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Aramis

Troféu para todas veredas musicais

Paulinho da Viola (Paulo César Batista de Faria), às vésperas dos 48, cabelos enbranquecidos, elegantíssimo num terno marrom, emocionou logo no início do espetáculo em homenagem a Maysa, quando, com sua voz perfeita, interpretou as mais conhecidas das canções da inesquecível autora: "Ouça". Depois, foi a vez dele se emocionar: por quatro vezes recebeu as premiações que tinha todo direito - por seu maravilhoso álbum ("Eu Canto Samba", Barclay), que fez após uma parada de cinco anos em gravações. Na categoria samba levou os prêmios de melhor disco, música ("Quando Bate uma Saudade" - concorria com mais duas faixas de seu elepê); cantor (vencendo Martinho da Vila e Neguinho da Beija Flor, que foram os primeiros a cumprimentá-lo) e dando ainda a Cristóvão Bastos o troféu de melhor arranjador pelo mesmo elepê. A única categoria em que seu disco perdeu foi a de melhor projeto visual: o paranaense Elifas Andreato (indicado também por "O Canto das Lavadeiras") perdeu para Hélio Eichbauer por "Estrangeiro" (Polygram), que levou Caetano Veloso, smoking azul, falando o mínimo, também a subir ao palco para receber os prêmios de cantor e disco. "O Eterno Deus Mu Dança" (WEA), de Gilberto Gil, valeu a Jacques Morelembaun o troféu de arranjador na categoria MPB, que premiou "Oceano" (Djavan) como melhor música. Nesta categoria, foram premiados o MPB 4 ("Amigo É pra Essas Coisas", ao vivo) e Marisa Monte (revelação). Postumamente, e com todo mérito, Elizeth Cardoso, falecida a 7 de maio último (e a homenagem da edição 1990/91, do IV Prêmio Sharp) foi escolhida melhor cantora, pelo praticamente inédito "Ary Amoroso", produção de Hermínio Bello de Carvalho, lançado como disco-brinde dos Móveis Itatiaia, e que só agora sairá em edição comercial pela CBS. Paulo Valdez, filho de Elizeth, agradeceu e os aplausos foram emocionantes - pois como disse, "como Maysa, Elizeth está aqui, viva!". xxx As entregas dos prêmios começaram com a categoria infantil, com o público rindo em torno dos nomes ingênuos dos grupos concorrentes. O Fofinhos e Fofinhas ("Nossos Amigos os Animais", melhor disco) ganhou na categoria de melhor música ("A Abelhinha", de Maria Amélia / Frank). Egberto Gismonti não estava presente para receber os dois prêmios que mereceu: trilha sonora ("Kuarup") e solista ("Dança dos Escravos", EMI/Odeon) - e Chico Anysio disse que Gismonti estava na Alemanha. Na verdade, ele havia sido a última pessoa a falar ao telefone com Bráulio Pedroso, seu amigo e falecido na madrugada de terça-feira, o que o abalou, impedindo-o de comparecer à festa. O mineiro Marco Antônio Guimarães, compositor e líder do grupo Uakti, também não compareceu e, em seu lugar, foi uma bela loira de pernas brilhantes, para receber os prêmios de arranjo (elepê "Mapa") e grupo. Arthur Moreira Lima, discretíssimo, subiu para acrescentar mais um troféu em sua galeria de premiações, pelo álbum em homenagem a Radamés Gnatalli. Mas os aplausos calorosos, com muitos espectadores em pé, foram para o grande Chiquinho do Acordeon (Francisco Duarte), 72 anos, por mais de 30 integrante do sexteto de Radamés Gnatalli, premiado pela gravação de "Amo", melhor música instrumental, de seu belíssimo elepê - que lhe valeu também indicações a disco e solista. Dominguinhos, premiado como arranjador ("Vou te Matar de Cheiro", elepê com Elba Ramalho) e cantor ("Veredas Nordestinas"), na categoria regional, elegantemente, disse que "estava torcendo para que este prêmio fosse para Rolando Boldrin", também indicado. Elba Ramalho ganhou como cantora. Dois grandes momentos: Fagner e Luiz Gonzaga Jr., juntos no palco, recebendo o prêmio pelo elepê "Luiz Gonzaga e Fagner" e o veterano Tonico (João Salvador Perez), 71 anos, disse que ele e seu irmão, Tinoco (José Perez), 70 anos, premiados como melhor dupla regional (elepê "Mãe Natureza", Continental) estavam felizes por duas razões: o reconhecimento ao trabalho que fazem a nossa música e a coincidência de estarem comemorando na quarta-feira 55 anos de carreira. Em compensação, a única apresentação dada a artistas do Sul foi recebida com frieza: a ausência dos integrantes do grupo "Os Filhos do Rio Grande" ("Isto é Povão... Tchê"), melhor grupo, evitou o constrangimento de vaias dos que torciam pelo Olodum, como melhor grupo regional. Nando Cordel, ausente, foi representado por sua intérprete Elba Ramalho, para receber o troféu como autor da melhor música regional, "Jogo de Cintura", gravado pela cantora paraibana em seu elepê "Popular Brasileira". Na categoria de revelação masculina, a premiação foi para Israel Filho (elepê "Sonho Vadio"), na categoria regional. Fagner - que como Paulinho da Viola também participou do show em homenagem a Maysa, cantando um de seus grandes sucessos ("Franqueza", Oswaldo Guilherme / Denis Brean, 1957) - e anunciado por seu conterrâneo cearense, Chico Anysio como dono da TV Orós, subiu ao palco três vezes: além do álbum com Gonzagão, ganhou na categoria canção popular como cantor e disco ("O Quinze"), enquanto as demais premiações na categoria foram para Lincoln Olivetti (arranjador, "O Quinze"), Rosana (cantora, elepê "Onde o Amor me Levou") - ausente, e Placa Luminosa (grupo, elepê "Parece Real"). Moacyr Luz, parceiro de Aldir Blanc, subiu para receber o prêmio de melhor música - "Coração do Agreste", gravado por Fafá de Belém - que também não apareceu na festa. Beth Carvalho teve uma compensação por ver o seu "Saudades da Guanabara" vencido por "Eu Canto Samba" (Paulinho da Viola) como melhor disco: saiu como melhor cantora. E o Fundo de Quintal ganhou como grupo na categoria de samba. Djavan, outra ausência, teve ainda seu belíssimo "Oceano" escolhido como música do ano. Nas vezes em que foi premiado, coube a Sérgio Lopes, diretor da CBS, receber os troféus em seu nome. xxx Sem chegar ao exagero do Grammy que distribui uma centena de premiações, incluindo categorias como "melhor texto de contracapa" (desdobrado em gêneros) ou melhor "foto ou ilustração de capa", o Prêmio Sharp de Música amplia-se necessariamente também em algumas categorias - e para 1991, o setor clássico deverá ser privilegiado - pois este ano houve apenas uma indicação final - para o Quarteto Bessler-Reis (melhor disco). A intenção de José Maurício Machline na área da comunicação, apaixonado por música (já teve uma etiqueta, a Pointer, é autor de várias músicas gravadas e neste fim de semana estreou no Teatro da Lagoa, Rio, o show "Movie Melodies", com Jane Duboc), é que a premiação que idealizou adquira a mesma dimensão da que a Academia de Artes Fonográficas dos Estados Unidos, promotora do troféu "Grammy", realiza há 32 anos. Embora que, no caso, a festa - com um custo de mais de US$ 500 mil - só aconteça graças à disposição do grupo Sharp em investir na cultura. "Muitos amigos me indagaram, após as medidas do Plano Collor, se o Prêmio Sharp, a exemplo de outras iniciativas culturais financiadas por empresas brasileiras, não seria desativado este ano", contou Machline ao final. - "Ao contrário, mais do que nunca, achamos indispensável sua continuidade neste momento de crise de nossa cultura" - acrescentou, ovacionado pelo público. Aplausos tão intensos, quando, emocionado, José Maurício dedicou a noite a Lucinha Araújo, mãe de Cazuza - cujas citações, anteriormente, já foram recebidas com aplausos - como exemplo de mãe-coragem. Cazuza, melhor cantor em 1988, e que já gravemente doente, foi ao Copacabana Palace, no ano passado, para receber várias premiações (disco, música do ano, "Brasil"), postumamente, teve mais uma premiação: "Cobaias de Deus" recebeu o troféu como melhor música na categoria pop rock e Ângela Rô Rô, sua parceira, subiu ao palco. Anteriormente, Paulo Miklos, do Titãs - melhor grupo - também havia dedicado o prêmio ao "grande rocker brasileiro". LEGENDA FOTO - 1 - Paulinho da Viola: o grande vencedor do 3º Prêmio Sharp de Música como melhor cantor, disco e samba. LEGENDA FOTO 2 - Israel Filho: revelação masculina.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
2
19/08/1990

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