Garibaldi procura fusão para não virar uma ruína
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de janeiro de 1987
Curitiba poderá ganhar mais um (excelente) espaço cultural, localizado em área privilegiadíssima: pelo menos 500 metros quadrados da Sociedade Garibaldi, que desde o início do século é o ponto de referência dentro do Setor Histórico da cidade.
Para tanto, bastará que haja uma (difícil) concordância de alguns associados, como está, os dias da outrora gloriosa Garibaldi estão contados "e o seu destino poderá ser o de se transformar nas ruínas da Garibaldi, como já temos a vizinha ruínas do Alto do São Francisco" diz, em seu sotaque italiano o atual presidente Mario Cocchieri.
Com um quadro associativo de menos de 500 membros - 280 dos quais remidos e dos 220 apenas 150 pagando a mensalidade de Cz$ 25,00, há muito tempo que a Sociedade Giuseppe Garibaldi vive no vermelho. Sua sede, mais de mil metros quadrados, é majestosa mas apresenta imensos problemas de conservação - e uma reforma mínima não ficaria por menos de Cz$ 1 milhão. Com a atual arrecadação - apenas Cz$ 3.750,00 por mês - não consegue sequer pagar parte do salário de seus dois solitários funcionários.
O buffet explorado pelo Sr. Luis Pelanda, embora com bom movimento, pouco lucro traz a sociedade, já que o contrato foi benéfico apenas ao arrendatário - uma das razões pelas quais não deverá ser renovado em março próximo, quando vence.
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Assim, uma opção para que a Garibaldi não acabe definitivamente está em sua fusão com outra entidade. Já há alguns anos, o ex-presidente Luís Messagi chegou a estabelecer contatos de primeiro grau com o ex-presidente do Santa Mônica Clube de Campo, Ivo Arzua Pereira, para uma associação das duas entidades. As negociaçãoes não prosperaram por várias razões. No ano passado, o atual presidente Mário Cocchieri, engenheiro agrônomo, 60 anos, procurou o presidente Alberto Garcez Duarte, consultando-o sobre uma fusão com o Santa Mônica. De princípio, Garcez Duarte gostou da idéia - que já conhecia, aliás, pois havia sido vice-presidente na gestão Arzua Pereira, quando o assunto começou a ser discutido. Embora com um patrimônio imenso em sua sede as margens da BR-116 e mais de 8 mil sócios, o Santa Mônica se ressente de uma sede central. Se em termos administrativos já está acertando no centro de Curitiba a construção de amplo local, um espaço para sediar atividades culturais - com um auditório, moderno restaurante, biblioteca e mesmo ponto de encontro de seus associados, faz falta.
A Garibaldi, pela sua localização, poderia ser este espaço. Em compensação, os associados da Garibaldi ganhariam ações do Santa Mônica, beneficiando-se também.
De qualquer forma, Garcez Duarte, felpuda raposa política (prova disto foi sua boa performance nos programas do TRE, nas eleições em que disputou o governo do Estado), ficou no aguardo de que a Garibaldi fizesse uma assembléia geral para sondar a opinião de seus sócios. O Santa Mônica, por sua vez, assim que a Garibaldi tivesse um posicionamento, também faria uma pesquisa entre o corpo social para sentir se haveria interesse ou não da fusão.
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A assembléia geral, da Garibaldi, para discutir a fusão, foi marcada para o dia 26 de dezembro. Entretanto, 2 grupos de associados, por diferentes razões, não concordou, em princípio, nem com a idéia da fusão, nem com a data da assembléia. Assim enquanto a sra. Ivonete Ceccom - filha do ex-presidente Orlando Ceccom (já falecido) e outros, ingressavam com recurso judicial junto a 18ª Vara, dois outros associados, Carlos Papagna e Giuseppe Lanzollo também tomavam idênticas medidas, só que junto a 14ª Vara. Resultado, os juízes acolheram os recursos e concederam liminar, suspendendo a assembléia, conforme, na época, o assunto foi amplamente divulgado.
Logo nos primeiros dias de janeiro, a diretoria, através do advogado Romeu Alves Cordeiro, deu entrada de recurso para cassação da liminar, de forma que uma nvoa assembléia possa ser realizada. O processo ainda não foi julgado e o presidente Mário Cocchieri está aguardando o pronunciamento da justiça.
Entretanto, o assunto continua em discussão. As vozes dos que impetraram a medida judicial, somaram-se outros velhos e conservadores associados, especialmente o industrial Sinibaldo Trombini, também escritor e pintor. Em nome da tradição do clube, manifestam-se contra a fusão, embora conheçam a situação dramática da Sociedade, com caixa a zero, sem possibilidades de aumentar a receita e com problemas imensos - desde administração até a conservação do prédio.
Dificilmente a Garibaldi pode promover festas sociais, já que não dispõe de estrutura financeira para tanto. Seus sócios pouco frequentam o clube. E um imenso prédio, capaz de sediar várias unidades ativas, está praticamente ocioso.
Garcez Duarte, homem ligado a área cultural - ex-diretor do Teatro Guaíra e do Departamento de Cultura (quando inexistia a Secretaria), se dispõe a fazer daquele espaço uma área cultural, inclusive com um amplo salão de exposições e um auditório para um mínimo de 300 pessoas. Assim, tanto os associados dos dois clubes como a cidade - ganharão com esta fusão. Até uma proposta de alterar o nome do clube - Santa Mônica/Garibaldi - foi bem recebida.
LEGENDA FOTO - Trombini: inimigo da fusão.
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