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Aramis

A Sinfônica de Campinas interpreta Carlos Gomes

São raras as gravações de orquestras no Brasil. Mesmo a Sinfônica Brasileira, com toda agilidade do maestro Isaac Karabitchevsky, possui poucos elepês - e sempre patrocinados por empresas (o último foi gravado há 4 anos, com apoio da Companhia Internacional de Seguros). Por isto, é significativo que a Orquestra de Câmara de Blumenau, fundada há apenas seis anos e que tem o curitibano Norton Morozowicz como regente, já tenha feito cinco elepês da mais alta qualidade, os últimos dos quais patrocinados pela Boesch, com repertório de peças de dois dos maiores compositores brasileiros - o gaúcho Radamés Gnatalli e o paraense Waldemar Henrique. Para 1987, a Orquestra de Câmara de Blumenau deverá gravar mais três álbuns, dois patrocinados pela Basf (que está sendo o grande mecenas da instituição, permitindo sua profissionalização) e um pela Artex, com obras de Villa-Lobos. A nossa Osimpa - Sinfônica do Paraná - até hoje ainda não teve condições de fazer nenhuma gravação, embora exista uma boa idéia do pesquisador Alceu Schwaab, que possivelmente se concretizará na administração do professor Renê Dotti na secretaria da Cultura (enfim, com uma pessoa competente e voltada a importância de serem preservados os talentos do Paraná): uma série de álbuns com autores paranaenses. Para iniciar, ninguém melhor do que Bento Mossurunga (1879-1970), que apesar de ser nosso mais importante compositor, tem raríssimas gravações de suas obras, uma delas a valsa "Céus de Curitiba", que generosamente Silas Xavier incluiu no álbum "Bandas de Ontem & de Hoje", patrocinado pela Federação das Associações Atléticas do Banco do Brasil, há três anos (infelizmente, uma edição já esgotada). Frente a esta situação - em que as orquestras brasileiras (sejam as sinfônicas ou as de câmara), raramente são lembradas pelas gravadoras comerciais, é muito importante que a nova gravadora 3M tenha reservado o seu selo de prestígio, Scotch, para registros eruditos. O primeiro deles - um álbum com a Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas interpretando peças de Antonio Carlos Gomes, foi lançado há algumas semanas, acompanhado de uma campanha nacional de out-doors, numa mídia que prova do empenho da nova gravadora em fazer suas produções chegarem ao grande público. Gravado no Centro de Convivência Cultural de Campinas, entre os dias 25 a 28 de junho de 1986, este álbum com a Sinfônica de Campinas, sob regência de Benito Juarez é uma produção de Milton Miranda, o que é sinal de qualidade. Afinal, nos anos 60, como diretor artístico da Odeon, Miranda foi responsável por centenas de ótimos discos, prestigiando os melhores talentos da música brasileira. Afastado da fonografia, retorna agora, a convite de Moacyr Machado e espera-se dê continuidade a projetos especiais como este disco em homenagem aos 150 anos do nascimento de Antonio Carlos Gomes (Campinas, 1836 - Belém do Pará, 1896), que não tiveram, infelizmente, os registros fonográficos merecidos (tanto é que "O Guarani", sua obra mais famosa, continua ainda apenas com o registro feito em 1957, pela Chantecler). Cinco peças extraídas de óperas de Carlos Gomes, foram selecionadas para esta gravação da Sinfônica de Campinas: a Protofonia de "O Guarani" a mais conhecida das obras do autor campineiro, escrita em 1870; a abertura de "Salvador Rosa", a terceira ópera que Carlos Gomes realizou. Da ópera "Lo Schiavo" - estreada em 1870, em Milão - foi gravado o intermezzo "Alvorada". Escrita entre 1888/1889, foi uma chamada "peça de ocasião", dentro do sentimento abolicionista que se avolumava na Itália onde vivia Carlos Gomes. "Il Condor" foi a última ópera escrita por Carlos Gomes e sua última tentativa de se estabelecer como compositor em Milão. Embora encomendada pelo "La Scala", em 1881, nunca chegou a ser montada devido a problemas de produção. Desta ópera, a Sinfônica de Campinas executa o prelúdio do primeiro ato. Finalmente, temos a abertura de "Fosca", sua segunda ópera, que ao contrário de "O Guarany" não foi bem recebida - estreada em Milão em fevereiro de 1873. Uma oportunidade (rara) de se conhecer o lado sinfônico-operístico de Carlos Gomes, num elepê classe A. Que outras produções do mesmo nível tenham seqüência pela 3M.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
01/02/1987

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