Villa Brasil, o clássico com a regência de Morozowicz
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de setembro de 1987
Num País em que as orquestras se contam nos dedos e a música dita clássica, quando muito, atinge gravações que com 3 ou 4 mil unidades já são consideradas best-sellers, o fato de uma Orquestra de Câmara, fundada há apenas 6 anos, atingir o seu oitavo elepê e exibir um currículo com quase 100 concertos - incluindo entre os solistas que com ela já atuaram nomes de expressão internacional como Jean Pierre Ramapla, Maurice Andre, Ingrid Haerler, Arthur Moreira Lima e Antônio de Menezes, não deixa de ser fato dos mais significantes.
Assim, a Orquestra de Câmara de Blumenau, regida pelo curitibano Norton Morozowicz, e que tem entre seus 22 integrantes inúmeros paranaenses, pode se orgulhar de seu trabalho. Reconhecida pela crítica, requisitada para importantes concertos em todo o País, com amplas possibilidades de fazer suas primeiras tournés internacionais a partir de 1988, a Orquestra de Câmara de Blumenau lança neste fim de semana seu sétimo álbum - e o primeiro disco-duplo que faz, com patrocínio da BASF - e com dois concertos especiais em Curitiba, com a presença do compositor Camargo Guarnieri.
Villa Brasil - Ao discutir com o conselho artístico da orquestra e, especialmente, com a diretoria da BASF - (uma das mecenas da orquestra) - o projeto para este álbum duplo, Norton Morozowicz (Curitiba, 20 de janeiro de 1948) levantou uma idéia feliz: dentro das comemorações internacionais (maiores, aliás, das que estão ocorrendo no Brasil) e nacionais dos 100 anos de nascimento de Heitor Villa-Lobos (Rio de Janeiro, 05/03/1887-17/11/1959), corre-se o risco de serem esquecidas outras efemérides de compositores tão importantes como o autor da "Floresta Amazônica". Assim, a proposta de Norton - imediatamente aprovada - foi homenagear também os 90 anos de Francisco Mignone, nascido em São Paulo, a 3 de setembro de 1897 e falecido em fevereiro do ano passado, e os 80 anos de Mozart Camargo Guarnieri, a serem completados no próximo dia 1º de novembro - e que estará presente nos concertos, em Curitiba, neste fim de semana.
Ampliando ainda mais a visão de Villa e seus contemporâneos - Norton optou também pela inclusão no disco de peças da geração seguinte, justificando-se assim a "Suíte para Cordas" de Edino Krieger (Blumenau, 17/03/1928), o "Ponteio" de Cláudio Santoro (Manaus, 23/11/1919), a "Roda de Amigos" de César Guerra Peixe (Petrópolis, RJ, 18/03/1914) - aliás, o único grande nome da geração de Villa-Lobos que tem, corajosamente, feito restrições ao superenaltecido compositor e regente.
Em 1982, a Orquestra de Câmara de Blumenau gravou seu primeiro disco, com peças de Telemann e Vivaldi, ao lado de composições dos paranaenses Bento Mossurunga (1879-1970), e Henrique de Curitiba (Curitiba, 1937) e cearense Alberto Nepomuceno (1864-1920), a quem seria dedicado, posteriormente, todo um elepê, com peças inéditas - agora sendo reeditado pelo Instituto Nacional de Música / FUNARTE. Também está sendo reeditado por esta mesma instituição, o elepê patrocinado pela BASF, produzido no ano passado, com a Orquestra de Câmara de Blumenau, interpretando peças de Valdemar Henrique (Belém, PA, 15/02/1905) e Radamés Gnatalli (Porto Alegre, 27/01/1906).
Significativo que as grandes empresas venham não só mantendo a Orquestra de Câmara de Blumenau como também investindo na produção de discos de alto nível, numa prova incontestável do vigor que a mesma alcançou. Ainda este mês, será lançado um outro disco da Orquestra de Câmara de Blumenau, patrocinado pela Artex, com um programa exclusivamente dedicado a Villa-Lobos: as "Bachianas" nº 1, 5 e 9. No ano passado, a Bosh também patrocinou um álbum com peças de Bach, Gnatalli, Krueger e Henrique de Curitiba.
Para o álbum "Villa Brasil" - cujo lançamento em São Paulo acontecerá na próxima segunda-feira, dia 28, Norton escolheu duas peças de Villa-Lobos - o prelúdio das Bachianas Brasileiras nº 4" e a "Ciranda das Sete Notas para Fagote e Cordas", nesta tendo como solista Noel Devos; de Francisco Mignone foram escolhidas a "Dança do Camponês", e "O Miudinho", e de Camargo Guarnieri, "Ponteio" (nºs 36 e 48) (que não foi incluído no programa dos concertos de Curitiba) e uma estréia mundial, a "Improvisação" para flauta e cordas, dedicado pelo autor a Norton Morozowicz.
Preocupado com a falta de maior número de gravações de composições de autores brasileiros, da chamada música erudita, Norton explica sua filosofia de trabalho:
- "É necessário se empenhar na divulgação da peça de nossos grandes compositores. Existe um manancial de peças belíssimas, inéditas, e que merecem serem gravadas".
Em apenas seis anos na Orquestra de Câmara de Blumenau - da qual é regente titular desde sua estréia, no Teatro Carlos Gomes, a 12 de setembro de 1981, Norton vem cumprindo este projeto.
Clássicos em registros - Coincidentemente a edição de gravações patrocinadas por instituições privadas - como as que tem possibilitado a Orquestra de Câmara de Blumenau chegar a sete álbuns (um dos quais duplo) em apenas 6 anos de existência, uma nova etiqueta, a 3M, também está investindo no mercado de música erudita.
Após um primeiro registro com temas de Carlos Gomes, a Sinfônica de Campinas, regida por Benito Juarez, fez uma bela gravação de autores populares em roupagem clássica. Assim, foram registradas num belo tratamento "Travessia", "Maria Maria", "Coração de Estudante" e "Nos Bailes da Vida" de Milton Nascimento; no bloco "Baianos de Outrora", homenageados Caetano Veloso ("Baby", "Alegria, Alegria" e "Tropicália"); e Gilberto Gil ("Domingo no Parque"); em "O Fino do Choro", cinco momentos clássicos deste gênero, numa curiosa (e praticamente inédita) transposição sinfônica: "Pedacinhos do Céu" (Waldir Azevedo / Miguel Lima), "Chorando Baixinho" (Abel Ferreira), "Carinhoso" (Pixinguinha), "Lamento" (Pixinguinha / Vinícius de Moraes) e "Tico Tico no Fubá" (Zequinha de Abreu). O repertório é encerrado com a interpretação que o maestro Juarez dá de sete dos mais belos temas de Antônio Carlos Jobim, incluindo "Desafinado", "Garota de Ipanema" e "Samba de uma Nota Só".
A mais famosa orquestra do País - a Sinfônica Brasileira, fundada há 47 anos e desde 1969 tendo como regente titular o maestro Isaac Karabtchvsky, paulista, 53 anos, tem, infelizmente, uma pequena discografia. Dentro das dificuldades de gravações de música erudita no Brasil, os álbuns feitos pela Orquestra Sinfônica Brasileira ao longo de suas quatro décadas de existência, saíram quase sempre em pequenas tiragens, quase sempre com patrocinadores - e, portanto, difícil de serem encontrados. Portanto, significativo que a 3M, tenha também incluído em sua série de prestígio, selo Scotch, um álbum intitulado "Isaac Hits", com peças de fácil absorção pelo público, capaz de fazer desde álbum chegar a uma grande faixa de público. O repertório não poderia ser mais popular: "Danúbio Azul", abertura de "Carmen", prelúdio do "Lago dos Cisnes", abertura de "O Guarany", coral "Jesus, Alegria dos Homens", de Bach, "Alvorada" de Lo Schiav, a toccata "Trenzinho Caipira" das Bachianas, de Peter Gint, "O Amanhecer", da suite "Peer Gint", de Grieg e "Pompa e Circunstância", marcha militar de Edward Elgar.
Virtuose dos teclados, que há muito vem procurando unir o clássico ao popular, Arthur Moreira Lima (Rio de Janeiro, 16/07/1940) tem hoje uma discografia ampla, tanto no popular como no clássico. Gravando em várias partes do mundo, editando em parte seus discos (através da etiqueta L"Art), Arthur agora assinou contrato com a CBS, para o lançamento dos três primeiros volumes com a obra completa para piano e orquestra de Chopin - do qual é considerado um dos melhores intérpretes no mundo. Gravado na Bulgária Bulkanton, em junho de 1986, com a Orquestra Filarmônica de Sofia, sob regência de Dmitr Manalov, temos os três primeiros discos desta série, com os Concertos nº 1 (Opus 11), 2 (Opus 22), a "Grande Fantasia" (Opus 13), "Variações sobre um Tema de Mozart" (Opus 2), a "Grande Polonaise Brilhante" (Opus 22) e o "Krakowiak (Opus 14).
A Orquestra de Câmara de Blumenau, com a participação do consagrado compositor Camargo Guarnieri, faz uma apresentação hoje apenas para convidados. E outra amanhã, às 21 horas, no auditório da Reitoria, numa promoção da Pró-Música, aberta ao público. A orquestra apresenta em primeira audição a peça "Improvisação", que Guarnieri compôs especialmente para Morozowicz. Ingressos a 300 cruzados.
LEGENDA FOTO - Morozowicz regendo a Orquestra de Câmara de Blumenau: sétimo álbum.
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