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Aramis

Essa gauchada de muita garra em suas canções

Cresce cada vez mais a música gaúcha. Do nativismo consagrado hoje em uma série de eventos dos mais bem estruturados (Califórnia da Canção; Musicanto, em Santa Rosa, Coxilha, em Cruz Alta etc..), há trabalhos urbanos dos mais desenvolvidos como provam os esplêndidos álbuns de Geraldo Flach ("Momento Mágico", Sigla), ou do conjunto Cheiro de Vida, sem falar nos compositores intérpretes de uma nova geração (Jerônimo Jardim, Ney Lisboa, Nelson Castro, Pery Souza etc..). Várias gravadoras já se voltaram para este grande mercado como a Sigla/Som Livre, associando-se à RBS-Zero Hora,com a competência do mais experiente record-man gaúcho, o estimado Ayrton dos Anjos ("Patinete") faz lançamentos mensais, atingindo somente com o lp da acordeonista Renato Borgheti mais de 120 mil cópias vendidas. Mas todasas gravadoras, espertamente, estão de olho neste mercado que se autofinancia dentro do próprio Estado, nem necessitando de venda externas par a justificar os investimentos. Não único festival de música realizado no Estado que não seja registrado em elepê e os compositores e intérpretes e sucedem em gravações. Ainda agora, dois discos trazem coletivamente amostragens interessantes. Em "Música Popular Gaúcha" (Sigla/RBS), Ayrton dos Anjos reuniu 12 jovens que vem se destacando com força. Um deles, Galileu Arruda, chegou já a fazer um elepê-solo na Continental, há dois anos, mas ainda não teve merecida promoção. Outro, Zé Caradipia, tornou-se famoso ao ter seu "Asa Morena" gravado por Zizi Possi em 82, mas agora mostra também sua bela voz em uma nova composição: "Diamante". Elaine Geissler, a grande revelação do Musicanto - 84 e que gravou no ano passado uma das 10 melhores músicas ("Horizontes"), está emocionante em "Brasileira". Outras boas cantoras entre tantos talentos gaúchos que o bom Patinete soube arregimentar neste lp: Glória de Oliveira em Lucides" (da dupla Fernando Ribeiro/Armando Sisson), Niaya ("Cristal Azul") e Susana Maria ("-Com Sua Licença"). Temos ainda uma faixa com o esforçado Mauro Kwitko ("Ikemlikidoa"), mais Giba-Giba e grupo ("Lucarejo"), Nico Nicolaiewski ("Feito Um Picolé No Sol"), Gelson de Oliveira ("Salve-se quem souber"), Sá Brito ("-Ser Ocidental") e Nando Gross ("Portoalegrense de Quintana"). Se "Música Popular Gaúcha" é um elepê pau-de-sebo, trazendo novos talentos numa amostragem geral, o "Canto dos Pampas" (Polygram/SBT) é uma montagem em outro plano: reune intérpretes já conhecidos do Rio Grande do Sul, todos com elepês gravados na Polygram dos quais foram extraídas faixas para este elepê que pelo selo Tropical vem sendo promovido através da TVS também buscando o mercado fonográfico do Sul. Assim temos o excelente acordeonista, compositor e cantor Luiz Carlos Borges, secretário de Turismo e Cultura de Santa Rosa e coordenador do Musicanto, em duas faixas das mais interessantes: "Noites, penas e guitarra" (título de seu lp lançado em maio de 1982), e "Romance na Tafona". Telmo de Lima Freitas, gaúcho de Bagé, para nós o compositor mais forte do Rio Grande do Sul, pode ser ouvido em sua belíssima "Prenda Minha". César Passarinho, um cantor crioulo, de Uruguaiana, vencedor de vários festivais nativistas como intérprete, defende o belíssimo "Negro da gaita" composição de Airtom Pimentel e Gilberto de Carvalho. Mário Barbara, compositor e intérprete que está entre os nomes mais constantes dos festivais nativistas, comparece em "Mala de garupa", enquanto o comunicativo Leonardo (acompanhado pelos Serranos) traz "Tertúlia"que venceu a Califórnia da Canção em dezembro de 1982. Noel Guarany, nome tão importante quanto violento da música missionera está em "Querência" e Elton Saldanha (e Euclides Fagundes Neto) defendem "Milonga". Elton Saldanha havia sido escolhido em outubro do ano passado para interpretar o personagem Rodrigo Cambará na telenovela "O Tempo e o Vento". Alto, boa pinta, imagem típica do gaúcho, Elton aparentemente era o ideal para viver o personagem. Entretanto, após as gravações dos primeiros capítulos, o diretor Paulo José foi obrigado a substituí-lo por um ator mais experiente. Agora, na contracapa do novo lp de Elton Saldanha ("Carborteiro Coração", Som livre/RBS), temos um mapa do Rio Grande do Sul, indicando os festivais nos quais Elton foi vencedor nos últimos anos. Nada menos do que dez dos mais importantes festivais nativistas tiveram a presença de Elton, que como compositor-intérprete ou apenas intérprete de belas canções de autores da força de Telmo de Lima Freitas ("Morena Rosa") é presença sempre respeitável em qualquer festival nativista. Cantor dos grandes temas nativistas - a amizade, o amor, a valorização dos pampas - Elton desfila neste emocionante elepê as canções que levou a festivais em Itaqui, Uruguaiana, Alegrete, Santa Maria, Taquara, Carazinho e outros. Produção musical cuidadosa, Elton convocou para dividir as interpretações outros talentos gaúchos. Por exemplo, a voz vigorosa de João Almeida Neto (impressionante semelhante com Nelson Gonçalves, seu conterrâneo de Uruguaiana) e Zé Caradipia estão em "Últimas Estrofes", Luiz carlos Borges participa de "Clarim Campeiro", vencedora da Ronda da Canção Nativista em Alegrete e também de "Chiquitita", que foi classificada num festival de Itaqui. Chaloy Jara apóia Elton em "Piá Benicio", enquanto Victor Hugo - cantor que breve deve ganhar seu primeiro lp-solo - se ouve na faixa de abertura: "Carboteiro Coração". Borges e Almeida Neto enriquecem a bem-humorada "Prosa de Campo". Um disco belíssimo e profundamente identificado com o que de melhor o Rio Grande do Sul possui este "Carborteiro Coração". São tantos os festivais nativistas, que justificam antologias com o que de melhor vem sendo apresentado. É o que a Acit, a ativa produtora montada há alguns meses em Caxias do Sul, fez em "Rodeio dos Rodeios", (Polygram/Fonobrás), reunindo compositores e intérpretes dos mais interessantes como Elton Saldanha ("João Cruzeira"), Leonardo ("Ascensão e Queda de um Ginete"), Renatinho Borghetti ("Bailinho na Capela"), Os Serranos ("Vaneirão da Noite Inteira"), Antônio Augusto Fagundes ("Causo do Padre Rómulo"), entre tantos outros. Qualquer registro sobre a música gaúcha seria incompleto sem a citação de Cenair Maicá. Cenair é o compositor - intérprete da região missionera - mas só que, ao contrário de Noel Guarany, pessoa extremamente violenta e de permanente mau-humor, Maicá é um compositor-intérprete simpático e afetivo. Gravemente doente há mais de um ano, Cenair acaba de ter algumas das melhores faixas que gravou nos dois álbuns feitos para a etiqueta Rodeio (da WEA), reeditadas num dos discos mais fortes da temporada ("Companheira Liberdade").
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Música
42
25/08/1985

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