Filó, um talento que merece ser aplaudido
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de maio de 1990
Filó (José Sérgio Machado), paulista de Ribeirão Preto, 39 anos completados no último dia 3 de fevereiro, é o exemplo daqueles talentos marginalizados pela (injusta) máquina do show buzines. Dono de uma voz personalíssima, compositor dos mais inspirados, apesar de já ter gravado dois elepês, é ainda pouco conhecido fora da noite paulista. Miudinho, lembrando até o Grande Otelo, este artista simpático e comunicativo, transforma-se quando, violão na mão, se põe a cantar. Sua voz é afinada e seu repertório lindíssimo.
Neste final de semana, uma oportunidade única de se ouvir Filó, embora em local um pouco barulhento: o bar Lancelot (Largo da Ordem). Ali, a partir das 22:30 horas de sexta-feira e sábado, Filó estará fazendo um show, que Olenka Braga, editora da revista "Coro de Cordas", está carinhosamente promovendo. Antes de Filó, a chance de conhecer uma revelação vocal, Naire Martins, 17 anos, vencedora do concurso de novos intérpretes que Olenka promoveu há alguns meses.
Falando em cantoras, enquanto o aguardado elepê de Adriana Calcanhoto ("Enguiço", CBS) dividiu a crítica - após o trabalho super profissional no lançamento de mais esta gaúcha constante, outra vocalista saída de Porto Alegre escala espaços maiores: Ana Isaura Gazola, 30 anos, nascida em Caxias do Sul e que como conta um de seus maiores fãs, Danilo Uchoa, editor do "Jornal da Noite", desde criança com o violão em punho, cresceu num ambiente musical, participando de importantes festivais como o Natura Som. Em 1982, trocou um curso de arquitetura por uma carreira que a levou a temporadas no Rio, São Paulo e outras cidades. Amiga da cineasta Eunice Gutman, criou a trilha sonora para o documentário "A Rocinha tem Histórias".
Hoje, seu curriculum mostra passagem por muitos e importantes espaços musicais, inclusive na Itália (Sardenha, Porto Cervo e Roma). Ainda não gravou, mas deve acontecer em breve como a nova revelação sulina em escala nacional.
Apesar dos novos tempos econômicos, em que as subvenções oficiais estão congeladas, os gaúchos dão mostra de organização e continuam realizando seus festivais. Aliás, mesmo quando patrocinados por prefeituras, os festivais nativistas do Rio Grande do Sul - que já chegaram a 60 anualmente - sempre tiveram uma autonomia financeira, em alguns casos - como o Musicanto, de Santa Rosa, e o Califórnia da Canção, em Uruguaiana - o mais antigo de todos - com sólidas estruturas.
Até agora, os gaúchos já confirmaram nada menos que 28 eventos nativistas, iniciados com o 7ª Aparte Sinuelo da Canção Nativa, em São Sepé, realizado nos dias 17 e 19 e que prosseguirá com a Tertúlia Nativista, em Santa Maria, neste final de semana. Nos dias 25 e 27 haverá o Carijó da Canção Crioula, em Palmeira das Missões.
Para junho, até agora, apenas um evento - o Bandoneio do Canto Ibiá, em Montenegro. Julho, em compensação, terá três festivais importantes: a Vindima da Canção Popular, em Flores de Cunha; o Ronco do Bugio, em São Francisco de Paula, e a 10ª Coxilha Nativista, em Cruz Alta.
Cruz Alta, cujo prefeito por muitos anos foi o médico José Westphalen, terá este ano algumas inovações. Uma delas é o I Gaitaço da Coxilha, criado para valorizar a música instrumental. Participarão executantes de gaita piano ou ponto, com acompanhamento de, no máximo, dois violões, bombo e pandeiro. Cada candidato poderá apresentar duas composições inéditas e o grande homenageado do evento será Tio Bilia, figura histórica do acordeon, presidente do júri, no qual estarão outros bambas do instrumento: Renatinho Borgheti, Gaúcho da Fronteira e Gilberto Monteiro.
Mara Fontoura, ex-Nimphas, está tão próspera como empresária do setor de gravações - é uma das sócias do estúdio Gramophone - que decidiu aplicar parte de seus recursos que não foram congelados pelo Plano Collor num restaurante de muitas bossas. Entretanto, Mara não abandonou a música: como compositora e intérprete continua fazendo belas canções e nos últimos três anos participou de produções independentes do Estúdio Verbo, de São Paulo - infelizmente sem distribuição comercial.
Incansável garimpeiro de preciosidades musicais e produtor de belos projetos, Jairo Severiano desenvolveu o álbum-disco "Canto Carioca", patrocinado pela empresa Carioca de Engenharia S/A, Christian Nielsen - Engenheiros e Construtores e Sanenge - que, anteriormente já haviam bancado um belíssimo álbum-livro sobre Vinícius de Moraes. O "Canto Carioca" reúne 12 músicas que enaltecem o Rio de Janeiro em interpretações originais de Zé Renato, Clara Sandroni, Eduardo Dusek e Quarteto Bessler-Reis. Um projeto que por sua importância merecerá posterior registro com maiores detalhes.
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