Login do usuário

Aramis

Maysa sem lágrimas em momentos de amor

A abertura não poderia ser mais suave, embora até um tanto óbvia. No imenso auditório escuro, a projeção de um imenso close up com os olhos que sempre foram sua marca registrada. Chico Anysio, com voz clara, acentuada emoção, dizendo o poema que há trinta anos Manuel Bandeira (1886-1968) dedicou a sua musa na "Estrela da Tarde": "Os olhos de Maysa são dois não sei que dois não como diga Dois oceanos não pacíficos Maysa são dois olhos e uma boca". As imagens fixas são substituídas pela projeção de cenas de Maysa cantando "Chão de Estrelas". A câmara focando em primeiríssimo plano seus olhos, sua boca, toda a expressão de dramaticidade que a caracterizava como a intérprete-emoção. Iniciava-se, então, um espetáculo edição única, impossível de ser retransmitido em sua profundidade, em sua beleza de sentimentos - apesar da gravação integral por duas poderosas câmeras da Rede Globo, para o especial, reduzido e editado, visto ontem a partir das 22h30 em rede nacional. A festa de entrega do 3º Prêmio Sharp de Música, realizado na noite de quarta-feira, 15, no auditório do Hotel Nacional (São Conrado, Rio de Janeiro) teve, na homenagem a Maysa, a soma de um roteiro inteligente, excelentes intérpretes, a harmoniosa participação de Heartbreakers - discretamente apenas como orquestra de acompanhamento e, sobretudo, uma excelente direção de José Pozzi, hoje um dos mais criativos diretores do teatro brasileiro. Se há três anos, no mesmo local, quando da entrega dos prêmios na primeira edição, a inexperiência da atriz Carla Camuratti convocada para a direção, prejudicou o show em homenagem a Vinícius de Moraes (1913-1980) e, no ano passado, o espaço reduzido do palco do Golden Room criou atrapalhos, este ano a festa da Sharp encontrou o seu caminho para se transformar, também, num grande evento musical-visual. Afinal, quando o Grammy foi criado, nos EUA, em 1958, as festas de entrega do Oscar da indústria fonográfica americana, também demoraram para encontrar a direção certa em sua edição anual. Hoje, assim como as cerimônias do Oscar, o Grammy é um dos momentos do show business - tanto é que os direitos de transmissão foram comprados, a partir da segunda metade dos anos 80, pela Globo. Que, inteligentemente, já acreditou na promoção idealizada e produzida por José Maurício Machline, e a tem transmitido, embora em forma de especial, com uma montagem - eliminando ainda, claro, pequenas falhas. xxx O roteiro buscou textos e frases da própria Maysa Figueiredo Monjarin Matarazzo (São Paulo, 06/06/1936-Rio de Janeiro, 22/01/1977), capazes de mostrarem o perfil da moça que amava a música, a noite, a bebida e que, sobretudo, se integrou aos sentimentos do mundo, a emoção plena e total. Para as falas de Maysa, a escolha não poderia ser melhor: a grande atriz Irene Ravache. Só para alguns momentos, de uma espécie de "pensamento vivo", houve a colaboração da atriz Lúcia Veríssimo - que com Paulette e Chico Anysio - dividia a condução da festa. Depoimentos de amigos - como Ronaldo Boscoli - foram lembrados, assim como o lado alegre da compositora sempre foi destacado, num astral de mostrar Maysa sem lágrimas. Na platéia, a emoção em centenas de pessoas que tiveram a alegria de conviver com a grande homenageada. De Luisinho Eça, 54 anos - em sua primeira aparição pública após 4 meses em que esteve entre a vida e a morte, a dona Filomena Matarazzo Suplicy, 71 anos, irmã de André Matarazzo (1932-1965), marido de quem Maysa herdou o sobrenome artístico e pai de Jaiminho, hoje diretor da Manchete - e que, há 12 anos, quando ainda não sonhava em fazer carreira de televisão, já havia montado um filme com seqüências de programas de televisão, super 8 (cenas familiares, do casamento de seus pais, uma festa de aniversário) e momentos especiais de Maysa, que cedeu para as imagens que, na tela ampla reforçaram o visual emotivo do espetáculo. Ao final, Jaime foi chamado ao palco, ao lado de José Maurício Machline - o grande responsável pela promoção, que para 1991, terá outra grande mulher como homenageada - a divina Elizeth Cardoso. Musicalmente, a abertura foi dada por um novo quarteto vocal, "Quatro por Quatro", afinadíssimo - lembrando em seu estilo ao "Singing Unlimited" (e do qual faz parte Silvinha Araújo, voz afinadíssima), na interpretação do primeiro dos temas de Maysa - de sua autoria ou por ela imortalizados - que compuseram o roteiro desenvolvido por José Pozzi, naturalmente com sugestões de José Maurício, já que o vice-presidente de comunicação do grupo Machline, é também compositor e diretor de espetáculos musicais (como "Movie Melodies", com Jane Duboc, apresentado no último final de semana no Teatro da Lagoa, Rio de Janeiro, após mais de um mês de sucesso em São Paulo). Para interpretar a mais famosa das composições de Maysa, a escolha não poderia ser mais feliz: Paulinho da Viola. Antes de saber que seria o grande premiado da noite ("Eu Canto Samba", 7 indicações, ganhou em 4), o maravilhoso compositor-intérprete já estava emocionado. Tanto é que se enganaria na letra de "Ouça", falha que poucos perceberam mas que ele, honestamente, mais tarde, confessaria em público (e no sábado, em entrevista a Nade Nagle, na TV Manchete, voltaria a explodir). Renato Borghetti, cada vez melhor acordeonista, solaria um tema em homenagem a Maysa, enquanto Norma Benguel, vestindo vermelho, descalça, num gênero de cantora-bar anos 50, daria a "Franqueza" (Dennis Brean) uma interpretação cult. Emílio Santiago, a grande voz brasileira, procurou o estilo romântico em "Por Causa de Você" (Dolores Duran / Tom Jobim, 1957). Já Fagner e Elba Ramalho, presenças com o sotaque nordestino, fazendo soar um pouco estranhas as canções acostumadas aos nossos ouvidos por Maysa. Um sucesso que ela tanto valorizou - "Dindi" (Aloysio de Oliveira, 1960), embora originalmente lançado por outra cantora que, como ela, morreu num acidente rodoviário (Silvinha Telles, 1934-1966), foi lembrado por Ney Matogrosso. Intérprete também de standards internacionais, duas citações, quase no final: o ótimo Carlos Fernando em "I Get You Under my Skin" (George / Ira Gershwin) e, em sua própria voz - com imagens retiradas de um especial de televisão - "Je ne Quitte Pas" (Jacques Brel). Um espetáculo que, numa iniciativa democrática de José Maurício, não ficou apenas para os privilegiados convidados da festa de quarta-feira. Transformado em um especial de televisão, foi visto ontem por milhões de telespectadores. No final, Chico Anysio fez questão de lembrar uma de suas frases mais argutas: "Eu odeio as pessoas que entram num bar e não bebem. Eu odeio testemunhas...". Acrescentando "Um bar é um templo", Chico conclamou o público, em coro, a terminar: - "...entrou, tem que beber!" LEGENDA FOTO - Maysa: a lembrança emocionante na bela festa de entrega do 3º Prêmio Sharp de Musica.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
21/08/1990
Boa noite estou enviando ese email, pq gostaria muito q vcs enviassem para minha mãe fotos e algumas coisas q falem da vida do compositor! Ela assistiu o seriado da Rede Globo Maysa e gostou muito da historia e da vida do compositor que ela teve oportunidade de ler.... Espero resposta, um forte abraço para todos vcs! Ficaria imensamente feliz, se conseguise um email do compositor pq minha mãe é poetisa e tem lindos poemas e frases.... Abraços

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br