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Eldorado também para as melhores trilhas

Uma pergunta que os colecionadores de trilhas sonoras - uma confraria que se amplia cada vez mais no Brasil - não se cansam de repetir: por que a Warner não editou até agora a música de "Cinema Paradiso", de Giuseppe Tornatore, a obra prima do ano - sucesso tanto de público como de crítica e que vai encabeçar a lista dos melhores filmes do ano? Tão lindo quando o filme de Tornatore - uma crônica nostálgica sobre o cinema, o velho operador e um menino, no Interior da Itália - é a música que Ennio Morricone criou, com 15 temas próprios - e mais um "theme d'amour" assinado por Andrea Morricone. Gravado pela orquestra Unione Musicisti de Rome, esta trilha absolutamente perfeita tem um público ansioso, que busca edições importadas - até agora raras (só após 90 dias de consultas, obtivemos o CD, da edição prensada na Alemanha, pela Teldec (Record Service BmbH). Como "Cinema Paradiso", outras trilhas magníficas permanecem inéditas entre nós - embora o mercado tenha, sem duvida, ampliado-se nestes últimos anos, como não nos cansamos de aqui registrar. Por exemplo, a "Varese Sarabande", etiqueta que se dedica exclusivamente à edição de trilhas sonoras, chegou ao Brasil há dois anos, com um contrato feito pela SBK Songs, subsidiária da CBS, que, em poucos meses, lançou mais de 40 títulos, inclusive de alguns filmes com música de discutíveis méritos. A quantidade foi tão grande que não houve imediata absorção, levando a SBK, pouco a pouco, a desativar as edições. Antes que se lamente a ausência, houve uma substituição: o Estúdio Eldorado, ampliando cada vez mais seus catálogos, pegou o contrato da "Varese Sarabande" e, como resultado, trouxe as lojas, nos últimos 40 dias, as trilhas de cinco dos mais interessantes filmes do ano: "Conduzindo Miss Daisy", "Inimigos, uma História de Amor", "O Segredo do Abismo", "Meu Pé Esquerdo" e "Muito Mais que um Crime" (The Music Box), este ainda inédito em Curitiba. A Eldorado soube escolher trilhas que além de terem alto nível criativo são de filmes de sucesso - catipultados inclusive por indicações (e premiações) com o Oscar. Os dois primeiros a saírem foram "Conduzindo Miss Daisy" (Driving Miss Daisy), de Bruce Beresford, que apesar de ter sido o grande premiado este ano pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, foi injustiçado na área musical: a trilha de Hans Zimmer foi fantástica, especialmente seu tema central, facilmente assobiável e da maior comunicação. A trilha inclui, como música incidental, o belo "Kiss of Fire" (Lester Allen / Robert Hill) com Louis Armstrong), "Santa Baby" (Tony Phil Spring / Joana Jervitz) com Earthe Kitt e até um decalque da ópera "Rusalka" (Antonin Dvorak), "Song to the Moon" com a Czech Phillarmonic Orchestre, regida por Vaclav Neumann. O segundo lançamento da Eldorado foi a trilha de "Meu Pé Esquerdo", de Jim Sheridan, outro dos premiados (ator, atriz coadjuvante) com o Oscar. Pena que este álbum - a exemplo da trilha de "Sexo, Mentiras e Videotape" (lançado pela EMI/Odeon) esteja em falta nas lojas da cidade. O segundo pacote da Varese/Eldorado trouxe as trilhas de "Muito mais que um Crime" (Music Box), de Costa Gravas; "O Segredo do Abismo" (The Abyss), de James Cameron e "Inimigos, uma História de Amor" (Enemies, a Love Story), de Paul Mazursky. Maurice Jarre, autor da trilha de "Inimigos, uma História de Amor" - belíssimo filme baseado no romance de Isaac Singer (e visto apenas uma semana em Curitiba), é um dos mais conhecidos autores de trilhas sonoras, desde que começou sua carreira, há quase 30 anos. Nos temas musicais de "Enemies", Jarre captou o universo sonoro da comunidade israelita, em Nova Iorque, na qual se passa a história, com músicas perfeitamente integradas às imagens. Allan Silvestri é, até agora, um nome conhecido apenas de apaixonados por trilhas sonoras, embora já tenha feito as sound tracks de sucesso como "Uma Cilada para Roger Rabbit" e os três filmes da série "De Volta para o Futuro". Para o "Segredo do Abismo", Silvestri desenvolveu um trabalho diverso do que vinha fazendo para aquelas comédias destinadas ao público infanto-juvenil. Dentro da proposta de Cameron em realizar um filme de suspense, com 90% das ações ambientadas no fundo do oceano - e num misto de terror e angústia, encontrou a música perfeita de Silvestri, em alguns momentos lembrando Bernard Hermann, o grande compositor, já falecido, que era o favorito de Alfred Hitchcook. O sucesso de "Z", que Costa Gravas realizou há 22 anos, contribuiu para que Theoeorakis, um dos mais fortes compositores gregos, se tornasse um nome internacional. Realmente, o político filme denunciando a "ditadura dos coronéis" na Grécia, que abriu a Gravas as portas do sucesso, não poderia ter outro músico. Entretanto, a dobradinha grega não foi mantida, pois a proporção que desenvolveu outros filmes de impacto - a denúncia do stalinismo ("A Confissão / L'Aveu", 1970), as ditaduras do Cone Sul ("Estado de Sítio / Etat de Siège", 1973; "Desaparecido, um Grande Mistério / Missing", 1982), o colaboracionismo francês durante a II Guerra Mundial ("Seção Especial de Justiça / Section Speciale", 1975), e mesmo o dilacerante drama íntimo "Um Homem, uma Mulher, uma Noite" (Clair de Femme, 1979), Gravas procurou outros compositores capazes de passarem, em trilhas, o seu universo. Para seu penúltimo filme, "Muito mais que um Crime" (Music Box), intimista drama sobre os crimes do nazismo, Gravas convidou Philippe Sarde, francês que tem trabalhos excelentes - como as trilhas que fez para "Tess" (de Roman Polanski) e "A Guerra do Fogo" em que desenvolveu uma trilha rica em suas nuances. O próprio Gravas disse a respeito do resultado: "Esta é a primeira vez que trabalhei com Sarde, um grande conhecedor de música erudita. Pessoalmente, eu gosto de música erudita e de música folclórica - esta é a mãe de toda a música. Phillipe conheceu o grupo folclórico Muzzikas em Budapeste, e se entusiasmou com seu trabalho musical e o som de seus instrumentos. Ele conseguiu casar, com muita paixão, o "erudito" e o "popular" e a trilha ganhou uma alma própria".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
6
19/08/1990

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