Fercapo vale prinicipalmente como registro. A grande vencedora foi uma forte música de apelo nativista, "Ventania" (Dorneles e João Paraná), defendida por Geraldo Vaillati e o grupo Cigarra, de Clevelândia. Em segundo lugar ficou "Nossa Verdade", do compositor paranaense Nilson Chaves (já com 1 lp independente gravado) e em terceiro lugar "Dor de Amor" (Marco André). "Gabi" (Carlos Fábio), classificada em 5º lugar, está sendo a música mais divulgada do álbum, e conquistando o público. "Quem Saberá" (Luis Fontana), quarta classificada, também é uma canção interessante. A gaúcha Denise Tonon, uma das bonitas vozes da noite de Porto Alegre, pela segunda vez ficou entre as finalistas (em 1985, chegou a ser premiada) com "Asas do Amor". Silvana Veronese Marconi, de Cascavel, interpreta "Manhã" (Luciano Veronese/Cesar Nadal de Souza) e o Ceará (Cícero Jerônimo da Silva), veterano participante dos Fercapos, ficou também entre os finalistas com "Amigos, Amigos". Dois grupos vocais também entraram no elepê por terem sido classificados para a finalíssima, o Aliseos (com "Venda Valsa", de Jeanine de Bona da Cunha Pereira) e o Fel Melado com "Cavaleiro Tempo" (Maurício Galan/Elio Chaves). Completam o disco as faixas "Quem Saberá" (Omir Corrêa), com Luís Fontana; "Enigma" (Rico e Paz Helena) com Rico Dorileão e "Voz do Verde" (Osvaldo Zanueta), interpretada pelo autor. Valeu a iniciativa. O Fercapo, pela primeira vez, em 14 anos, ganhou seu elepê com as músicas finalistas. Que sirva de exemplo para outros festivais que se realizam no Paraná.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
01/02/1987

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